Sexta, 26 Abril 2024

Análise: A Primeira Coisa Bela

Análise: A Primeira Coisa Bela

 

Dificilmente algum filme italiano consegue penetrar no mercado exibidor e passar algum tempo nas salas. Longe de ter uma indústria sólida como nos tempos áureos da Cinnecittá, o cinema italiano se mostra vez ou outra com algum filme mais premiado em festivais. Não é o caso de A Primeira Coisa Bela, que levou alguns prêmios em festivais italianos, mas nenhum ilustre.
 
 
Anna (Micaela Ramazzotti) é possuidora de uma beleza tentadora, o que pode lhe ocasionar alguns percalços nos relacionamentos sociais. Seus filhos também serão influenciados por tal beleza, uma vez que provocará a separação de seu marido e muitas outras. Assim desde cedo as crianças serão expostas a uma vida nômade pela Itália e fragilizados pela falta de uma raiz, seja ela familiar ou territorial.
 
Após anos de ausência, Bruno (Valerio Mastandrea) se tornou um professor melancólico e sua irmã Valeria (Claudia Pandolfi) busca-o para dar a notícia da fase terminal da mãe. Deste reencontro várias imagens do passado serão atualizadas na construção de um retrato psicológico dos personagens.
 
Uma grande produção que perpassa várias épocas, mas com um tom marcadamente dos anos setenta, desde as fontes iniciais à fotografia amarelada e com ruídos típicos dos antigos filmes caseiros. Dessa dualidade de épocas o contraste com uma sobriedade atual reforça a melancolia da vida atual de ambos os protagonistas, fracassados (ela, dependente de um marido qualquer, ele um viciado em drogas) em busca de um culpado para tal presente. Encontram na figura materna, impulsiva, que sempre deixa tudo atrás.
 
Como outros filmes italianos, recorre à beleza de suas mulheres para protagonizar um desejo impotente e/ou uma degradação social da mesma (Malena, 2000; Mediterrâneo, 1999; A Doce Vida,1960; Belíssima,1948, só para citar alguns). Os personagens no entanto não encontram o culpado, uma vez que o carisma da mãe a redime de toda a culpa, e tratam de buscar em si mesmos tal falhas.
 
O olhar de Bruno que percorre a trama e guia sua irmã e mãe através de uma sociedade machista recorre todo o filme em flashbacks e se atualiza numa fuga constante, seja pelas drogas, seja pela poesia, términos de relacionamentos.
 
Com um roteiro um pouco extenso, mas devidamente pautado em tensões familiares, o diretor e roteirista Paolo Virzi alinha o presente e passado de uma Itália vigorosa, mas fadada ao fracasso.
 
Uma atenção especial para a trilha sonora, com puras canções dos setenta que ajudam a fugir da realidade na busca constante por uma visão mais confortável do presente.
 
Serviço
A Primeira Coisa Bela (La Prima Cosa Bela, Itália, 2010, 122 minutos, 16 anos) 
 
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 2. 16h50.

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