Domingo, 12 Mai 2024

Exposição registra cotidiano dos Tupinikim e Guarani

Exposição registra cotidiano dos Tupinikim e Guarani

 



Em outubro de 2012, a aldeia dos Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, declararam sua morte coletiva como resistência ao despejo por ordem judicial. A carta com tal declaração foi destinada ao Governo e à Justiça Federal. Esse fato infeliz prova a incompetência do Estado brasileiro para cumprir a Constituição de 1988 e a omissão e o desconhecimento da sociedade perante essas comunidades.
 
Atos opressores como esse ainda são presentes na vida dos indígenas, que sofrem um intenso e difícil processo de resistência cultural diante das ameaças de desaparecimento provocadas pela dominação da cultura não-indígena. A partir dessa questão, o produtor cultural e fotógrafo Caio Perim começou um intenso trabalho de antropologia visual com as etnias Tupinikin e Guarani no Espírito Santo.
 
Junto com os fotógrafos Apoena Medeiros, Filipe Campos, Gabriel Lordêllo, Lígia Sancio, Matheus Costa, Zanete Dadalto, Syã Fonseca e Ana Paula Gonçalves, Caio produziu diversos ensaios a fim de despertar o interesse pela vivência, cultura e cotidiano dos grupos indígenas.
 
Intitulada Djadjo Kwaa Awã, a exposição fotográfica será aberta nesta quarta-feira (17), no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Apees). Haverá apresentações culturais Tupinikim e Guarani, mesa-redonda, artesanato e exibição de vídeos. A mostra é uma iniciativa de Caio Perim, um dos idealizadores do Linguagens da Terra, projeto de resgate e divulgação da cultura indígena da região de Aracruz, por meio de produções audiovisuais.
 
Caio conta que as fotos foram resultado de visitas às aldeias e de materiais de outros fotógrafos, que se aproximaram do projeto trazendo fotos que já tinham, de distintos momentos e anos. 
 
A ideia do projeto surgiu quando ele estava viajando pela Tailândia e se deparou com povoados de astral tranquilo e muita espiritualidade. “Essa experiência me despertou o desejo de impulsionar uma aproximação entre índios e não índios, principalmente os mais urbanos”, conta.
 
Recém-formado em Rádio e TV pela Faesa, o projeto Linguagens da Terra foi o seu trabalho de Conclusão de Curso e envolveu muito diálogo e entrevistas com os indígenas antes de começar de fato o trabalho prático. 
 

            
 
Caio contou com uma grande equipe, que como ele mesmo diz “trabalhou numa sintonia por demais além do esperado”. Em decorrência disso, o projeto foi aprovado no Programa Rede Cultura Jovem, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), e também na faculdade. 
 
Além da exposição fotográfica, durante o evento de abertura haverá uma mesa-redonda com alguns dos trabalhos existentes no Espírito Santo sobre os indígenas e as suas manifestações culturais. Participarão do debate índios Tupinikim e Guarani que comentarão a educação, a vida e a cultura nas aldeias. 
 
Durante o tempo que passou nas aldeias, Caio também promoveu oficinas audiovisuais porque percebeu uma demanda, em ambas as etnias, por capacitação técnica audiovisual para a divulgação de suas culturas para a sociedade. “Os índios preocupavam-se em informar para frear o preconceito e a discriminação sofridos nas relações interétnicas”, explica Caio. Os vídeos produzidos nesse período também serão exibidos na abertura.
 
A exposição foi batizada de Djadjo Kwaa Awã, um termo usado pelos portugueses para chamar os nativos que serviam de tradutores das línguas nativas para o português ou outros idiomas de colonizadores europeus. 
 
O nome também faz referência às duas maiores dificuldades que o produtor cultural passou: a linguagem e a comunicação. “Geralmente eu me comunico via os coordenadores Tupinikim e Guarani, que replicam as informações e ajudam a divulgar os eventos de meu projeto”, conta Caio. 
 


Entretanto, o idioma não foi empecilho para a produção do trabalho. Quando começou as oficinas, Caio conta que os índios ficaram um pouco tímidos, “mas logo a equipe passou a brincar mais com eles e o gelo foi sendo quebrado, eles se soltaram e se mostraram participantes disciplinados e divertidos”. O objetivo foi cumprido e Caio conseguiu ensinar as técnicas básicas para produção audiovisual.
 
Além da comunicação, Caio se preocupou em sempre manter um bom relacionamento com a equipe e também com os detalhes e a sensibilidade que um projeto de antropologia visual exige. “A equipe é sempre instruída no sentido de se relacionar de forma franca e seguir o tempo dos indígenas, que é claramente diferente do nosso”, afirma.
 
Durante a pesquisa, Caio descobriu que as comunidades indígenas não enfrentam problemas econômicos tão sérios e que a principal dificuldade nas aldeias é lidar com problemas sociopolíticos complexos. 
 
“Esses problemas sociopolíticos são intrinsecamente relacionados com as expressões artístico culturais, que é o foco do nosso trabalho. Portanto, posso dizer que o diferencial é conseguir desenvolver um trabalho que respeite os códigos existentes nesses âmbitos e contribua no sentido de reforçar a música, a dança, o artesanato, a cultura”, analisa. 
 
Entretanto, Caio ressalta que sua intenção não é incentivar que essas comunidades vivam da maneira que viviam há séculos, já que a cultura não é um fenômeno estático e todos têm o direito de escolha de como viverem suas vidas. “Meu objetivo é de colaborar com estes grupos no seu propósito de divulgar suas culturas para a sociedade que os envolve e não os compreende”.
 
PROGRAMAÇÃO
 
17h30: Apresentações culturais Tupinikim e Guarani
18h30: Mesa Redonda
20h: Exibição de vídeos
20h30: Abertura da exposição
 
Serviço
A exposição Djadjo Kwaa Awã será aberta nesta quarta-feira (17), a partir das 17h30, no Arquivo Público do Espírito Santo. R. Sete de Setembro, 414, Centro, Vitória. Entrada franca.

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