Livro resgata histórias de comunidade quilombola
Atualização: o lançamento do livro foi cancelado em função do falecimento, na tarde dessa quinta-feira (25), de um irmão da Dona Canutinha.
Maria Elvira Tavares costurou uma a uma as histórias do seu novo livro, No Tempo da Onça. Essa imensa colcha de retalhos foi formada pelos contos que ela ouviu durante o tempo que passou com a comunidade quilombola de Vargem Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim. “O livro foi resultado de um intenso trabalho de base e superação”, conta a escritora.
Encantada pelas narrativas da Mestre Canuta Caetano - ou Dona Canutinha - e de seu povo, Maria Elvira compôs sua obra e convidou o ilustrador Diego Scarparo para dar ainda mais vida às histórias com seus desenhos. O lançamento do livro está marcado para esta sexta-feira (26), na Biblioteca Comunitária de Vargem Alegre, no distrito de São Vicente. O evento é uma realização da Associação de Folclore de Cachoeiro de Itapemirim.
A confecção do livro foi um capítulo a parte. Maria Elvira conta que a comunidade estava passando por um momento difícil e de quase isolamento. “Houve um êxodo entre os habitantes, que migraram para as cidades em busca de uma vida melhor. Além disso, os tambores sagrados tinham sido levados por uma outra comunidade. Pura picardia!”, diz.
Dessa maneira, a líder do grupo Caxambu, Dona Canutinha, neta de Seu Canuto (fundador da comunidade), estava triste ao ver sua comunidade esvaziada e a autoestima daqueles que permaneceram no local estava seriamente comprometida. A partir de então, uma série de iniciativas foram realizadas no sentido de renovar os ânimos e reacender o grupo.
Em 2008, os grupos de Caxambu foram considerados Patrimônio Cultural do Povo Brasileiro. Um ano depois, foram reconhecidos como Mestres da Cultura Popular. Pouco a pouco o grupo foi se reafirmando novamente e revivendo suas manifestações folclóricas e suas festas tradicionais.
Nesse momento, Maria Elvira assumiu uma nova participação na jornada de superação da comunidade. Ela foi contratada como Contadora de Histórias, Psicopedagoga e Psicodramatista e passou a desenvolver um trabalho de escuta e provocação junto a Canuta e seus irmãos.
“Naquelas tardes de sábado, muitas histórias foram contadas, muitos sonhos foram sendo tecidos, muitas ideias foram sendo costuradas para se transformarem em realidade”, conta a escritora. No Tempo da Onça nasceu desses encontros, que reuniam todas as histórias e causos, tradicionais da comunidade.
“Minha preocupação era fazer desse ‘reconto’ um cartão de visitas para Vargem Alegre e de sua tradição de cultural popular”, completa a contadora de histórias. O livro foi a solução encontrada para concretizar esse desejo. A publicação foi viabilizada por meio da Lei Rubem Braga de incentivo à cultura de Cachoeiro de Itapemirim.
Foi aprovado, também por edital da Lei Rubem Braga, a criação da Biblioteca Comunitária de Vargem Alegre, onde vai acontecer o lançamento do livro. “O evento vai acontecer junto as crianças da Escola Municipal de São Vicente, que estão sempre pela biblioteca, tendo por anfitriã a Família Caetano e o seu Grupo de Caxambu”, conta Maria Elvira.
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