Tímida gestão cultural de Rodney Miranda ganha um ???recado???
Fosse em Vitória, ok, por lá eventos desse gênero já acontecem com alguma regularidade. É a capital, coração econômico do estado; concentra portanto o grosso dos atores sociais. Mas o ocorrido deu-se em Vila Velha, cidade de 460 mil habitantes (IBGE, 2013) com apenas nove salas de cinema (em shoppings) e nenhum teatro público operante.
A segunda edição do projeto Ponte de Cultura, realizado pelo Coletivo Canellada na noite da última sexta-feira (28) sob a Terceira Ponte, dentro da #2 Reviravolta Coletiva, foi um belo exemplo de que Vila Velha pode muito bem se expandir culturalmente e um recado silencioso à nova administração. Aos 10 meses de vida, a gestão cultural de Rodney Miranda (DEM) se mostra muito tímida.
É justo no entanto lembrar que o apoio da Prefeitura de Vila Velha estava lá (em seu Facebook, o coletivo a agradeceu), registrado no cartaz do evento, contemplado pelo Edital Caiu na Rede é Jovem, do Instituto Tamojunto. É um primeiro passo. Esperemos pelo segundo, o terceiro, o quarto.
Às 21h, cerca de 250 pessoas reuniam-se naquele vão de ponte entre a Avenida Champagnat e a Rua Henrique Moscoso, na Praia da Costa. Havia feira cultural (livros usados, LP’s usados, bolsas...), graffiti, poesia marginal e as atrações musicais Band Boys, Sob O Mesmo Sol e Mc Jack da Rua. Também muito skatista e, importantíssimo, muita bicicleta.
A presença da cultura hip-hop é notável: na apropriação do chão e das colunas da ponte pelo graffiti (apesar da advertência feita a certa hora pela produção para que se evitasse o muro das residências ao lado; alguém vacilou, um morador reclamou e a polícia chegou), numa incrível batalha de MCs, no show de Jack da Rua ou num improvisado breakdance ao som do indie-rock da Band Boys.
Por que dissemos isso tudo? Quem vive em Vila Velha sabe: não se trata de uma cidade feita exatamente para as pessoas. Daí a saudável surpresa de ver 250 pessoas se apoderando de um trecho de um trecho da Praia da Costa, bairro condenado a um bisonho paradoxo: o metro quadrado mais caro do município se ressente de qualidade de vida. A poluição sonora é intensa (trânsito, construção civil); a poluição veicular é incômoda.
Foi o que aconteceu por ter sido planejado mais pelo poder imobiliário que pelo poder público. O bairro hoje é um homogêneo paredão de concreto.
Foi o que aconteceu por ter sido planejado mais pelo poder imobiliário que pelo poder público. O bairro hoje é um homogêneo paredão de concreto.
Mais que isso, Vila Velha pode enriquecer um calendário cultural restrito a celebrações religiosas (Festa da Penha, Jesus Vida Verão) ou populares (Festa de São Benedito na Barra do Jucu). Celebrações legítimas, porém insuficientes. Faltam ações estruturantes. Revigorar a Lei Vila Velha Cultura e Arte, instituída em 2007 mas seis anos depois ainda com modesto impacto, seria outro passo além do “mero” apoio a eventos.
Revigorar também espaços como o Teatro Municipal de Vila Velha - que atualmente, e há um bom tempo, está cercado de toscas estacas de madeira, para evitar que moradores em situação de rua se fixem ali - ou a Casa de Cultura da Barra do Jucu, que, de repente, virou posto policial e, depois, posto de saúde.
Ao final da música O Congo da Cidade Perdida, o baixista da Band Boys, banda que encerrou a noite, comentou: “Essa música é uma homenagem a Vila Velha, que é uma selva”. Banhado em pessimismo, um verso da canção resume essa homenagem e traduz um sentimento canela-verde: “Deixa fluir a fúria primata, essa cidade um dia me mata”. Legítimo sentimento.
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