Quinta, 02 Mai 2024

Tímida gestão cultural de Rodney Miranda ganha um ???recado???

Tímida gestão cultural de Rodney Miranda ganha um ???recado???


Fosse em Vitória, ok, por lá eventos desse gênero já acontecem com alguma regularidade. É a capital, coração econômico do estado; concentra portanto o grosso dos atores sociais. Mas o ocorrido deu-se em Vila Velha, cidade de 460 mil habitantes (IBGE, 2013) com apenas nove salas de cinema (em shoppings) e nenhum teatro público operante. 
 
A segunda edição do projeto Ponte de Cultura, realizado pelo Coletivo Canellada na noite da última sexta-feira (28) sob a Terceira Ponte, dentro da #2 Reviravolta Coletiva, foi um belo exemplo de que Vila Velha pode muito bem se expandir culturalmente e um recado silencioso à nova administração. Aos 10 meses de vida, a gestão cultural de Rodney Miranda (DEM) se mostra muito tímida.
 
É justo no entanto lembrar que o apoio da Prefeitura de Vila Velha estava lá (em seu Facebook, o coletivo a agradeceu), registrado no cartaz do evento, contemplado pelo Edital Caiu na Rede é Jovem, do Instituto Tamojunto. É um primeiro passo. Esperemos pelo segundo, o terceiro, o quarto. 
 
Às 21h, cerca de 250 pessoas reuniam-se naquele vão de ponte entre a Avenida Champagnat e a Rua Henrique Moscoso, na Praia da Costa. Havia feira cultural (livros usados, LP’s usados, bolsas...), graffiti, poesia marginal e as atrações musicais Band Boys, Sob O Mesmo Sol e Mc Jack da Rua. Também muito skatista e, importantíssimo, muita bicicleta. 
 
A presença da cultura hip-hop é notável: na apropriação do chão e das colunas da ponte pelo graffiti (apesar da advertência feita a certa hora pela produção para que se evitasse o muro das residências ao lado; alguém vacilou, um morador reclamou e a polícia chegou), numa incrível batalha de MCs, no show de Jack da Rua ou num improvisado breakdance ao som do indie-rock da Band Boys.
 
Por que dissemos isso tudo? Quem vive em Vila Velha sabe: não se trata de uma cidade feita exatamente para as pessoas. Daí a saudável surpresa de ver 250 pessoas se apoderando de um trecho de um trecho da Praia da Costa, bairro condenado a um bisonho paradoxo: o metro quadrado mais caro do município se ressente de qualidade de vida. A poluição sonora é intensa (trânsito, construção civil); a poluição veicular é incômoda.



Foi o que aconteceu por ter sido planejado mais pelo poder imobiliário que pelo poder público. O bairro hoje é um homogêneo paredão de concreto. 
 


Mais que isso, Vila Velha pode enriquecer um calendário cultural restrito a celebrações religiosas (Festa da Penha, Jesus Vida Verão) ou populares (Festa de São Benedito na Barra do Jucu). Celebrações legítimas, porém insuficientes. Faltam ações estruturantes. Revigorar a Lei Vila Velha Cultura e Arte, instituída em 2007 mas seis anos depois ainda com modesto impacto, seria outro passo além do “mero” apoio a eventos. 
 
Revigorar também espaços como o Teatro Municipal de Vila Velha - que atualmente, e há um bom tempo, está cercado de toscas estacas de madeira, para evitar que moradores em situação de rua se fixem ali - ou a Casa de Cultura da Barra do Jucu, que, de repente, virou posto policial e, depois, posto de saúde. 
 
Ao final da música O Congo da Cidade Perdida, o baixista da Band Boys, banda que encerrou a noite, comentou: “Essa música é uma homenagem a Vila Velha, que é uma selva”. Banhado em pessimismo, um verso da canção resume essa homenagem e traduz um sentimento canela-verde: “Deixa fluir a fúria primata, essa cidade um dia me mata”. Legítimo sentimento. 

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