sexta-feira, outubro 11, 2024
21 C
Vitória
sexta-feira, outubro 11, 2024
sexta-feira, outubro 11, 2024

Leia Também:

‘Gestores da Educação agem como se pandemia tivesse acabado’, critica pesquisadora

Gilda Cardoso questiona sobre adequação dos protocolos de segurança das escolas à variante Ômicron

O predomínio da variante Ômicron na elevada velocidade de transmissão da Covid-19 no Espírito Santo, a exemplo do que ocorre em todo o país e no mundo, não fez ainda alterar os protocolos de biossegurança das escolas capixabas, mesmo a dez dias do início do ano letivo de 2022, marcado para três de fevereiro. 

A percepção é compartilhada por famílias, por entidades da sociedade civil e especialistas, e tem suscitado questionamentos ao governo do Estado e prefeituras a respeito de medidas que possam ser tomadas para preparar as escolas para as características desta quarta onda da pandemia, definida como uma “explosão de casos”, com aumento dos óbitos já sendo percebido, conforme destacou o governador Renato Casagrande (PSB) ao anunciar o 91º Mapa de Risco, vigente a partir desta segunda-feira (24). 

“Os gestores públicos da Educação, no nível estadual e municipal, agem como se a pandemia já tivesse acabado”, ironiza a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), doutora em Educação e coordenadora do Laboratório de Gestão da Educação Básica (Lagebes/Ufes) Gilda Cardoso. A Ômicron é menos letal que as variantes anteriores para quem está com o esquema vacinal completo, mas é muito mais transmissível, sublinha a acadêmica. 

“Vejo com preocupação a retomada das aulas no início de fevereiro sem que se discuta a distribuição de máscaras mais seguras e que sejam adequadas para os estudantes, máscaras mais filtrantes. As máscaras de pano devem ser trocadas por máscaras mais filtrantes, por recomendação de especialistas”, salienta, comentando ainda a ausência de investimentos mais robustos na ventilação dos espaços onde os alunos estarão interagindo a partir de três de fevereiro. Até o momento, prevalece o comando de abertura do ano letivo com lotação total das escolas, 100% dos estudantes em sistema 100% presencial, sem opção de revezamento e ensino híbrido. 

“No calor que faz em Vitória, retomam as questões sobre instalação de ar condicionado e todas as que a gente já alertou em outros momentos da pandemia. A distância de 1,20 entre carteiras é suficiente agora? Se houver contágio, ainda que sem letalidade, e professores tiverem que ser afastados, estados e municípios estão organizados pra suprir a falta desses professores no período de isolamento, mesmo que estejam com poucos sintomas? A testagem sistemática, vai ser feita?”, elenca a pesquisadora, lembrando das dificuldades enfrentadas pela população em geral para conseguir testar, havendo muitos casos de longas horas de espera. São questões que me parecem não estão sendo colocadas na pauta do planejamento do ano “letivo de 2022, que já está pra acontecer na semana que vem”, reafirma. 

Gilda Cardoso cita situações que alguns países do hemisfério Norte estão enfrentando no retorno das aulas com a Ômicron. Nos Estados Unidos, segundo informou a Folha de S. Paulo, algumas instituições decidiram não retomar aulas presenciais, e outras sofrem com a falta de mão de obra, já que muitos professores precisam se afastar após contrair a doença.

“No Texas, um distrito escolar da cidade de Kyle, a 35 km da capital Austin, teve que pedir aos pais dos alunos que se tornassem professores substitutos. Na semana passada, a organização que administra os colégios locais enviou um email às famílias incentivando os responsáveis a se inscrever para as vagas”, noticiou a Folha, em 14 de janeiro.

Um dia antes, a revista Exame e outros jornais de âmbito nacional abordaram a greve sanitária empreendida por professores franceses. “Chegamos a tal nível de exasperação, cansaço, e raiva que não temos outra opção senão organizar uma greve para enviar uma mensagem forte ao governo”, reportou a Exame, com depoimento atribuído a Elisabeth Allain-Moreno, secretária nacional do sindicato de professores SE-UNSA, no país.

A epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel também já declarou em suas redes sociais o espanto diante da falta de investimento, em âmbito nacional, nas escolas em relação à maior ventilação, distribuição de máscaras mais filtrantes e um programa de testagem sistemático da comunidade escolar, como ocorre nos Estados Unidos e países da Europa, com 100% das pessoas sendo testadas duas vezes por semana. 

A testagem, apesar dos limites impostos pelo orçamento federal brasileiro, poderia ser implementada no Estado, provavelmente com uma frequência menor que no norte do planeta, talvez com testagem por amostragem e uma vez por semana. 

No caso de São Paulo, que já abriu o calendário em janeiro, a recomendação de Ethel foi pelo adiamento da data. No Espírito Santo, marcado pra fevereiro, o pleito da epidemiologista é pela testagem sistemática. Mas sem esse programa, ainda assim é seguro abrir o ano letivo dentro de dez dias?

A pergunta é feita pela Associação de Pais de Alunos do Espírito Santo (Assopaes), que realiza nesta terça-feira (25) a primeira assembleia estadual do ano, de forma remota, onde as famílias poderão discutir uma proposta ao governo do Estado de oferecer a opção de revezamento de alunos nas salas de aula, com sistema híbrido de ensino. 

A suspensão total das aulas presenciais já foi definida pela Universidade Federal e o Instituto Federal (Ufes e Ifes), diante do aumento da velocidade de transmissão do vírus.

Mais Lidas