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Eucalipto transgênico pode provocar danos imprevisíveis ao ecossistema

A falta de informações sobre o comportamento na natureza do eucalipto transgênico da FuturaGene, empresa do grupo Suzano Papel e Celulose, que tem plantações no norte do Espírito Santo, pode representar ameaças ambientais imprevisíveis de longo prazo para ecossistemas ricos em biodiversidade. A afirmação é do engenheiro agrônomo João Dagoberto dos Santos, que esteve presente na audiência pública da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) sobre o transgênico, nessa quinta-feira (4), em Brasília.

 
O processo genético foi desenvolvido com o objetivo comercial de aumentar a produção de celulose em maior escala e em menor tempo e, sem o conhecimento de suas características, pode causar danos imprevisíveis ao ecossistema, como retratou o engenheiro. De acordo com ele, nas fazendas de eucalipto não se registra o mesmo padrão de controle ambiental verificado nos imóveis rurais pertencentes às companhias.
 
O encontro é parte do processo de liberação comercial do eucalipto geneticamente modificado e, de acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), porta-vozes da empresa já declaram que a FuturaGene não realizou, por exemplo, estudos específicos para comparar o consumo de água da variedade transgênica com a variedade convencional.
 
De acordo com o jornal Valor Econômico, em sua edição online, representantes da cadeia produtiva do mel se posicionaram contra a liberação da variedade. Como explica a reportagem, de 25% a 30% das 50 mil toneladas de mel produzidas no Brasil provêm do néctar das flores de eucalipto e, com a liberação da prática, o produto das abelhas se tornaria automaticamente transgênico. Desse modo, o mel transgênico não mais poderia ser exportado para países europeus, que restringem importações de organismos geneticamente modificados.
 
O Valor afirma que, para a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), o Brasil tem grande competitividade no mercado internacional do mel devido à grande produção da variedade orgânica, que responde por 80% do mel nacional exportado. Portencial que seria prejudicado com o selo de transgênico.
 
Em junho, diante da notícia de que a FuturaGene havia apresentado à CTNBio a solicitação para plantio comercial do eucalipto transgênico, entidades da campanha Justiça nos Trilhos prepararam uma carta aberta exigindo que não seja autorizada a liberação comercial desse tipo de eucalipto.  De acordo com o texto, os organismos GM são experimentados em campo há anos pela Suzano e outras empresas como a Aracruz Celulose (Fibria)) e ArboGen.
 
Suzano e Aracruz Celulose respondem, juntas, pelo modelo de desenvolvimento representado pelas monoculturas de eucalipto no Estado. Nos municípios do extremo norte do Estado, são repetidos os impactos sociais e ambientais já conhecidos das comunidades tradicionais da região, principalmente quilombolas do antigo território do Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.
 
Em 2006, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) alertou que a Aracruz Celulose já começava a plantar eucalipto transgênico no Espírito Santo. Essa variedade geneticamente modificada aumenta os danos ambientais, intensificando a secura e a exaustão do solo, uma vez que a colheita da planta acontece a cada cinco anos, dois a menos do que as plantas produzidas com superclonato. 
 
A redução da água e dos nutrientes do solo, além dos danos à fauna e à flora causados pelo uso excessivo de agrotóxicos, são características dos cultivos de eucalipto em todo o mundo. O uso excessivo de agrotóxicos também afeta a saúde das populações quilombolas, indígenas e de pequenos agricultores no Estado, que também convivem com a usurpação de terras. O eucalipto, por si só, produz uma toxina que impede o desenvolvimento de outras espécies vegetais em suas proximidades e suas folhas só são consumidas por algumas pragas, como as formigas, e por espécies do seu ambiente de origem, a Austrália.

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