Sexta, 17 Mai 2024

???A nova política das redes não consegue mexer com a velha política???

???A nova política das redes não consegue mexer com a velha política???
Rogério Medeiros e Renata Oliveira
Fotos: Gustavo Louzada/Porã
 
O movimento das ruas de junho deste ano criou uma expectativa nos meios políticos de que a insatisfação de uma parcela da população pudesse pressionar uma mudança de comportamento já na eleição de 2014. Mobilizado pelas redes sociais, esse movimento teria uma influência na composição do cenário eleitoral. 
 
Mas, para o professor de Políticas Públicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Roberto Garcia Simões, essa expectativa pode ser frustrada, porque haveria uma avaliação superestimada da influência das redes sociais no processo político. Ele entende que essa movimentação na internet se tornou tímida, abrindo espaço para que a classe política retomasse suas estratégias tradicionais. 
 
Nesta entrevista a Século Diário, o professor mostra como o movimento refluiu e a incongruência que será encontrada no processo político do próximo ano. 
 
Século Diário – O Brasil vive um momento de ascensão de um movimento nas redes sociais que demonstra total ojeriza à classe política tradicional. Como vai ser, nesse sentido, a eleição do próximo ano no Estado?
 
Roberto Garcia Simões – Eu tenho a sensação de que há uma mudança que as redes sociais trazem, em um sentido amplo. A minha dúvida é se não estamos superestimando esse processo. É lógico que antes você tinha várias outras redes, antes do vigor das redes sociais. Você tinha os partidos, corporações que elegiam candidatos, o processo religioso, que cresceu muito...enfim, uma magnitude de redes que elegiam a seu modo seus candidatos. As  redes sociais abrem uma cunha nesse processo, mas eu não sei o tamanho dessa cunha neste momento. Acho que essa é a primeira indagação. Tem muita gente apostando nas redes sociais e isso pode não trazer os resultados esperados, a não ser para determinados segmentos das redes sociais. 
 
– Por quê?
 
– No Chile houve um movimento fortíssimo para a educação, todos os jovens entraram no movimento, e quatro se elegeram para o Parlamento . Aqui, o movimento das redes tem profunda rejeição a essa política estabelecida e não abre possibilidade de discussão porque, para isso, você tem de aderir a um partido.
 
– Ele não criou lideranças?
 
– Ele tem uma ou outra liderança, mas essas lideranças são refratárias. Uma ou outra está em algum partido, mas muitas vezes vai e é combatida. Para sintetizar, penso que continuam funcionando as formas clássicas, com todo vigor. Isso não morreu. As redes sociais podem representar um espaço, e certamente crescerá para determinados candidatos, mas elas têm limitações significativas, porque todo discurso que se processa nelas, é antipolítica estabelecida.  Eu não sei como vai ser, porque ao mesmo tempo em que o candidato se colocar, ele vai ser bombardeado.
 
– Na semana passada, o diretor da Agência Criativa, Roberto Figueiredo, em entrevista a Século Diário, destacou não acreditar que as redes possam criar candidaturas, mas que elas teriam importância em destruir candidaturas. E observamos que, na minirreforma, aprovada no último dia 20, há um item, feito a partir da emenda do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que criminaliza quem atacar candidatos na eleição do próximo ano, com multa e prisão. O senhor acredita que essa influência, no sentido de destruir candidaturas nas redes sociais será importante ou decisivo na eleição?
 
– Neste momento, acho que as redes sociais estão exercendo, na sua diversidade, a facilitação do acesso a um número diversificado de informações. Isso é muito importante. Mas, somado àquela limitação anterior, o grau de exclusão de faixas da sociedade às redes sociais é muito significativa. Quem está incluído é o setor de classe média, mesmo aqui em Vitória, a capital, o índice é de 70%. Isso quer dizer que 30% não têm computador. Alguém poderia dizer que está usando o celular, mas não sabemos se estão usando o computador para esse processo.
 
– E não necessariamente esses 70% estão usando o computador com esse objetivo, de se informar sobre política e se mobilizar...
 
– Sim. Tem um outro fator, que eu acredito ser o limitador-mor, que é a baixa educação formal. O sujeito lê uma notícia política, mas não compreende. O analfabetismo funcional é muito grande. Então, sem dúvida tenderá a crescer, as redes abrem nova possibilidade de informação mas, ao mesmo tempo, há esses limites e um agravante no caso brasileiro, neste momento. A polarização PT e PSDB levou os ataques para as redes. Qualquer um que chegar lá e colocar alguma coisa que mereça um interpretação pró ou contra os dois partidos desencadeia um enxame. E aí vem um outro enxame e afasta. Há uma mesmice do debate nas redes. Acho que isso é negativo, porque não se sai da polarização. A não ser em determinados blogs e chats, você não tem um debate sobre o processo político. Aqui no Espírito Santo, sobre o processo político, a unanimidade, as candidaturas, isso é muito restrito. Não estou desconsiderando que as redes vão crescer, mas acho que em junho elas mostraram sua força no encontro com as ruas. Então, não há uma polarização entre redes e a rua. Todos esses movimentos que têm nas redes, um ponto muito importante de certo debate em alguns países, a força disso é disparada pelo acionamento de um dispositivo. Na Tunísia, foi um cidadão que colocou fogo em si mesmo na rua. Aqui foi a manifestação em São Paulo. Temos que tentar entender como as redes e a rua se combinaram. 
 
– O movimento não pode ficar restrito a um dos lados apenas, é isso?
 
– A rua tradicional não acontecerá mais. O palanque clássico, a campanha clássica. Mas as redes pelas redes também têm limitações. O processo é quando isso ganha dimensão pública, e para ganhar dimensão pública, em uma sociedade como a nossa, por incrível que pareça, temos visto no mundo todo, que isso ganha dimensão é na rua. O processo ganha dimensão, repercute, quando vai ao público.
 
– Mas as redes trouxeram aos candidatos a necessidade de ir para dentro dela. Todos estão lá, desde governador a deputado estadual, vereador...
 
– Mas temos que distinguir as candidaturas majoritárias das candidaturas proporcionais. Acho que grande parte das candidaturas majoritárias tendem a alimentar, nas redes, contraposições. Temos visto os especialistas em difamação alheia. São os cabos eleitorais nas redes sociais. Eles estão lá, de alguma forma. Há uma ambiguidade em tudo isso, desde a presidência até os prefeitos. Eles dizem o seguinte: as redes são importantes. Mas eles já viram que têm uma importância relativa. Então, postam algumas coisas. Uns dão mais valor, outros menos. A constância no Facebook e Twiiter vem reduzindo. A Dilma, depois das ruas, criou um observatório, mas estava vendo esses dias e não está sendo alimentado e as pessoas não querem dialogar com a coisa oficial. Tem muito servidor ali para conter. No legislativo, acho que mais ainda. Tem muito político que está ali só para dizer: eu estou na rede. Mas tem outros que poderão ampliar seu espaço na rede. Isso é que ainda não temos clareza, se via redes sociais, alguns candidatos temáticos, que poderão se valer das redes para vencer obstáculos  como financiamento de campanha, campanha de rua. Vencer esse pesado jogo tradicional. Isso eu não arriscaria dizer, que um candidato com conhecimento voltado para as redes conseguiria ter as redes como seu principal diferencial eleitoral. Para grande maioria é complementar, para outros é meramente epidérmico, porque não pega bem dizer que não está nas redes. 
 
– Teríamos um nome no Estado que representasse essa demanda das redes?
 
– No Espírito Santo, eu não vejo nenhuma candidatura que tenha as redes como centro. Elas estão passando, mas não vêm representar esse novo. Os que poderiam surgir, foram rapidamente para a velha política. Eu não vi ninguém colocar uma proposta que fosse ao encontro desse movimento. Estava acompanhando o movimento italiano, que Beppe Grillo e o movimento dele [Movimento Cinco Estrelas, MV5] é uma página na internet. Há todo um debate, a partir de um blog, os programas e o processo consiste em muita coisa da reforma política que eles estão fazendo se valendo de propostas da rede. Na Itália, se acha que há um conjunto significativo de privilégios para os políticos. O grupo não esperou a reforma política, colocou nas redes as diretrizes para quem se candidatar pelo grupo. Coisa que não se insinua aqui. É utilizar as redes em um certo sentido da democracia direta, de que não precisamos esperar um projeto de reforma política do Congresso Nacional para fazermos e avançarmos na política institucional. 
 
– Criou-se uma expectativa em relação à Rede Sustentabilidade nesse aspecto, porque propunha uma postura diferente, proibindo reeleição, financiamento com regras, e aí o partido se uniu ao PSB, da política tradicional. No primeiro grito, todo mundo correu para a política tradicional, o que deixou a impressão de que não havia a intenção de se mudar nada, apenas criar condições de disputa em 2014.
 
– Pois é. Eu não vejo aqui no Espírito Santo ninguém tanto no Executivo quanto no Legislativo que, mesmo em um partido já tradicional, apresente uma proposta de mudança da prática política. 
 
– Destacamos a importância da rede porque, proporcionalmente, o Espírito Santo foi o que mais colocou gente na rua, com 100 mil pessoas. E, de repente, esse movimento recuou. 
 
– É esse o grande dilema entre o mundo virtual e o mundo real, que em alguns momentos convergem, outros divergem. Quando isso reflui para as redes, já que as ruas não têm mais forças no processo clássico, a rede dá essa sensação de mobilização. Agora, qual é o dilema? Junho não gerou, do ponto de vista institucional da política, nenhuma novidade. E o que nós teremos, provavelmente, em 2014? Um desencontro entre uma expectativa das redes e a política tradicional real que vai continuar. O eleitor vai olhar a disputa majoritária e se perguntar: quem são os candidatos? “Esses eu já conheço, esse também”. Quem são os candidatos a deputado? Quem é que me representa? Por isso eu salientei a coisa do Chile, porque lá o movimento na luta educacional se projetou na política institucional, se valeu das redes sociais nessa combinação, mas você tinha alguém para dizer: eu tento representar algo que fuja da crise da representação. Isso aqui a gente não vê, e sim que o movimento tradicional da política estabelecida acaba sugando. 
 
– A política tradicional, a ferro e fogo, se impôs.
 
– Se impôs. Nacionalmente, não sei como isso vai se dar, mas no Espírito Santo, estou muito pouco convencido de que nós não teremos esse desencontro. Nesse sentido, a dúvida que surge é: o que fará o eleitor e eleitora jovem da rede, se deparando com a velha política? Esse desencaixe, você joga, aposta, vai à rua, e depois vê que na hora eleitoral vem tudo aquilo que você contestava, como vai ser esse processo? Isso pode dar um nó. Um ponto que é crucial, que parece uma palavra fora de moda, é que não há mais ideais. As pessoas não estão tocando os corações. Seja pelo ambiente, pela vida, todo mundo está na mesmice. Aquelas políticas tradicionais, de construir 10 escolas, reformar o posto de saúde, colocar polícia na rua. A expectativa é outra. Que tipo de relacionamento vamos ter? Os políticos se colocam na rede, mas de que maneira eles se colocam à disposição de apresentar e defender um projeto de iniciativa popular? 
 
– Não há interatividade, não é?
 
– Transporte coletivo, que é um tema sensível. O que o governo Renato Casagrande está fazendo nesta área? Está retornando a uma visão que está ultrapassada em todo mundo que é a de fazer obras viárias. 
 
– Aqui é novidade...
 
– Aqui é novidade. 
 
– Sendo que a mobilidade urbana foi o ponto central das manifestações no Espírito Santo.
 
– E acho que a avaliação das redes, eu acompanhei isso na universidade, notadamente pelas redes, mas isso extravasou as redes, a ponto de se produzir o famoso “mosquitinho” para mobilizar outras categorias. Isso mostra essa relação. Não querem apenas o público que está na rede, porque a inclusão digital é baixa. Colocamos milhares nas ruas, e qual a grande dificuldade desse processo, que foi minguando? Como dar uma organicidade a esse processo para dialogar com a política e com os políticos? Como isso não aconteceu, isso foi minguando, a articulação acabou sendo concentrada nas estruturas de fora da rede. 
 
– Estamos vendo o início do processo eleitoral do próximo ano seguindo exatamente os mesmos moldes de eleições anteriores, com as acomodações de coligação e a distribuição dos palanques. A única discussão que se vê sobre o processo é se haverá unanimidade ou não e. se não houver, poder ser um cenário plural, mas com todos os nomes que a gente já conhece. Não se fez esse debate. 
 
– O novo das redes sociais tenta desabrochar, mas o velho traço da política tenta se valer desse processo não para potencializá-lo, mas para dar sua marca também de velho. É como se tivéssemos a velha política nas redes, com velhos projetos. A nova política presente na rede não consegue mexer com a velha política. Isso tem vetores que não sabemos no que vai dar. Acho que 2014 vai ser um bom termômetro. Muita gente diz hoje que não vai votar naquela mesma pessoa, mas chega na hora da eleição, acaba votando. Entra a rede tradicional, que diz “vota naquele cara porque é nosso amigo”. O cara luta contra a velha política, mas aí entra a rede da religião dele, do bairro, pede o voto,e ele vai e vota no cara.
 
–  Acredita que poderemos ter novamente a unanimidade?
 
– Acho que o movimento das redes não conseguiu dar sua contribuição efetiva para abrir outras oportunidades de discussão. 
 
– Temos Paulo Hartung [PMDB] de um lado, fazendo um jogo de poder ir ao governo ou ao Senado, e Renato Casagrande avançando sobre os carneirinhos dos outros partidos, esperando para fazer uma composição de ele ao governo e Hartung ao Senado...
 
– Provavelmente. Isso ficou extremamente facilitado pelo recuar desse movimento novo, que exigia uma outra oportunidade, a rua refluiu outra vez para as ruas e o debate interno não está gerando algo que se coloque pelo menos para arranhar a unanimidade. Então, podemos ter, veja bem, nas redes, com total pluralidade do debate, uma unanimidade política, que é uma incongruência. Redes, pluralidade, debates e unanimidade política. Isso é um choque, em pleno Século XXI. 
 
– Há também outros fatores, como Lula influindo no processo, querendo Hartung como candidato ao governo para garantir o palanque de Dilma e isolar o governador de Pernambuco nos Estados, e no caso do Espírito Santo, o governador Renato Casagrande. Como o senhor disse, também nesse sentido, a eleição não vai fugir dos personagens tradicionais. De uma forma ou de outra, estarão colocados no processo eleitoral de 2014, sem possibilidades para outros. 
 
– Os novos atores que se apresentaram nesse processo, pela própria visão refratária dessa política, acabaram voltando, continuam com o discurso antipolítico, e isso é um dilema, reforça essa velha crise da representação e amplia esse impasse entre algo que se insinua como novo e o velho que se consolida como velho. Ainda que em alguns momentos, o novo possa passar pelo velho, o que a gente vê é o velho cada vez mais tomando conta do novo. Chegamos a um ponto, que eu nunca poderia esperar na política do Espírito Santo, que é mais uma vez chegar à seguinte conclusão: a unanimidade, se for arranhada ou fraturada, será de fora para dentro, pela atuação verticalizada dos partidos. Localmente está todo mundo nesta zona de confronto. Isso lembra as nossas discussões do regime militar. A gente dizia  “está vindo de fora para dentro”. 
 
– Fazia-se uma prévia no 38º BI e depois era escolhido em Brasília.
 
– Veja bem que o PT, aquela ideia de controle que havia nos núcleos, uma coisa mínima de discussão, isso acabou. Hoje alguém, da ponta, chega e diz... ou Lula em Brasília, ou João Coser aqui... “É isso” e é isso. Alguém esperneia, mas... Isso é a negação plena do que se estava demandando. Esse clube tradicional do Espírito Santo não quer estabelecer esse diálogo com o novo. Muito pelo contrário, faz de conta que está dialogando, mas age tal qual fora da rede. É a rede dos políticos do Espírito Santo atuando em peso. E isso não está na rede. 
 
– E essa rede é fechada. 
 
– Essa rede é fechada, tem poucos convidados, não se entra. Ao contrário, você tem de bater na porta. 
 
– Mas há também a questão do poder econômico no Estado que é exercido pelas transnacionais, que são financiadoras desse sistema. Então, a coisa é restrita também por aí, porque não dá para fazer campanha sem dinheiro...
 
– Em termos. Acho que você tem espaço para outras candidaturas que efetivamente sinalizem na direção dessa expectativa, ainda que sem recursos, para abrir espaço de disputa. A rede era para ser usada nesse sentido, mas não está sendo usada. Ao contrário, os que estavam na rede com esse objetivo foram para o outro lado.
 
– Mas considerando que a rede não pariu nenhum nome, temos que voltar ao velho esquema de campanha...
 
– Mas ai é o encontro desse velho financiamento com essa velha política. 
 
– Sim. Então temos um cenário bastante antecipado, com Hartung, que trabalha com Ricardo Ferraço (PMDB) como regra-três. Temos o governador Renato Casagrande, que não trabalha com  regra-três, e Magno Malta (PR), que assustaria os dois, mas não se sabe se ele vai atuar ou não na eleição. Todos são nomes conhecidos do eleitorado. 
 
– Você vê que a política é tradicional é tão velha nesse sentido que quem é o presidente da Assembleia Legislativa? Theodorico Ferraço [DEM], que tem uma trajetória que vem de longa data. Quem é o líder do governo? Élcio Alvares [DEM]. A síntese disso é que a velha política está presente. No mínimo rumar da carruagem depois das ruas, é impensável ter esse quadro. E de todos os movimentos, não é um problema das redes, não. Nós chegarmos à segunda década do século XXI, com dois políticos da velhíssima geração comandando o legislativo. Isso acaba gerando um desalento para o novo. Você vai, faz, e quando você olha, quem é que está na cena?
 
– O líder do governo foi escolhido depois desse movimento das ruas. 
 
– E o mecanismo é muito claro. Você indica tantos cargos, as emendas. Acredito que eles pensem: 'Eu posso ser contra as ruas desde que eu ganhe isso: viaje no helicóptero do governador, para dar prestígio na base; tenha uma emenda para a base; nomeie 25 assessores. Isso cria um colchão do legislativo que me reelege'. Isso independentemente de eu ter o diálogo nas redes sociais. E outra coisa, todo dissenso na Assembleia deve ser tratado como algo que na democracia é eliminado. Algo extemporâneo, que não está de acordo. Qualquer debate, colocação que destoe disso, é eliminado. Em uma linguagem de política pública, significa o seguinte: as instituições públicas, as normas, os procedimentos, as regras, os jeitos de fazer política tradicionais ainda estão muito presentes na época da internet. 
 
–  O senhor fala de ideais e isso remete a essa cena estranha de um governo socialista ter como líder do governo e presidente da Assembleia deputados do DEM. Quer dizer, essa questão ideológica, a separação dos grupos por suas ideologias, acaba. 
 
– Só para se ter uma ideia da ressonância do ideário, das ideias, das mentes e dos corações, ainda como exemplo da Assembleia, chegou-se ao ponto de poder ter o presidente da Assembleia, o líder do governo e o presidente da Comissão de Finanças do DEM. O que o DEM representa para o Espírito Santo em termos de propostas? Quais as propostas do DEM para o Espírito Santo?
 
– Mas também, professor, qual a proposta do PT para o Espírito Santo? 
 
– Sim, mas o DEM, um partido conservador, tomando conta dos três principais cargos da Assembleia Legislativa. O DEM está se desidratando no Brasil todo e só no Espírito Santo é que tem força. Isso não tem nenhuma lógica como processo real. O DEM não expressa nada. O PMDB é outra coisa. Nacionalmente e aqui é a mesma coisa, é um partido que quer eleger Congresso, bancada e, a partir daí, controla as emendas e mantém a máquina. As redes têm dificuldade de furar isso. Um cara das redes vai entrar no DEM? No PMDB? No PT? Qual a opção para alguém que quer construir algo novo, como vai fazer? Esse é o impasse institucional. Acho que um debate que se faz, uma das propostas neste momento é das candidaturas independentes. Essa é a única forma de quebrar com essa oligopolização da política pelos tradicionais. 
 
– Até porque a criação de partido virou uma coisa meramente eleitoreira mesmo.
 
– Isso. Temos partido para dar e vender. O processo consiste nesses vários desencontros e, mesmo quem tem condições de colocar o novo na política, não quer praticar. Esse novo que pode ser praticado, independentemente da reforma política. É claro que algumas coisas, não. Mas uma outra relação com a sociedade, vamos reduzir os gastos. São coisas simbólicas para reatar o diálogo com a sociedade, não que sejam relevantes, não, mas temos que discutir sobre isso. 
 
– Como o senhor vê a discussão sobre a democracia direta?
 
– Acho que vamos precisar combinar isso. A ida às ruas buscou isso, mas a institucionalidade não dá passagem.
 
– As ruas mostraram uma reação não só aos políticos e partidos, mas também a outras instâncias de representação, como sindicatos, associações...
 
– A crise da representação é geral. Todos aqueles que arvoram em falar em nome da população, e isso aí as redes tiveram um papel importante, colocaram em questão essa representação dissociada dos representados. Eu elejo você, você vai para lá e se dissocia. É possível estabelecer canais. Só que isso com as redes, no Brasil, ainda é bastante insipiente.  Pouca gente controla seu parlamentar, interage. Está tramitando no Congresso uma proposta de acompanhamento das tramitações que seriam abertas e um número de pessoas poderia interferir no processo, ainda que não esteja em Brasília. 
 
–  A rede deu uma folga e foi aí que a classe política entrou e retornou ao seu projeto inicial.
 
– A rede deu uma folga e permitiu que os políticos pudessem dizer: “somos nós que vamos para 2014”. 
 
– E como vê esse movimento?
 
– Sem tirar o poder das redes, porque elas mexeram com essa discussão da representação, mas acho que ao superestimá-las, estamos desconsiderando o poder instituído da velha política. 

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