Sexta, 17 Mai 2024

Casagrande finalmente 'acha' uma marca para seu governo

Casagrande finalmente 'acha' uma marca para seu governo
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
O governador Renato Casagrande voltou o olhar para o interior do Estado, com políticas de valorização das prefeituras e com agendas em vários municípios. Papo de Repórter analisa esta estratégia e seus reflexos na eleição do próximo ano. 
 
 
Nerter – Depois de três anos buscando uma marca para seu governo, Renato Casagrande parece ter finalmente encontrado um jeito de criar uma imagem para vender seu governo na eleição do próximo ano, quando vai disputar a reeleição em um cenário provavelmente bem diferente do de 2010. Casagrande voltou seu olhar para o interior. A deixa foi dada com a chegada dos novos prefeitos no início do ano em um cenário de desolação. Metade reclamava da casa desarrumada, herança dos antecessores e a outra metade da falta de dinheiro, causada pelo corte dos recursos federais. Com o cofre cheio, o governador traçou uma estratégia de socorro às prefeituras do interior, que acabou abrindo espaço para que ele emplacasse a marca de um governo voltado para o interior. 
 
Renata – A linha Gerson Camata, como o próprio ex-governador vem classificando a nova fase da gestão Casagrande, combina com o socialista. Nascido em Castelo, foi secretário de Desenvolvimento Rural no município. No governo Vítor Buaiz, quando Casagrande era vice, assumiu também a Secretaria de Agricultura. Logo, tem familiaridade com demandas do campo. Casagrande sempre teve muita facilidade de circular pelo interior do Estado. Desde quando era parlamentar, aqui ou em Brasília, sempre foi visto como um político que corre o Estado, conversa, bate papo com o povo. Depois de dois anos voltado para problemas externos, o governador pode, agora, se dedicar a essa característica.
 
Nerter – Mas não vamos esquecer que tudo isso faz parte de uma estratégia política. Casagrande assumiu o governo preocupado com a Segurança Pública, a agenda daquele momento. Depois, atropelado pelos problemas em Brasília, com uma série de ruídos na comunicação com sua equipe e com os demais poderes. Além disso, resolver os problemas da segurança, da saúde e da educação é uma empreitada que não se resolve em um mandato. Casagrande também tinha outra dificuldade para vencer. Foi eleito como governo de continuidade. Hartung já havia se convencido que a estratégia era a de diminuir o poder de fogo do socialista, dizendo que seu sucessor é fraco. Só freou porque começaram a aparecer as broncas do governo dele, com as denúncias do Posto Fiscal, do Sincades, etc.
 
Renata – Sim. Então, aquilo que parecia importante no início do governo, passou a ser fundamental. Casagrande precisava descolar a imagem de governo de continuidade, de quem está esquentando a cadeira para Hartung e criar uma marca própria. O compartilhamento do governo com emissários de seu antecessor na equipe não ajudaram em nada o governo Casagrande. Concluir obras só abriam brecha para que o grupo de Hartung reforçasse o discurso de governo fraco e de continuidade, como aconteceu na inauguração do hospital Jayme Santos Neves, na Serra, que os aliados de Hartung vieram para cima do governador Renato Casagrande, reivindicado a paternidade da obra. 
 
Nerter – A agenda do interior cabe perfeitamente para que Renato Casagrande construa uma imagem independente de Hartung. De quebra, fortalece a parceria com os prefeitos para a captação de votos na eleição de 2014. Com o interior consolidado, o governador ficará livre no próximo ano para reforçar a campanha na Grande Vitória, onde está na verdade a maior parte do eleitorado do Espírito Santo. É mais não vai ser tão simples assim, afinal, uma vez aberto o cofre...
 
Renata – Com a definição do perfil que Casagrande vai vender na eleição do próximo ano, fica agora a expectativa sobre os discursos adversários que, de certa forma, a gente consegue pescar nas movimentações que se vê pelo Estado. É claro que considerando o cenário de hoje, porque até as convenções em junho de 2014, muita coisa pode acontecer. Poderemos ter muitos palanques ou poderemos ter a repetição da unanimidade de 2010, embora isso seja bastante difícil de construir, devido à pressão nacional e à disposição de alguns atores em ir para o confronto. O PMDB vai apostar tudo no discurso da excelência.
 
Nerter – A estratégia do PMDB, ou melhor, do grupo do ex-governador Paulo Hartung se enfraqueceu um pouco por dois motivos: primeiro que um ataque mais incisivo poderia causar reações e quem tem telhado de vidro não pode ficar atirando pedras por aí. Outro motivo foi a forma que Casagrande conseguiu conquistar a base dos partidos. Mesmo com a possibilidade de outros palanques disputarem a eleição, o governador reúne hoje em sua base quase a mesma quantidade de partidos que o apoiaram em 2010. Afinal, o socialista teve o apoio de 16 partidos na sua primeira eleição. Isso não garante votos, mas garante fortalecimento do palanque, além de enfraquecer os adversários. Há desgastes internos no PMDB e no PT, por exemplo, justamente por essa questão. 
 
Renata – Bom, mas quanto aos apoios, como eu disse anteriormente, muita coisa ainda pode acontecer. Por isso, o momento é de colocar um discurso na rua para ver se cola. Hartung vem vendendo a ideia de que o tempo na planície foi utilizado para o aperfeiçoamento de sua visão de gestor. Ele posa em suas palestras e a através de seus artigos, como o grande economista, com soluções bastante planejadas para as demandas do Estado. Com isso cria uma atmosfera em torno de si de superioridade em gestão, vendendo a ideia de que seu sucessor foi inferior, estragou o trabalho feito por ele, e que só a retomada do Palácio Anchieta vai colocar o Estado nos trilhos do desenvolvimento, que ele iniciou depois da “faxina ética”, deflagrada em seu governo. É tudo névoa, política de Power Point, mas funciona. As pessoas se impressionam com planilhas e gráficos. Se tiver citação de pensadores inglês, francês, americano, então.  
 
Nerter – Do outro lado temos o senador Magno Malta (PR), que faz um tipo de campanha em outro patamar. Com uma mãozada só atinge Casagrande e Hartung. Ataca a política de segurança do governo, fala para a população de baixa renda e comove com o microfone na mão. Enfrentar Magno Malta não vai ser fácil para nenhum dos dois. Ele tem um eleitorado fiel nas igrejas e amplia isso com o eleitorado das classes D e E. O conservadorismo de seu discurso não afasta o eleitor, muito pelo contrário. E por mais que os jornais tentem criminalizar o senador republicano, as manchetes sempre voltadas para a violência no Estado, dão um largo caminho para que Malta construa seu discurso de ataque à política desenvolvimentista de Hartung e Casagrande, que, para ele, beneficia apenas à elite capixaba. 

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