Sábado, 18 Mai 2024

Controle político do processo eleitoral muda de mãos no Espírito Santo

Controle político do processo eleitoral muda de mãos no Espírito Santo

Nerter Samora e Renata Oliveira



A comprovação de que, independentemente de seu usuário, quem manda é a caneta está na movimentação eleitoral deste ano. Papo de Repórter analisa como o governador Renato Casagrande tirou de Paulo Hartung o cabresto da classe política.



Nerter – Pelo andar da carruagem, o cenário eleitoral deste ano começa a se definir. Parece cada vez mais difícil de encontrar uma forma de criar um grupo forte de enfrentamento ao palanque palaciano. A ideia de unanimidade que até há poucos meses se dizia impossível no Estado, começa a se diluir e o governador Renato Casagrande segue tranquilo na construção de uma candidatura de reeleição, sem se preocupar com adversários. Falo isso pelo silêncio ensurdecedor do PR e pelos movimentos imprecisos do PMDB, principalmente em relação ao senador Ricardo Ferraço e o insucesso do ex-governador Paulo Hartung em manobras de bastidores para desidratar seu sucessor. Quanto ao PSDB, Guerino Balestrassi está cada vez mais sumido do jogo.



Renata – As movimentações dos blocos proporcionais que vêm se formando nos últimos tempos atestam sua ideia. O conjunto de oito partidos que compõem o Renova Espírito Santo, embora tenha que resolver internamente a questão da antecipação de parte do grupo, já tendia para o palanque de Renato Casagrande desde a sua idealização, ainda no ano passado. Já o grupo formado por Solidariedade, PROS, PSD, PPS e PTB antes mesmo de consolidar as divisão em pernas ou não, já definiu apoio a Casagrande. Outros partidos já estavam no palanque dele há um bom tempo. É claro que pressões ainda existem, mas, hoje, a candidatura de Casagrande à reeleição está muito fortalecida.



Nerter – Eu diria que o único adversário que Casagrande pode encontrar nos próximos meses até as convenções é ele mesmo. Se o governo conseguir evitar crises institucionais, sociais, escândalos, pode garantir uma reeleição tranquila. Mas, acomodar tanta gente no mesmo palanque pode ser uma tarefa difícil. Já que partidos muito diferentes e com interesses parecidos estão ali, disputando espaço palmo a palmo. Você tem PT, DEM, PDT falando em vice. Tem a vaga do Senado, as 10 cadeiras de deputado federal e 30 de deputado estadual. Se o governador estiver tão fortalecido no início de agosto, como está hoje, todo mundo vai querer um pedaço de seu prestígio político.



Renata – Será que transfere?



Nerter – Essa é uma discussão eterna, não é? Mas é interessante como Casagrande conseguiu chegar a esse patamar. Ele chegou ao governo como o candidato palaciano, que foi engolido a seco pelo ex-governador, mas não deixa de ser candidato palaciano. Prometeu diálogo com a Assembleia, manteve os aliados de Hartung no governo, e iniciou um governo de continuidade. Aos poucos diluiu essa marca, enfrentou uma série de problemas com a perda de recursos federais, teve que passar por crises internas com a dificuldade de diálogo entre seu pessoal e o pessoal de Hartung e a Assembleia começou a chiar pela falta de atenção. A ascensão de Theodorico Ferraço (DEM) à presidência da Assembleia foi outra dor de cabeça com a qual Casagrande teve de conviver. Mas apesar de todas as dificuldades ele se saiu bem, politicamente falando.  



Renata – Sim. E logo a classe política começou a perceber que se tratava de uma mudança de postura no Palácio Anchieta. Sem conseguir colar no governador o rótulo de crime organizado ou retrocesso, a central de boatos começou a agir para tentar desidratá-lo, dizendo que é um bom político, mas não tinha excelência na gestão. O problema é que esse discurso, eleitoralmente, não pega. A eleição de 2012, ajudou a consolidar a liderança política de Renato Casagrande e deve ter surpreendido o ex-governador, que até então, tinha o controle total da classe política do Estado.



Nerter – Acho que o problema de Hartung é que ele achou que era seu prestígio político que o mantinha nessa liderança, mas a dura verdade é que para a classe política o que importa é a caneta e não a mão que a segura. O diálogo é com quem está sentando na cadeira de governador, independentemente da coloração partidária. O ex-governador sentiu isso quando seus emissários anunciaram a manobra com a cúpula petista, jogando a ideia de que Hartung poderia disputar o governo. Antes isso seria suficiente para uma debandada  de lideranças políticas para seu palanque, mas o telefone de Hartung não tocou, as lideranças não o procuraram e o palanque de Renato Casagrande não se desidratou, como esperavam seus adversários.



Renata – Casagrande passou os quatro anos de seu governo estabelecendo-se como liderança política sem romper com Hartung. Os cargos que tinha no governo foram mantidos, nenhum deles foi retirado por Casagrande e pior, em alguns momentos, como na crise na Secretaria de Justiça, que levou à queda de Ângelo Roncalli, o governador preferiu arriscar mantendo o secretário que estava no olho do furacão, mesmo correndo o risco de complicar-se por causa disso. Roncalli saiu por conta própria. Nas broncas no Judiciário, como a compra de terras em Presidente Kennedy, as polêmicas do Posto Fantasma e o Sincades, Casagrande não disparou contra seu antecessor. Assumiu contas que nem deveria ter pagado. Por isso, Hartung não pode nem tentar insurgir contra ele.



Nerter – Depois de quatro anos na planície, Hartung tentou uma série de ações de visibilidade para se manter vivo no jogo. Lançou livro, publicou artigo, fez palestra, conseguiu manter aquele canal com uma parte da imprensa que sempre lhe deu guarida, mas não teve jeito. Viu seu capital político minguar. Tanto que não topou nem a disputa à prefeitura de Vitória em 2012, porque não conseguiu limpar o campo de disputa. Hoje, ele e seus aliados estão isolados no PMDB. A bancada do partido na Assembleia é maioria e bate o pé, querendo ficar no palanque de Casagrande. Sabem que Hartung não tem condições de prometer sucesso a toda aquela gente em um palanque próprio, que só terá meia dúzia de aliados, isso se o PT nacional ingerir, porque se depender do PT daqui, nem isso terá.



Renata – A verdade é que hoje Hartung é tão dependente de Renato Casagrande quanto qualquer outra liderança do Estado. Sua briga hoje é para manter as aparências, quer assento na mesa de negociação, quer jogar, mas tem ficado cada vez mais sem espaço. É claro que ele ainda tem bala na agulha, é um político forte, um candidato que todo partido gostaria de ter, é competitivo, pode erguer um palanque, disputar uma eleição e até, quem sabe, levar uma disputa para um segundo turno, embora, eu ache isso mais complicado.



Nerter – Mas isso tudo, para quem já foi chamado de imperador, deve ser uma situação um tanto difícil.

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