Sábado, 18 Mai 2024

Derrama de corrupção respinga em Theodorico Ferraço

Derrama de corrupção respinga em Theodorico Ferraço

Renata Oliveira e Nerter Samora






A semana foi agitada pela Operação Derrama, que levou para a prisão 10 ex-prefeitos do Estado. Mas não foram apenas eles que passaram por maus bocados. Papo de Repórter analisa como essa situação se tornou uma pedra no sapato de Theodorico Ferraço.





Nerter – O grande acontecimento da semana foi sem dúvida a decisão do juiz Marcelo Menezes Loureiro, que relacionou a ação de sete ex-prefeitos com as atividades irregulares da  empresa a CMS Consultoria e Serviços SS Ltda, sediada em Vitória, que prestava os serviços de consultoria às prefeituras sem licitação. Mandou todo mundo para a cadeia. Mas independentemente do tempo que vão ficar presos, o estrago político já foi feito, sobretudo, para os ex-prefeitos que tinham pretensões em 2014, como os peemedebistas Guerino Zanon, de Linhares; e Edival Petri, de Anchieta. Agora ficará difícil recuperar o capital político para disputar as vagas na Assembleia, como pretendiam.



Renata – Outros dois ex-prefeitos que não tinham exatamente a reputação mais ilibada do mundo acrescentaram às suas listas de pendências judiciais, mais esse item. Edson Magalhães (sem partido) e Ademar Devens (PMDB) enfrentaram problemas durante suas gestões e, mal saíram da prefeitura, já foram presos. Um fim político melancólico para o ex-prefeito de Aracruz, que agora terá muita dificuldade para disputar cargos públicos novamente. Já Magalhães, além de complicar ainda mais sua vida na Justiça, prejudicou também a campanha de seu aliado em Guarapari, Orly Gomes (DEM). A prisão de Edival Petri (PMDB) também influi em Guarapari, porque, apesar de ser de Anchieta, apoia a candidatura de Carlos Von (PSL), no município vizinho. É engraçado como a eleição de Guarapari, apesar de curta, tem de tudo, não é? Reviravoltas, impugnações, disputa acirrada. Interessante.



Nerter – Mas não foi só em nível municipal que a Operação Derrama causou estragos no cenário político do Estado. Depois de arquitetar muito bem sua reeleição para presidência a Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM) foi pego de surpresa por essa ação do Tribunal de Contas e da Polícia Civil. Além de ver o apadrinhado Edson Magalhães ser preso na Operação, ele ficou bastante abatido com a prisão da sua mulher, Norma Ayub (DEM). O desgaste dessa prisão cai no colo de Ferraço, que também será investigado pelo tribunal de Justiça. Ainda bem que ele aprovou a emenda 85 que lhe garantirá imunidade.



Renata – Isso é verdade. E olha que armaram uma ação de contensão para evitar que a Derrama derramasse o caldo fervente para cima de Ferração na Assembleia. Primeiro uma manchete estranha, na quarta-feira (dia seguinte às prisões), dizendo que Ferraço finalmente admitia a candidatura à reeleição. Na quinta-feira, aparece uma outra matéria dizendo que Casagrande apoia a candidatura de Ferraço. Isso é estranho porque o governador já havia sinalizado dessa forma. Por que então reafirmar isso? Ficou parecendo uma tentativa de reforçar o palanque de Ferraço, um recado não sei se para os meios políticos em geral ou se para dentro da Assembleia.



Nerter –  O que pode prejudicar esse processo é se algo mais acontecer nos próximos dias, o que não parece estar nos planos. Casagrande não vai fazer uma substituição de ultima hora, aliás, Casagrande deve dar uma mergulhada profunda nos próximos dias, para deixar as coisas se acalmarem sozinhas. Já circulam, inclusive, alguns recados "plantados" para lembrar que o governo do Estado não irá se pronunciar porque não tem nenhuma relação com o caso. Mesmo porque, colocar a mão nesse vespeiro agora não será nada agradável para o governador. Pode ser que a coisa se aprofunde nos próximos dias, mas seria difícil que algo viesse a impedir a eleição de Ferraço para a presidência da Assembleia, até porque não há plano B costurado. Se bem que a prisão de Norma Ayub pesou bastante. De qualquer maneira, o tom da conversa mudou de figura porque Ferraço não terá mais condição de usar o legislativo como instrumento político.



Renata – Ao longo deste ano que esteve à frente da Assembleia, Ferraço mostrou aos colegas até aonde vai seu corporativismo. Protegeu alguns deputados, mesmo diante de determinações judiciais. Só quando não era interessante para o grupo dele, como foi o caso de Nilton Baiano (PP) que ele recuou. Mas a posse de Paulo Roberto (PMDB) no último dia 7 foi uma demonstração de força muito grande. Passou por cima de tudo e deu posse ao peemedebista. Depois veio com aquela história de parecer da Procuradoria, mas se a procuradoria entendeu isso, pelo amor de Deus, hein!



Nerter – Ele só não contava com a mão da Justiça. Nesse caso do Paulo Roberto, a derrota também pode ser creditada para Ferraço, já que o vereador de Colatina, Olmir Castiglioni (PSDB) ganhou a primeira batalha na Justiça e vai tomar a cadeira de Paulo Roberto (PMDB), que não chegou a ter o gostinho de sentar nela. E para piorar o deputado que ele mais protegeu nesse período todo, José Carlos Elias (PTB), caiu junto com ele na Derrama.



Renata – Outra coisa é que a bomba estourou quando estava tudo acertado para a reeleição de Ferraço. Se tivesse acontecido antes, certamente a eleição dele estaria sepultada na Casa. O governador e os  deputados teriam tempo hábil para alinhavar essa retirada de Ferraço da cadeira de presidente, mas faltando pouco mais de 15 dias para a eleição, com tudo acertado com o governo, dificilmente alguma coisa vai acontecer para mudar o resultado da eleição. A Assembleia não tem uma alternativa ao Ferraço. O que Casagrande vai fazer agora é procurar reforçar os outros cargos da Mesa. Se em um primeiro momento essas posições eram figurativas, e seriam uma mera distribuição de espaço político, agora ganham outra configuração, sobretudo, a posição do vice-presidente, um cargo de expectativa, mas que diante da situação, sabe como é, né!



Nerter – Mas, apesar dos mortos e feridos, prevaleceu o jeito diferente de Casagrande negociar com a classe política. Ele teve a chance de liquidar Ferraço quando o presidente da Assembleia saiu derrotado do processo eleitoral de 2012, mas não o fez. Deu a presidência da Assembleia para Ferraço e exigiu a indicação dos secretários da Mesa, mas Ferraço é esperto demais e vai colocar os secretários de Casagrande, seja quem for, no bolso. Isso colocaria Casagrande em uma desconfortável posição de  ter de conviver com o perigo de ter Ferraço conduzindo a Assembleia durante o período eleitoral no próximo ano, mas isso passou.



Renata – Pois é, a Assembleia em 2014  seria uma arena de batalha dos grupos de Casagrande e do ex-governador Paulo Hartung. Não é por causa dos belos olhos de Paulo Roberto que Theodorico insistia em mantê-lo na Casa. Euclério Sampaio (PDT) já retornou ao plenário e há ainda a possibilidade de Max Mauro (PTB) ingressar no legislativo, se José Carlos Elias (PTB) não conseguir manter o mandato na Justiça. Isso para Paulo Hartung pode ser terrível. Paulo Roberto seria um contrapeso para defender o governo Hartung das pedradas que podem vir de Euclério e Max. Mas o plano foi por água abaixo.



Nerter – Se o Ferraço vai se recuperar ou não, só o tempo e o transcorrer das investigações é que vão dizer. Mas se Hartung pretendia colocar Ferração na mesa de articulação do tabuleiro eleitoral de 2014 como uma voz para ecoar as pretensões de seu grupo, dançou. Agora é hora de juntar os cacos. Enquanto isso, Casagrande só contabiliza o lucro. 

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