Sábado, 04 Mai 2024

Disputa de bastidores nas articulações de 2014 está polarizada

Disputa de bastidores nas articulações de 2014 está polarizada
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
Os movimentos das últimas semanas para o jogo eleitoral de 2014 se limitaram a dois personagens. Papo de Repórter analisa as ações e suas consequências para a disputa do ano que vem para o governador Renato Casagrande e para o ex-governador Paulo Hartung.
 
Nerter – Quantos palanques eleitorais teremos na disputa do próximo ano? Ainda é cedo para afirmar com toda certeza, mas pelo menos neste período pré-eleitoral, disputa está bastante polarizada entre o governador Renato Casagrande e seu PSB, PPS e mais um monte de partidos e o ex-governador Paulo Hartung, com PMDB, PT e outros que ainda caminham na ponta dos pés. Os últimos movimentos se restringiram a esses dois personagens políticos, ou tendo referência a eles. Tomaram conta do cenário. Parece que estão numa mesa de xadrez, avaliando cada ação do adversário e refletindo muito antes de mexer em qualquer uma das peças dispostas sobre o tabuleiro. E eles estão se mexendo bastante, não é?
 
Renata – E como estão. Quem vem dando passos ousados é o ex-governador Paulo Hartung. Enquanto o aliado João Coser vencia a disputa no PT estadual e, consolidava seu controle do partido, vencendo a eleição no diretório de Vitória, Hartung se aproximava cada vez mais da cúpula nacional do partido. E não é que ele conseguiu?! Hartung conquistou o ex-presidente Lula, o principal articulador do palanque de Dilma Rousseff  à reeleição. Em nome do pragmatismo o ex-presidente esqueceu o passado de traições do ex-governador e fechou uma aliança com ele no Estado para  a eleição do próximo ano. 
 
Nerter – E aí percebemos como foi importante a vitória de Coser na eleição interna do PT capixaba e a consolidação, com a vitória de Alexandre Passos em Vitória. Era preciso manter o partido controlado para que essa movimentação seja exitosa. Agora, de um lado do tabuleiro as peças já parecem ter sido distribuídas: Hartung será o candidato ao governo, Coser ao Senado e Ricardo Ferraço, mais uma vez, será um peão a ser descartado. Pelo menos dessa vez ele não tem nada a perder não é? Já tem o mandato de senador. 
 
Renata – Hoje Casagrande, sem a unanimidade, reúne quase o mesmo tanto de partidos do arco de alianças de 2010, e o PMDB tem o PT e o PSD, que também fechou por cima a aliança com o palanque  de Dilma. Mas a partir do momento da consolidação desse cenário com Hartung na jogada, pode ser que a enorme base aliada de Casagrande sofra uma fragmentação. A classe política pode ficar dividida entre o palanque de Hartung com a presidente Dilma como candidata a presidente e com muitas chances de se reeleger, o que puxa as candidaturas proporcionais e majoritárias; e o palanque do governador Renato Casagrande, que é forte e está no jogo para garantir a reeleição, mas que tem um presidenciável de potencial eleitoral incerto. 
 
Nerter – E por falar em Casagrande, o movimento dele também foi inteligente. Colocado contra a parede pelo PT nacional, que negou seu projeto de neutralidade eleitoral, mexeu sua principal peça neste xadrez: o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS) e seu movimento foi pesado, porque os emissários de Hartung reagiram na hora. No congresso estadual do PPS, confirmada sua permanência à frente do partido, sem qualquer contestação, Rezende selou a aliança que caminha para o fechamento em nível nacional entre seu partido e o PSB. Ao dizer que o PPS do Espírito Santo declara apoio ao presidenciável socialista, Eduardo Campos, Luciano Rezende manda dois recados: o primeiro de que está com o governador Renato Casagrande e não abre; e o segundo verbaliza que Casagrande foi empurrado para o palanque de Campos pelo outro lado. 
 
Renata – Agora a classe política vai avaliar em qual desses lados a vantagem vai ser maior. A disputa proporcional deve nortear a escolha dessas lideranças. Não tem essa de escolher Hartung porque ele está mandando. O ex-governador é muito forte politicamente, mas Casagrande conquistou os partidos de baixo para cima e na hora da campanha isso conta, aliás, a impressão é que ultimamente esse é o único momento em que a base conta. Mas isso é outra discussão. Esse acirramento entre os dois palanques  vai acabar pressionando os demais atores políticos, não é? Não vai dar para eles ficarem observando a partida de xadrez o tempo todo, uma hora vão ter que se movimentar no tabuleiro. 
 
Nerter – É verdade, o PSDB tem um problema enorme para resolver. Precisa de um palanque para o candidato a presidente, o senador Aécio Neves (MG), no Espírito Santo. Tem um candidato a governador, Guerino Balestrassi, que não tem muito espaço midiático, as articulações vêm sendo para dentro do partido, em uma espécie de autoconvencimento sobre a eleição e suas estrelas precisam de mandato. Magno Malta (PR) observa, observa, mas não sabemos se ele é candidato mesmo e quando vai se posicionar. 
 
Renata – Malta precisa de apoio. Casagrande tem palanque presidencial e base, muita base. Hartung tem o PT, a mídia e parte do empresariado, que ele divide com Casagrande. Malta ofereceu o palanque para Dilma, mas está em stand by, se tudo der errado, ela terá o palanque de Magno Malta. Ele não parece ser o tipo de político que aceita esse jogo, aliás, ele não aceita jogo nenhum. Tem o apoio do PSC, deve conseguir partidos menores para apoiá-lo e tem um bom candidato ao Senado, o delegado Fabiano Contarato. Uma saída seria o seu histórico aliado PDT, que circula no baile sob olhares furtivos de seus admiradores, mas ignora porque sabe muito bem o valor que tem. Não vai aceitar o flerte de início, vai enrolar o quanto puder para fechar aliança com uma acomodação que realmente o contemple. Em 2010, Sérgio Vidigal foi um dos que não saíram satisfeitos depois das partilhas no governo Casagrande, a coisa piorou com a filiação de Audifax Barcelos, seu grande adversário na Serra. Vidigal não vai aceitar uma acomodação que o deixe em situação complicada em 2014, não vai mesmo. 
 
Nerter – Então, ele está entre PMDB, do aliado histórico Ricardo Ferraço, e o PR, do amigo Magno Malta. O problema é que nessas horas vale a máxima: “amigos amigos, negócios à parte”. Se Malta chegar em condições favoráveis de disputa em 2014, valerá a amizade, mas se o PMDB chegar forte... não sei, não.
 
Renata – Não acredito que a eleição será polarizada entre Hartung e Casagrande. Acho que Malta pode entrar na eleição, sim. Acho que está cada vez mais difícil que ele fique fora do páreo. O que, paradoxalmente, para o governador é bom. Malta não morre de amores pelo governador, mas sua disputa é com Hartung. Se o ex-governador entrar na disputa, pode ficar encurralado por Malta, enquanto Casagrande correria por fora. 
 
Nerter – Até porque tem a questão do discurso. Hartung não tem como usar essa história de crime organizado na disputa contra Casagrande. Vai ter de entrar no perigoso caminho da comparação entre seus oito anos de mandato e os quatro de Casagrande. O problema é que o governo Paulo Hartung foi erguido sobre um discurso frágil. É uma vitrine vulnerável ao apedrejamento. Casagrande tem dados para apresentar, e Hartung? Uma promessa de Espírito Santo de futuro e uma política desenvolvimentista que não saiu da planta, como a Companhia Siderúrgica Ubu (CSU).
 
Renata – Mas tem que ver também como vai ser essa disputa. Hoje temos quatro palanques. Eu não sei se o PSDB vai conseguir segurar esse projeto até o fim com o Guerino Balestrassi candidato. Acho que mesmo com as diferenças entre PSDB e PPS cabem os dois, mais o DEM no palanque de Casagrande, até porque o PPS está mais preocupado com 2016 do que com 2014. O senador Magno Malta também diz que vai, mas não sai do lugar. Mas acho que vai acabar entrando na disputa, sim, porque não vai querer perder a oportunidade de enfrentar Paulo Hartung em uma disputa eleitoral. 
 
Nerter – Vai ser engraçado. O Malta querendo pegar o Paulo, o Paulo fugindo do Malta e querendo pegar o Renato e o Renato tentando fugir dos dois e atacando o Paulo.
 
Renata – Bom, pelo menos é o que parece que será, não é? Porque até 2014 ainda tem muita água para rolar embaixo desta ponte. 

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