Terça, 21 Mai 2024

Tendência de unanimidade na majoritária transfere foco para disputa proporcional

Tendência de unanimidade na majoritária transfere foco para disputa proporcional
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
 
Com o cenário eleitoral da disputa majoritária em suspensão até a definição do PMDB e a forte tendência à unanimidade, as chapas proporcionais continuam buscando acomodação para garantir um bom desempenho na eleição de outubro.
 
Nerter – A declaração do presidente do PRP, Marcus Alves, em entrevista a Século Diário sobre a disputa majoritária, parece refletir o sentimento de parte da classe política do Estado diante do estado de instabilidade que se instalou nesta disputa desde o início do ano. Como não se sabe exatamente quais palanques serão postos, o partido cuida de sua chapa de proporcionais e quando vier a hora do jogo, fará suas apostas nos jogadores que entrarem em campo. O que não dá é para ficar esperando a definição do ex-governador Paulo Hartung (PMDB), que só deve acontecer em cima da hora, o que pode causar casamentos na delegacia, com as corridas de última hora para registros de coligação. Fazer contas em cima da hora com o cenário congestionado de proporcional que se prevê pode ser perigoso. 
 
Renata – Há muitas incertezas sobre as disputas majoritárias. O único palanque certo até o momento é o do governador Renato Casagrande (PSB). Magno Malta (PR) diz que vai disputar a Presidência da República e jogou para o colo de Fabiano Contarato o peso da responsabilidade de disputar o governo. Hartung não sai de cima do muro e senador Ricardo Ferraço (PMDB) quer, mas não consegue convencer seus aliados. O Guerino Balestrassi, mas isso é outra história, não cabe costura com todo mundo. Por isso, Casagrande que disputou a eleição em 2010 com o apoio de 16 partidos, hoje tem 22 e ainda pode aumentar. Mas tem aquela história, tanta gente em um palanque só, será que cabe?
 
Nerter – Caber, não cabe. Mas é o que tem por ora. Embora eu ache muito difícil o desembarque do palanque de Casagrande para um eventual palanque do PMDB, independentemente do candidato ao governo. Os adversários estão isolados, então, o jeito é se acomodar do jeito que der. 
 
Renata – Por isso mesmo a complicada matemática de eleição está sendo utilizada mais do que nunca. É preciso equalizar os votos, distribuir de forma equilibrada as chapas, as pernas, tirar daqui, colocar ali... tudo para manter a unidade e não há garantias de sucesso. O bloco “Renova Espírito Santo” foi o primeiro a ser formado, ainda no ano passado. Juntou oito partidos, com quadros de votação parecida e pretendiam conseguir duas cadeiras na Câmara e seis na Assembleia. Há muitos problemas internos, porém, que podem atrapalhar essas metas. Falta alguém para tomar as rédeas da Frente, em minha opinião. 
 
Nerter – Isso não acontece no bloco do Mannato. O grupo ainda não tem um nome, mas o deputado federal Carlos Mannato é quem fala pelos aliados. Mas devido à gulodice de outras chapas, pode acabar com um desempenho diferente do esperado. Os tucanos tem uma chapa pesada, forte, sobretudo para federal, se tudo ficar como está. Mas vai ter que brigar com a coligação do Manato para conseguir uma vaga. Mas quem deve conseguir um desempenho pesado é o grupo dos grandes. PMDB, PT, PSB e PDT podem levar mais da metade da bancada. 
 
Renata – Agora, é engraçado que os líderes dos partidos sempre jogam para cima, né? Parece negociação de acordo coletivo. Você pede 20% para ganhar 3,5%. 
 
Nerter – Faz parte do jogo. Tem que mostrar que tem os melhores nomes, que tem o maior controle dos seus quadros. O jogo de aparências também vale. 
 
Renata – Mas, apesar do blefe, este ano a situação será diferente e a classe política sabe disso muito bem. Há ainda muitas variáveis a serem resolvidas antes de os partidos chegarem à homologação das candidaturas em julho próximo. A questão da acomodação é apenas uma dessas variáveis. É preciso discutir qual o real impacto da possibilidade de haver uma queda na votação, com a descrença da classe política com a população, sobretudo no que se refere ao legislativo, é um outro grande desafio a ser superado. 
 
Nerter – Outro problema é o grande número de candidatos considerados barbadas nas eleições: ex-prefeitos, vereadores campeões de votos em 2012, os candidatos derrotados em 2012 que vão se beneficiar com o desempenho ruim dos vencedores, lideranças que surgiram nesse período. Enfim, o campo está congestionado. Isso faz com que o prognóstico para a Assembleia, por exemplo, seja praticamente impossível de ser feito. 
 
Renata – É verdade. O que se sabe é que haverá uma renovação muito grande. É interessante que em um passado recente, a Assembleia conseguiu até ter uma reerguida. Não chegou a ser a instituição queridinha dos eleitores, mas deixou de produzir manchetes negativas por um tempo. Mas o desgaste veio com tudo no ano passado. A ponto de pesquisas apontarem que a população não sabia o que faziam os deputados estaduais. Houve uma queda de qualidade, sim, os próprios deputados reconhecem isso. O clima na casa também não tem ajudado em nada a construção dos palanques de reeleição. Essa coisa de deputado ficar implicando com detalhes, coisas menores em vez de buscar debates mais profundos, o fato de terem barrado CPIs, o morde e assopra com o governo, todas essas questões vão minando aos poucos a credibilidade da Casa e dificultando a reeleição dos deputados. 
 
Nerter – Mas não é só a Assembleia, na Câmara também há uma expectativa de mudança, muito pela chegada desses puxadores de votos dessa coligação pesada, mas a gente sabe que eleição de deputado federal envolve muitos interesses políticos e econômicos que vão influenciar no pleito. Os partidos, principalmente os novos, precisam de representação na Câmara, isso significa aumentar a fatia do bolo do fundo partidário e tempo de TV. Economicamente, existe a questão do loteamento do plenário pelos segmentos da indústria e do agronegócio que são muito fortes. Isso, claro, não vê divisão territorial e quem estiver alinhado com essas questões pode se sair melhor. Mas não é de hoje que essas lideranças reclamam da falta de dinheiro, não é?
 
Renata – Sim, mas a gente sabe que sempre tem um “jeitinho” de conseguir. Na última hora aparece. Ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) consiga, o que eu duvido, decidir pelo fim da doação de empresas privadas ainda para esta eleição, sempre haverá uma forma de captação. Em 2010, foi via doações ocultas ou doações para os comitês nacionais dos partidos. Como eu disse, essa grana acaba aparecendo. 
 
Nerter – Mas voltando à questão da pressão sobre a majoritária, depois do carnaval o pessoal do PMDB vai se reunir com a cúpula, mas a gente pode imaginar o que vai acontecer, não é? Nada. Hartung não vai na reunião, vai continuar em cima do muro, Ricardo vai dizer que amanhã eu vou lá hoje e assim vai...
 
Renata – Ninguém vai definir nada agora. Os candidatos majoritários estão observando um ao outro. Ninguém vai se posicionar agora. O jeito é formar as chapas, fazer as contas para saber quem vai e quem não vai, buscar a acomodação em uma coligação ideal e esperar a definição dos puxadores dos palanques.
 
Nerter – Mas pressionar nunca é de mais, não é?
 
Renata – Ah, sim, faz parte. 

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