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Vale nega auxílio-alimentação, mesmo com lucro recorde de R$ 30 bi no trimestre

“Recusa é inadmissível”, afirma presidente do Sindfer, que conclama demais 12 sindicatos numa jornada humanitária

Divulgação/ Sindfer

“Há vida além do lucro”. Em Carta Aberta ao Conselho de Administração da Vale, aos seus acionistas minoritários e aos demais 12 sindicatos que atuam na mineradora em todo o Brasil, o Sindicato dos Ferroviários do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer) conclama todas as 13 entidades sindicais a se unirem em uma reivindicação para que a Vale conceda apoio emergencial na alimentação dos trabalhadores de suas plantas industriais no país e das comunidades impactadas por suas atividades.

Chamada de “jornada solidária, humanista e supra sindical”, a iniciativa foi lançada nessa quinta-feira (29), após a divulgação do resultado financeiro da mineradora neste primeiro trimestre de 2021, em que o lucro líquido obtido entre janeiro e março foi de R$ 30 bilhões (5,546 bilhões de dólares). A fantástica cifra, destaca a Carta Aberta, nunca havia sido alcançada antes, sendo equivalente a um aumento de 2.220% em relação ao mesmo período de 2020.


O presidente do Sindfer, Wagner Xavier, conta que há poucas semanas, a entidade recebeu uma resposta negativa para dois pedidos feitos à Diretoria de Pessoas (que congrega setores de recursos humanos, relações trabalhistas e sindicais) e ao Conselho de Administração da empresa: a concessão de um tíquete-alimentação extra aos empregados e a doação de cestas básicas à população das comunidades do entorno das áreas de mineração da Vale.

Diante do lucro recorde e histórico, “o Sindfer entende ser injustificáveis as negativas da empresa às reivindicações”, afirma o presidente, ao assinar a Carta em nome da direção do sindicato.

A entidade reconhece a “notável e elogiável ação” da Vale, ao importar e doar ao governo federal um quantitativo importante de testes rápidos, máscaras, respiradores e kit-intubação para o enfrentamento da pandemia de Covid-19. Reconhece também o atendimento à reivindicação dos sindicatos por tíquetes extras feita no ano passado. Mas declara ser “inadmissível que a empresa se amesquinhe diante de um novo cenário que replica o ano passado de forma ainda mais grave”, justamente no momento em que ela ultrapassa a marca de US$ 104 bilhões em valor de mercado, tornando-se a empresa mais valiosa da América Latina (à frente dos gigantes Mercado Livre argentina [US$ 80 bi], Wal-Mart mexicana [US$ 56,9 bi] e Petrobras [US$ 54,9 bi]).

“Trata-se da necessidade real e urgente de seus empregados fazerem frente à escalada de preços, sobretudo de gêneros alimentícios”, afirma Wagner Xavier, ressaltando “o drama vivido neste exato momento por mais de 116,8 milhões de brasileiros, em situação de insegurança alimentar ou passando fome no Brasil”, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

Nesse sentido, o Sindfer conclama a união do conjunto dos demais 12 sindicatos que atuam na Vale S/A; seus dirigentes e centrais sindicais que os representam; o representante dos trabalhadores junto ao Conselho de Administração; além de demais sindicatos coirmãos de outras categorias profissionais em todo o país, e forças políticas e sociais que os apoiam.

O chamado é para que, juntos, proclamem “repúdio à indiferença da empresa diante das necessidades emergenciais dos trabalhadores e do drama por que passa a parcela invisível da nossa população, que compõe o setor menos favorecido de nossa sociedade, sobretudo comunidades do entorno da Vale S/A, que já nem pede mais do governo auxílio-emergencial, mas um prato de comida”.

A ação exige foco no que é consenso entre os 13 sindicatos. “Se não nos insurgirmos agora chamando a Vale S/A à responsabilidade de suas obrigações perante aos empregados e à população brasileira dilacerada pela fome, poderá ser tarde deixar para exigir essa postura da empresa apenas diante da mesa de negociação do ACT Nacional [Acordo Coletivo de Trabalho]”.

Relatório de Insustentabilidade
Paralelamente ao chamado do Sindfer, a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale disponibiliza o Relatório de Insustentabilidade da Vale 2021, o quarto de uma série que a Articulação vem produzindo desde 2010.
A publicação, também chamada de relatório espelho, confronta e desconstrói, com dados, as informações divulgadas pela Vale em seu Relatório de Sustentabilidade, que a empresa publica anualmente e por meio do qual procura divulgar aos seus acionistas e para a sociedade em geral sua suposta responsabilidade socioambiental.
Entre os pontos críticos do relatório espelho de 2021, a Articulação destaca: a explosão de casos de contaminação por Covid-19 nos territórios onde a Vale atua, desrespeitando normas sanitárias e expondo funcionários e populações locais ao adoecimento; a saída da empresa de territórios que explorou por anos, deixando para trás impactos socioambientais, dívidas e violências nunca reparadas; a estratégia de terceirização massiva usada pela transnacional para ampliar lucros à custa da precarização da vida dos trabalhadores; e o racismo da empresa, que elege territórios de populações negras e originárias para instalar suas operações altamente poluentes e devastadoras.

Mesmo já disponível para download, o documento será lançado oficialmente na próxima quarta-feira (5), às 16hs, em uma live com a participação de lideranças de territórios impactados pela mineradora e das pesquisadoras Karina Kato e Jéssica Siviero, responsáveis pela sistematização dos dados do relatório e coordenação da diagramação.

As mazelas socioambientais que sustentam os bilionários lucros da maior mineradora do mundo também são abordados no sétimo episódio do podcast Vozes que Vale(M)!, lançado nesta sexta-feira (30), a partir de entrevistas com as duas pesquisadoras e com Antonio Sinalo, ativista independente de Moatize, Moçambique, que luta pelos direitos das pessoas afetadas pela transnacional naquele país.

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