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‘A situação só se agrava’, diz advogado sobre greve de ônibus em Guarapari

Em audiência nesta terça-feira, empresa não apresentou proposta de pagamento aos funcionários

Sara de Oliveira

A Expresso Lorenzutti, responsável pela operação do transporte público em Guarapari, segue sem uma proposta de pagamento para os funcionários. Em audiência realizada nesta terça-feira (21), a empresa voltou a afirmar que não tem dinheiro para pagar os trabalhadores, com salários atrasados desde abril. “A situação só se agrava”, aponta o advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Guarapari (Sintrovig), Adriano Braga.

Os trabalhadores cobram o pagamento de 50% do salário de abril, 100% do vencimento de maio, e o ticket alimentação de junho, que venceu nessa segunda-feira (20) e também não foi pago. A audiência realizada na manhã desta terça era referente ao processo na Justiça do Trabalho que cobrava o pagamento do salário de abril. No encontro, esperava-se que a Lorenzutti apresentasse alguma proposta de pagamento, o que não ocorreu. “Simplesmente não teve proposta de pagamento. Ela alega que não tem dinheiro pra pagar os funcionários”, informa Adriano.

Para tentar garantir o salário dos funcionários, o sindicato havia pedido o bloqueio de R$ 165 mil da Expresso Lorenzutti, solicitação que foi concedida pela Justiça, em uma decisão do último dia 13. De acordo com Adriano, até o momento, R$ 45 mil foram bloqueados. “A gente aguarda chegar ao total de R$ 165 mil para repassar esse dinheiro para os trabalhadores. Acreditamos que até sexta-feira o restante seja bloqueado”, explica.

Segundo o sindicato, nesta terça, cerca de 60% do transporte público circula em Guarapari. A paralisação foi iniciada no último dia 13 de junho, segundo o sindicato, por iniciativa dos próprios trabalhadores. Esta semana, parte dos profissionais decidiu voltar aos postos de trabalho.

É o caso de uma cobradora, que preferiu não se identificar. A profissional decidiu voltar a trabalhar mesmo sem receber os valores atrasados. “Vou fazer o que? Só Deus sabe quando vão resolver. A gente não tem esperança de nada nesse mundo mais não”, diz.

Essa também foi a decisão de Fábio, motorista na empresa há quatro anos, que conta que a situação já está difícil em casa, com as contas se acumulando. Já o colega Leandro diz que só voltou a trabalhar porque vai pedir demissão em breve. “Faz anos que está assim [com problemas de atraso no salário]. Eu já tinha saído, resolvi voltar e agora deu nisso de novo. Não vão resolver nunca”.

Enquanto o problema não é resolvido, a população precisa lidar com uma frota reduzida de veículos. “A gente ficou sabendo, por meio dos trabalhadores, que eles estão contratando mais 15 motoristas hoje. Os trabalhadores não estão aguentando trabalhar. Estão abandonando os serviços e ela está contratando novatos para ganhar tempo. Mas não há perspectiva nenhuma. E olha que o salário é o mínimo”, relata Adriano.

Empresa pede socorro à prefeitura

Em entrevista coletiva nessa segunda-feira (20), representantes da empresa alegaram que o valor atual da tarifa (R$ 4,10) não cobre as despesas da empresa. Segundo a Lorenzutti, para conseguir fechar as contas, a tarifa técnica deveria ser de R$ 7,50. A alternativa, segundo a organização, não seria aumentar o valor da passagem, mas que o município subsidiasse o sistema ou custeasse todos os passageiros que utilizam o sistema de gratuidade.

A curto prazo, para conseguir pagar os valores devidos aos funcionários, a empresa pede que a prefeitura faça o adiantamento das verbas dos vales transportes dos funcionários públicos da cidade.

Por meio da Secretaria de Postura e Trânsito (Septran), a Prefeitura de Guarapari informou que o reajuste da tarifa é feito anualmente, conforme dados apresentados pela empresa. “Sobre o adiantamento de compra de tarifa, conforme solicitado, o município já realizou por quatro vezes e está em análise o pedido atual. Quanto à possibilidade de subsídio, não há previsão contratual para esse suporte financeiro”.

Mesmo com os problemas recorrentes no pagamento dos trabalhadores, a Prefeitura de Guarapari afirma que não há intenção do município em romper o contrato com a empresa, a única que faz o transporte público na cidade.

Tribunal de Contas já foi acionado

Este ano, o vereador de Guarapari, Rodrigo Borges (Republicanos), protocolou uma representação no Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES), pedindo uma investigação do transporte público do município. Na época, o parlamentar denunciou a omissão da gestão de Edson Magalhães (PSDB) para prestar informações sobre a regularidade do serviço, apontando ainda a precariedade do atendimento.

Os problemas no transporte público de Guarapari são denunciados há anos. Uma comissão especial chegou a ser instaurada na Câmara para investigar a regularidade da atuação da Lorenzutti, mas um relatório final do colegiado, assinado no último dia 21 de março, encerrou as atividades, alegando falta de respostas do Executivo e incapacidade técnica.

Enquanto isso, quem sofre são os moradores. Em entrevista ao Século Diário no último mês, antes do início da paralisação, a professora Lívia Pereira Fantinato, que depende do transporte público do município para trabalhar, apontou que os problemas se intensificaram nos últimos meses.

“Estamos em situação de insegurança. Os ônibus não passam no mesmo horário, que corresponde às tabelas, as rotas dos ônibus também muitas vezes não condizem com a realidade do público de Guarapari, então a gente fica no prejuízo, principalmente quem depende do transporte público para trabalho e estudo”, disse na ocasião. 

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