Quinta, 25 Abril 2024

É preciso pensar as especificidades de ser mulher nas cidades

É preciso pensar as especificidades de ser mulher nas cidades

O simples fato de ser mulher implica uma relação diferenciada com o espaço público. Na próxima segunda-feira (9), esse tema será um dos debatidos no evento "12 horas de ativismo", que acontece no Auditório Manoel Vereza, na Universidade Federal do Estado (Ufes), em referência ao Dia Internacional da Mulher.


Uma das convidadas para o debate "Mulher e Espaço Público" é a professora de Arquitetura e Urbanismo da Ufes, Karla Caser. Para ela, a mulher percebe mais e fica mais incomodada com a falta de manutenção dos espaços, que geram uma maior sensação de insegurança. A percepção de insegurança faz com que elas geralmente transitem acompanhadas em certos espaços, ao contrário dos homens. O assédio também é uma preocupação constante feminina. Dentro dos equipamentos públicos, espaços como quadras de esporte também são pouco usadas pelas mulheres, sejam adultas ou crianças.


No transporte público, também há diferenças relacionadas com questões de gênero. Uma pesquisa da mestranda Maiara Dias, orientada por Karla Caser, foi feita na Ponte da Passagem, em Vitória. Indicou diferenças na forma como a mulher usa os meios de transporte, recorrendo menos a alternativas como as bicicletas. "O trajeto que as mulheres fazem geralmente é mais 'picado', levam filhos na escola, passam no supermercado. Isso não é atendido pelas ciclovias, que funcionam como vias arteriais. Ao tratar a mobilidade urbana, para que a mulher seja atendida, é preciso pensar de forma específica", considera a professora. 


Outra pesquisa orientada por Karla, feita pela mestranda Winnie Pereira, analisou duas praças localizadas no bairro Barcelona, na Serra, e a percepção que os moradores do entorno possuem sobre as mesmas e o uso que fazem delas. A professora destaca que embora localizadas a uma distância pequena uma da outra, separadas por poucas quadras, há muitas diferenças.



"Uma praça tem elementos no entorno, uma escola, um bar, um ponto de ônibus, uma auto-escola, tem movimento de pessoas. Para ter um local seguro, se considera importante ter pelo menos três usos diferentes", explica. Na outra, não há empreendimentos, mas um grande muro, que contribui para a sensação de insegurança.



Nos espaços públicos há formas de qualificar o urbanismo considerando não só a questão das mulheres, mas outras especificidades em busca da inclusão, para que todos possam fazer uso dos locais atendendo às suas necessidades.


Karla Caser explica que os estudos da arquitetura considerando questões de gênero e interseccionalidade são relativamente recentes. A ideia de uma arquitetura universalista que pudesse atender a todos começou a ser questionada internacionalmente a partir dos anos de 1960 e 1970, na esteira dos acontecimentos mundiais que traziam questionamentos em diversas áreas em relação às identidades múltiplas e questões de gênero.



No Brasil, porém, o debate surgiu com um pouco de atraso, segundo a professora da Ufes. Isso porque, durante o período da ditadura militar, devido ao regime mais fechado, a questão pouco avançou. Só a partir do fim dos anos 80, com o período de abertura política, que começou a ganhar campo. "A preocupação com necessidades do usuário em geral é recente. É preciso pensar a interdisciplinaridade, por exemplo como a Psicologia pode ajudar a Arquitetura, já que os espaços embora não determinem o comportamento das pessoas, ajudam a influenciar, a ter um comportamento ou outro", afirma.


Para ela, interseccionalidade ainda é um termo pouco usado em Arquitetura e Urbanismo, assim como falar em feminismo ainda assusta nessa área. Estas e outras questões serão aprofundadas no evento de segunda-feira, organizado pelo Laboratório de Pesquisas sobre Violência Contra a Mulher no Espírito Santo (LAPVIM), cuja programação pode ser conferida a seguir.


12 horas de Ativismo - Dia Internacional da Mulher


Quando: Segunda-feira (9), de 8h30 às 20h30


Onde: Auditório Manuel Vereza - Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) do Campus da Ufes em Goaibeiras - Vitória (ES)


Programação:


Em frente ao Teatro Universitário:


8h30 - Hasteamento da bandeira que representa o movimento feminista (em frente ao Teatro Universitário)


No auditório Manoel Vereza:


9h-  Lei Maria da Penha vai à Escola, com Luzia Toledo (MDB) e Layla Atab Gama (Ifes)


10h- Lançamento do livro do projeto de extensão Fordan, com Rosely Silva Pires


10h30 - Planejamento estratégico no enfrentamento às violências contra a mulher - Débora Provetti (Ufes)


11h - As minas e os boys: curtindo e compartilhando negritude, com Heloisa Ivone da Silva de Carvalho (Fórum Nacional das Mulheres Negras)


 


13h30 - Procuradoria da Mulher - deputada estadual Janete Sá


15h - Rede de Apoio e Enfrentamento à Violência de Gênero no Espírito Santo - Maria Beatriz Nader (Ufes)


16h - Mulher e Espaço Público, com Karla Caser (Ufes) e Daniella Bonatto (Ufes)


17h- Roda de conversa com as mulheres do Centro Histórico - Rozilene Sá (vice-presidente do Conselho de Segurança da PMV)


 


18h - Exibição do filme A Vida Invisível


20h - Debate com Cláudia Murta (Ufes) e Márcia Barros (Ufes).

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