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‘Guerrilha virtual’ consagra Cotaxé como ‘capital das lutas camponesas’

Evento nesse final de semana colocou placas com o título em espaços do distrito de Ecoporanga

O último sábado (20) consagrou Cotaxé, no município de Ecoporanga, na região noroeste, como a capital das lutas camponesas no Estado. Durante a tarde, como parte da programação da Jornada de Cotaxé, foi realizada uma “guerrilha virtual”, ou seja, a distribuição, em toda a localidade, de placas nas quais estava escrito “Cotaxé -ES Capital das Lutas Camponesas do ES – Universidade Livre de Cotaxé”.

Luciana GB

Ao som da música Bota Fé, de autoria de Patrick Ericcson e Vander Antônio Costa, este último, um dos organizadores da Jornada, pessoas vindas da Grande Vitória se uniram a moradores do distrito em uma verdadeira integração campo-cidade e afixaram as placas nas residências, estabelecimentos comerciais, espaços públicos e outros lugares, sendo praticamente impossível a quem visita e a quem mora na região não visualizá-las e não ter sua curiosidade despertada pela iniciativa.

Vander afirma que a “guerrilha virtual” busca, entre outros objetivos, contribuir para que as pessoas tenham orgulho de ser cotaxeenses. “Aqui de fato houve um movimento organizado de enfrentamento à força repressiva do Estado, à jagunçagem, à grilagem, aos madeireiros. Foi um movimento organizado de resistência”, diz. A Jornada também contou com atrações musicais e lançamento do livro Conde Trápula: Uma Vítima da TV em Cores, do historiador e escritor Márcio Miranda Moraes.

Um dos passos, agora, é contatar as pessoas que participaram da Jornada e também de atividades anteriores de integração campo-cidade, como o Seminário de Humanidades, que já teve seis edições, todas realizadas em Cotaxé, para encaminhar sugestões para o funcionamento da universidade. Elas poderão opinar sobre diversas questões, como cursos a serem oferecidos, maneiras de envolver a comunidade, e formas de financiamento da instituição. 

Vander destaca que a universidade irá partir sempre da experiência de vida dos moradores de Cotaxé, por isso a necessidade de envolvê-los durante a elaboração da instituição de ensino e em todos as etapas posteriores.

A Universidade Livre de Cotaxé foi idealizada por um grupo de ativistas e artistas capixabas. Sua pedra fundamental foi lançada em janeiro deste ano. Entre seus objetivos, estão a preservação da memória histórica das lutas camponesas no Espírito Santo; a sensibilização dos trabalhadores, em especial as novas gerações dos acampamentos e assentamentos da reforma agrária, a partir dos trabalhos de educação popular; parcerias com coletivos envolvidos com pesquisas e estudos que priorizem saberes e práticas camponesas de convivência; além de promover, apoiar e subsidiar iniciativas de lutas dos trabalhadores do campo, das águas e das florestas.

A universidade, explica Vander, não seria vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Seu objetivo será oferecer cursos sobre questões populares, estabelecendo parcerias com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), escolas agrícolas, entre outras instituições de ensino. A universidade também estará aberta para movimentos sociais, coletivos e pessoas que queiram contribuir, não sendo descartada a possibilidade de, além de atividades presenciais, serem realizadas também as virtuais.

Histórico

No início da década de 1950, sob liderança de Udelino Alves de Matos, lavradores, posseiros e sem-terra se uniram contra os latifundiários para lutar pelo acesso à terra na região de Cotaxé. A luta foi fortemente debelada por militares e jagunços e levou à fuga e morte vários camponeses e lideranças, fazendo valer os interesses de fazendeiros e madeireiros da região. A insatisfação da população seguiu, porém, e novamente se organizou, anos depois, já sob liderança do Partido Comunista do Brasil (PCB), um conflito que se estende até os primeiros anos da ditadura civil-militar iniciada em 1964.

Com a terra nas mãos de poucos, Ecoporanga teve o início de sua economia moderna com a extração madeireira, seguida pelo café, que com a política de erradicação, foi sendo substituída pelo gado leiteiro e de corte, que hoje ocupa grande parte do território, em sua imensa maioria desmatado, com uma população humana que decresceu ao longo das décadas enquanto a população bovina crescia e a superava. Mais recentemente, a indústria de mármore e granito também vem ocupando destaque na economia, com base no extrativismo mineral.

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