A política de tatear

O momento político capixaba é de tatear muito e de especular em dose dupla. Enquanto os políticos seguem tateando o alambrado e o meio fio, toda a mídia especula e faz "cálculos" de probabilidades. O clima de antecipação, de incertezas e de ZIG-ZAG deve durar uma eternidade,até pelo menos março'de 2014. Até lá, cenários e mais cenários serão construídos e modificados.

 

No campo de ação do governador Renato Casagrande (PSB), já candidato assumido à reeleição, a sua reiterada insistência em caminhar pela trilha da "união" ( unanimidade?) e, ao mesmo tempo, as incertezas sobre a eventual confirmação ( ou não) da candidatura do governador Eduardo Campos à presidência da República, são, ao mesmo tempo, focos de contradições , incertezas e inseguranças. 

 

Na ânsia de soldar uma"união" cada vez mais dificultada pela própria conjuntura de incertezas e contradições, Casagrande exagera na dose de atração de "aliados" que embarcam na sua nova Arca de Noé mas que produzem um governo loteado de políticos com pouco atrelamento à gestão. Produzem mais calor do que luz. Focos de paralisia decisória num momento em que o governo precisa governar e mostrar serviço. Além disto, esta Arca de Noé não é garantia certa de soldagem de alianças para 2014, pois tudo indica que haverão mais uma ou duas candidaturas à governadoria no Espirito Santo. A Arca é, portanto, foco do vírus da traição e da disputa dos espaços para candidaturas proporcionais.

 

Ao mesmo tempo, com a incerteza da candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB) , Casagrande movimenta-se com uma espada sobre a cabeça e, aí, dá um passo em falso: adota o velho "axioma" Hartunguista da "neutralidade", vende o peixe para o próprio Eduardo Campos e para o ministro Mercadante, mas sai com a imagem chamuscada. Logo ele, político atrelado historicamente ao seu PSB, de perfil partidário. Macaciel Breda , presidente estadual do PSB, tentou traduzir para o distinto público a tática da neutralidade. Mas, mesmo com muito contorcionismo verbal, não convenceu. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Por enquanto, o que o governador passou para o distinto público foi a impressão do político obstinado pela ideia de manutenção do poder. Isto é positivo ou negativo? As pesquisas e as urnas dirão.

 

( Parênteses. Pessoalmente, estou na minoria de brasileiros que não acreditam que no final das contas, lá em março de 2014, o governador Eduardo Campos vai ser mesmo candidato à presidência em 2014. Ele vai mesmo correr o risco de ir para uma Campanha e poder correr o risco de receber o rótulo do político que "cuspiu no prato que comeu"? Ele vai correr o risco de repetir o fenômeno Ciro Gomes e sair no final da Campanha menor do que entrou? Por último: vai colocar em risco o projeto de poder nacional do PSB , incluindo aí o projeto de poder do governador Casagrande?).

 

E tome de tatear. O campo do ex-governador Paulo Hartung também repete o mantra da "união", mas semeia dúvidas no distinto público e nos aliados políticos sobre qual vai ser a decisão de Hartung. Candidato a senador? Candidato a governador? Não candidato? Ao semear dúvidas para manter acesa a chama da expectativa de poder, Paulo Hartung produz sementes de cizânia no campo de Renato Casagrande. Isto é inevitável. No jogo de espelhos, Casagrande defende, até com unhas e dentes, o legado e a imagem de Paulo Hartung. E Hartung retribui dizendo que seguirá em 2014 o comando do governador. Seguirá mesmo? Em quaisquer circunstâncias? E se Eduardo Campos for mesmo candidato à presidência? São todas contradições em termos. Com todo mundo dormindo de olhos abertos.

 

Pessoalmente, penso que Paulo Hartung será levado pelas circunstâncias (a fortuna de Maquiavel) à uma candidatura majoritária. Ainda mais ele, que é mestre em sintonizar fortuna-e-virtú. A não ser que venha a tomar uma decisão pessoal , daquelas dramáticas, de encerrar a carreira política e guardar-se como líder político. Esta opção pelo encerramento da carreira não é hoje verossímil, dadas as novas circunstâncias. Hartung vai defender o seu legado e a sua biografia. E ele sabe que sem mandato e sem caneta isto fica muito difícil . Ele, que é político de grupo, está sendo pressionado neste sentido. Pode, até mesmo, ser candidato a governador. Tem mais apetite político para isto do que para uma candidatura ao Senado. Mas vai defender a biografia. Há alguns anos, ele costumava comentar que não entendia como e por que o ex-governador Vitor Buaiz tinha decidido abandonar a política e, com isto, tinha "jogado a sua (de Vitor Buaiz) biografia na lata do lixo".

 

E, aí, vem a já provável candidatura do senador Magno Malta à governadoria. Ele passou o final de 2012 e o começo de 2013 tateando, mas agora parece decidido. Vai tateando em outro sentido: constrói pontes para formar um palanque para Dilma Rousseff no Espirito Santo e, ao mesmo tempo, reforça a hegemonia dele no PR capixaba. Com estes dois movimentos, pode surgir lá na frente como um candidato não só competitivo, mas também viável. Bom de discurso e de palanque, Magno vai buscar os votos dos rincões, do interior, das periferias, da "nova" classe C e, é claro, dos evangélicos.

 

Com o apoio do seu PR e do núcleo da aliança nacional que vai apoiar a candidatura da presidente Dilma, Magno Malta passa e passará a ter chances. E, aí, bingo: vai mexer com o tabuleiro das expectativas de poder no Espirito Santo e atrair para o seu palanque uma parte do pessoal que está hoje alojada na Arca de Noé do governador Casagrande. Com sua capacidade, como Lula, de falar a linguagem das pessoas comuns, Magno Malta poderá ajudar a eleger deputados estaduais e deputados federais, provocando , também, cizânia na Base de Casagrande. 

 

Este parece ser, hoje, o quadro político da sucessão estadual no Espírito Santo. Em torno destes três campos, as peças políticas vão se movimentando. No final, poderão ser construídas duas ou três candidaturas. A tese da candidatura da unanimidade é cada vez mais improvável.