As eleições municipais produziram um novo fenômeno político chamado Amaro Neto (SD), deputado estadual, o mais votado por sinal, que na disputa à prefeitura de Vitória surpreendeu com uma votação estupenda. Capaz de credenciá-lo para voos eleitorais mais altos, como uma disputa ao Senado.
E, mesmo que não encare, só o mapa eleitoral já é suficiente para merecer, pelos menos, uma apreciação. Por razões óbvias de quem chegou para ocupar o espaço do populismo vazio, desde que o desocupou, ainda nos anos 50-60, o ex-prefeito de Vitória e Vila Velha, Solon Borges.
Amaro foi o mais votado em toda a periferia. Perdeu, assim mesmo por bico de proa do prefeito Luciano Rezende (PPS), na voga de um barco apinhado de políticos, com o governador Paulo Hartung (PMDB) por detrás, que os colocou para evitar um fenômeno que não estava nos seus planejamentos iniciais.
Feito o quadro, é realmente excepcional suas implicações políticas, sobretudo, o que se assiste tanto na imprensa local como nos meios político: um silêncio sepulcral sobre ele. Assim, como fosse um terremoto que abalou estruturas políticas do Estado.
Evidente que estão também contando com a fragilidade estrutural do próprio Amaro Neto, que foi a essa disputa com um pequeno grupo, capitaneado por um jornalista desconhecido por aqui, que atende por Jefinho, mas muito competente politicamente. Olhando, pois, para dentro desse diminuto grupo, vamos encontrar algumas derrapadas.
Como, por exemplo, a escolha do partido, o Solidariedade, que não casa com sua condição, e ainda está entregue a um político de voo curto, que é o deputado federal Carlos Manato, cuja pretensão não vai além de reeleger-se e continuar esperando um governo que o contemple com um cargo vitalício de conselheiro do Tribunal de Contas.
Quando PH ainda queria Amaro para tirar o Luciano do segundo turno, mediram-no apenas pela votação que teve à Assembleia Legislativa, daí o descalço que deram nele no segundo turno. Como uma ação de legítima defesa eleitoral, PH juntou o povo dele todo na candidatura do Luciano, que o governador conhece muito bem e tem noção absoluta da sua condição eleitoral. Para chegar ao Palácio Anchieta, por exemplo, só numa outra excepcionalidade política, como essa das eleições de Vitória.
Olhando o histórico político do Luciano, vamos encontrá-lo patinando em quatro mandatos de vereador, até chegar a ele também um jornalista, mas sobretudo um excepcional articulador político, chamado Luiz Carlos Azedo. Levou-o para o PPS e o produziu, com a ajuda do marqueteiro Jorge Arapiracá (com o gesto da mudança) à prefeitura de Vitória.
A pequena estrutura do Amaro Neto ganhou reforços por ocasião da disputa, com a participação do ex-vereador Ademar Rocha, do tipo que conhece a natureza do voto na Capital, além de ser também um bom articulador. Por ocasião do primeiro turno, o governador Paulo Hartung forneceu o integrante do seu gabinete, Roberto Carneiro, para ser o vice dele, incorporando-se também ao grupo o secretário da Agricultura, Otaciano Neto, que foi inclusive, o coordenador da última campanha de PH ao governo do Estado.
O Roberto já voltou para o cargo que ocupava no gabinete do governador e Otaciano não foi mais visto junto ao grupo do Amaro. Deixaram o deputado com o seu pequeno grupo original. E o silêncio da imprensa. Ou melhor, o tratamento sem o justo tamanho que o Amaro passou a representar na política capixaba. É o chamado processo de arrefecimento (PH é pós-graduado na matéria).
Principalmente numa hora em que há uma inflação de candidatos ao Senado e muito bem nivelados: senadores Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PSDB), o próprio governador Paulo Hartung (PMDB) e, se duvidar, o ex-governador Renato Casagrande (PSB).
Pesos pesados da política capixaba que precisam, para acomodá-los, das duas vagas que estarão em jogo nas eleições de 2018. Amaro entrando na disputa, como deveria ser o seu caminho natural, pega uma vaga deles. O desafio, portanto, será o deputado conseguir se viabilizar sob o silêncio da imprensa e isolamento político. Vai encarar o desafio, num Estado em que PH acostumou-se a fazer a divisão de vencidos e vencedores?