Domingo, 28 Abril 2024

As ovelhas de Hartung

As denúncias que recaem sobre o ex-governador Paulo Hartung têm uma peculiaridade: os personagens envolvidos nos escândalos, quase sempre, são os mesmos. 

 
Esse fato não pode e não deve ser tratado como uma mera coincidência. Essas mesmas pessoas estão estrategicamente com Hartung há anos. Elas formam o núcleo duro que dá proteção ao ex-governador em troca de benesses. 
 
Reparem como os nomes se repetem. No caso do Sincades – repasse suspeito de incentivos fiscais concedidos a empresas do setor atacadista –, figuram Hartung e Bruno Negris, ex-secretário da Fazenda do ex-governador (atual presidente do Banestes). Negris já declarou, publicamente, que Hartung não tem culpa no "cartório", dando a entender que, caso a coisa se complique, vai para o sacrifício sem pestanejar. 
 
No episódio do “posto fantasma” de Mimoso do Sul, obra de R$ 25 milhões que não chegou a sair da fase de terraplanagem, aparecem novamente, além de Hartung, Negris e outro ex-secretário da Fazenda de Hartung, José Teófilo. 
 
Sócio de Hartung na consultoria Econos, Teófilo aparece envolvido em outras ações suspeitas com o ex-governador. Todas envolvendo cifras na casa dos milhões de reais. Quem não se lembra do esquema de compra e venda de terrenos em Presidente Kennedy para Ferrous Resources? Transações intermediadas por Teófilo que até agora não foram explicadas, mas que enriqueceram muita gente. 
 
O ex-secretário de Transportes de Hartung e atual presidente da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), Neivaldo Bragato, é outro membro cativo do núcleo duro de Hartung, também envolvido em ações suspeitas. Só para citar um episódio fraudulento mais recente, no mês passado a Justiça decretou a indisponibilidade dos bens de Bragato por supostas irregularidades na dispensa de licitação para a realização de obra emergencial no município de Itapemirim em 2007.
 
As ligações dos membros do núcleo duro não param por ai. Reportagem publicada nesta quinta-feira (4) por Século Diário aponta que Teófilo e Bragato, novamente eles, foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por irregularidades praticadas na época em que faziam parte do Conselho de Administração do Banestes. Nessa ação, os promotores pedem a condenação de todos os envolvidos por dano moral coletivo, além do ressarcimento do prejuízo ao erário.
 
No caso do Banestes, também é denunciado o ex-secretário de Educação de Hartung, Haroldo Correa, que andava meio sumido desde as eleições do ano passado. Correa foi candidato a vice-prefeito de Vitória imposto por Hartung na chapa encabeçada por Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), que saiu derrotado na disputa. Se Luiz Paulo vencesse, Haroldo seria o homem de confiança de Hartung na prefeitura. Não deu. 
 
Na estratégia dos advogados de Hartung para defendê-lo das acusações do “posto fantasma” de Mimoso do Sul, fica claro como funciona o esquema do núcleo duro. Observem esta passagem da peça da defesa de Hartung: “Não era da responsabilidade do Chefe do Executivo a verificação da necessidade de construção do posto fiscal ou de sua desativação, como também não era de sua competência fiscalizar a realização da obra, licitação e bem mesmo sua necessidade e conveniência”, alegam os advogados. Para eles, Hartung apenas cumpriu suas atribuições de governador, cuja análise seria de competência exclusiva dos secretários.
 
Em todos os casos exemplificados, fica patente que Hartung se cerca das mesmas pessoas para se proteger. Essas pessoas estão dispostas a oferecer a própria cabeça para salvar o líder. Na regra de PH, não é o pastor que se sacrifica para salvar o rebanho, mas o contrário. 

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