Nas próximas horas, o imbróglio criado dentro do PSDB capixaba deve ter um desfecho. Talvez parta de Brasília uma ordem do manda-chuva do partido, senador Aécio Neves, para pôr ordem na casa.
O tucano pode vetar a “pré-aliança” celebrada com o PMDB de Lelo Coimbra à revelia da nacional, da estadual e de Luiz Paulo Vellozo Lucas, protagonista que deflagrou a discórdia dentro do ninho tucano ao jogar a toalha e anunciar que não conorreria mais à prefeitura de Vitória e que rumaria para o palanque do prefeito Luciano Rezende (PPS).
Decisão que pela lógica é a mais factível às ambições da nacional do partido. A estratégia de Aécio para as eleições municipais deste ano é pavimentar o caminho para 2018, conquistando sobretudo capitais e municípios com densidade eleitoral. Essa estratégia, a propósito, passa ao largo do projeto de vingança pessoal do governador Paulo Hartung (PMDB), que quer derrotar, num golpe só, Luciano Rezende e o ex-governador Renato Casagrande (PSB) – principal cabo eleitoral do prefeito.
Para pôr em prática seu projeto, Hartung se valeu de um expediente recorrente no seu modus operandi de fazer política divorciada da ética. Cooptou duas lideranças de peso do PSDB – o vice-governador César Colnago e o senador Ricardo Ferraço – dispostas a operar a manobra palaciana. Hartung sabia que a dupla tucana não hesitaria em arrendar a própria legenda para dar azo ao plano do peemedebista.
A coluna publicada pelo jornalista Élio Gaspari desta quarta-feira (3), replicada em várias jornais do País, obviamente não foi inspirada no caso capixaba, mas analisa com precisão as mazelas do PSDB. Gaspari alerta sobre a ameaça do presidente interino Michel Temer (PMDB), caso melhore seus índices de aprovação, de quebrar o acordo firmado com os tucanos para disputar a Presidência da República em 2018.
No desfecho da analise, que aponta que o plano de Aécio e companhia pode estar em risco, o jornalista afirma: “Isso tudo [se referindo à movimentação de Temer] e mais a autofagia histórica dos tucanos de carteirinha ou de alma. São notáveis políticos, capazes de brigar até mesmo pelo assento de uma cadeira elétrica”.
A “autofagia histórica dos tucanos”, como definiu Gaspari, se encaixa como uma luva no caso capixaba. O instinto da autofagia tomou conta de Colnago desde que ele assumiu o comando do partido, transformando o PSDB numa sublegenda de Hartung. No episódio da aliança com o PMDB, Colnago e Ricardo Ferraço não pensaram duas vezes: alimentaram-se de seus iguais, que o diga Luiz Paulo, para saciarem suas ambições políticas.