São impressionantes as imagens dos presos que sofreram queimaduras nas nádegas após ficarem sentados sob o chão quente no pátio da Penitenciária do Xuri, no segundo dia do ano. A denúncia veio à tona na última sexta-feira (11), oito dias depois do suplício. O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, fez questão de divulgar as fotos dos presos lesionados. Ele classificou o episódio como “vergonhoso”.
Impressiona também é grande repercussão da reportagem de Século Diário sobre mais um caso de violação nas unidades prisionais do Estado. A matéria sobre as torturas no Xuri provocou um polêmico debate entre os leitores do jornal: alguns se disseram indignados com a sessão de tortura imposta aos internos, outros criticaram o discurso do presidente do Tribunal, entendendo que ele quer “defender bandidos”.
Os comentários assustam. Muitos leitores defendem abertamente as práticas de tortura aplicadas no Xuri. Alguns chegaram até a resgatar a frase do ex-deputado do Rio de Janeiro e um dos fundadores da Scuderie Le Cocq, José Guilherme Godinho, o Sivuca, que ficou famoso pelo bordão: “Bandido bom é bandido morto”.
Preocupa o sentimento colérico desses leitores que defendem que as prisões devem funcionar como masmorras medievais. Lamentavelmente, essas pessoas, talvez inconscientemente, estão fazendo apologia à violência. Nessa lógica perversa, quanto mais cruel e severo o castigo imposto aos presos, melhor.
Independente das razões que alimentam em alguns esse sentimento que mistura vingança e ódio, não é prudente para a sociedade retroceder. Senão, sem perceber, essas mesmas pessoas estarão pedindo a reedição da lei do tailão, instituída pelo rei babilônico Hamurabi (século XVII a.C.), que pregava a lógica do “olho por olho, dente por dente”.
É preciso lembrar que o Espírito Santo é há mais de uma década é um dos estados mais violentos do País. Pertencem ao Estado capixaba os recordes nacionais de violência em quase todos os segmentos etários e de gêneros.
Se o modelo medieval de prisão funcionasse, o Estado teria reduzido suas taxas de homicídios durante a gestão de Paulo Hartung (2003 – 2010), que ficou conhecido mundialmente como o “senhor das masmorras”. Nessa que foi uma das passagens mais sangrentas da história recente do sistema prisional capixaba, ainda não se sabe exatamente o número de presos que foram assassinados ou sequelados dentro das unidades prisionais.
De outro lado, as estatísticas de homicídios, que experimentaram as maiores médias dos últimos 30 anos no governo Hartung, provaram que a falência do sistema prisional de ressocialização devolve à sociedade pessoas piores e alimentam um processo de violência sem fim.