Vou aproveitar o fim de semana para levar ao leitor o inusitado das eleições municipais, começando por São Mateus. A pesquisa Brand/Século Diário, publicada está semana, identifica um deles. Um empresário bem-sucedido no ramo de água mineral, aponta a pesquisa, lidera com enorme folga a disputa à prefeitura mateense. Daniel da Açaí (PSDB), como é conhecido, vem dando um coro danado no deputado estadual Freitas (PSB). Vejam os números. Na menção espontânea, o empresário tem 31,3% contra 9,8% de Freitas. Na estimulada a vantagem é mantida: o tucano tem 42,5% contra 16,5% do socialista.
Daniel da Açaí não chega ser um fenômeno político, mas sua candidatura acabou ganhando musculatura graças à negligência da atual gestão mateense, principalmente em relação à área ambiental, que acabou deixando a população sem água.
Desde o ano passado, quando a crise hídrica se agravou, a água tornou-se um artigo raro nos lares de São Mateus, principalmente na periferia, onde o abastecimento é sempre mais vulnerável.
Na ausência do poder público, os carros pipas da Açaí de Daniel passaram a socorrer a população sedenta. A crise fez dele uma figura providencial e desejada para tratar de outros problemas da cidade. Um empresário que anda pela casa dos 50 anos, de aparência jovial, e que cultiva uma cabeleira que adorna bem o seu rosto meio redondo, resistindo a cortá-la, como andaram sugerindo alguns conselheiros de plantão, que defendiam que os cabelos curtos passariam um ar de austeridade ao candidato. Com os cabelos longos, Daniel vai levando a campanha eleitoral fazendo o diferencial dos demais candidatos, que também tem na disputa o radialista e ex-deputado estadual Carlinhos Lyrio (PSD).
Na emoção
Outro diferencial nesta eleição é o prefeito de Serra e candidato à reeleição Audifax Barcelos (Rede). Uma inesperada pneumonia que se agravou para uma infecção generalizada deixou o redista no limbo da morte, depois de passar semanas sedado na UTI.
O caso grave era atualizado por meio de boletins médicos diários. As circunstâncias construíram espontaneamente para o candidato moribundo uma campanha eleitoral envolta em solidariedade. Tinha mais público acompanhando o drama do prefeito que a novela das nove da Globo.
A onda de solidariedade não deixou de fora o deputado federal e candidato Sérgio Vidigal (PDT), que achou melhor da um breque na largada da campanha no momento em que o quadro de saúde do rival era mais delicado. Registrando que até Audifax sucumbir à doença, Vidigal liderava com folgas a disputa. Mas viu, de uma hora para a outra, renegado à condição de suplantado por um fato completamente inusitado, quem nem ele ou o rival poderia prever.
O episódio, querendo ou não, acabou impulsionando o crescimento eleitoral do Audifax. O holofotes durante esse período de convalescença continuam sobre Audifax. A população, como vem suplicando sua mulher aos eleitores, segue orando a Deus pela recuperação do prefeito – a essa altura, quase um mártir, agora, favorito.
O que leva a crer que se o Audifax continuar enfermo, mesmo que seja em casa, melhor dizendo, não precisa botar a cara na rua, vai ganhar as eleições com facilidade. Fico pensando que, quando o Vidigal “inventou” o Audifax como político e o fez o seu sucessor, não lhe passava pela cabeça que ele seria o seu próprio algoz político. Como vai sair dessa agora? Bater nele? Sei, não. Não parece o melhor recurso. Bom, Vidigal é quem sabe da vida dele. Quem errou quando escolheu Audifax para eleger como se fosse o seu poste, tem que buscar agora o caminho que tire a carga emocional do pleito. Do contrário, fim de linha para o Vidigal, que já apanhou nas urnas do mesmo Audifax em 2012.
Vítima
Já por Linhares, o ex-prefeito e atual deputado estadual Guerino Zanon (PMDB) vestiu-se de vítima da própria classe política do município e vai ganhando a eleição sem precisar dizer um aí sequer. Assim como Brizola no Rio de Janeiro não precisava sair do seu apartamento em Copacabana para ganhar as eleições para o governo do Estado, Guerino pode se dar ao luxo de fazer o mesmo em Linhares. Não precisa abrir a boca para pedir o voto. Basta um leve sorriso para segurar o voto já consolidado do eleitor.
Vai indo para o seu quinto mandato. É um recorde. Depois de mais esse mandato o que pode acontecer. Na Assembleia Legislativa, onde já chegou a presidente, não se pode dizer que brilhou. A impressão que se tem dele é que é realmente um produto político típico de Linhares.

