Terça, 30 Abril 2024

Dilma con quién andas...

 

Açulada pelo empresariado e pelos diversos agentes e operadores do mercado, a mídia ficou ouriçada com a recente alta da inflação e, de tanto martelar nessa tecla, obrigou o governo a tomar uma medida simbólica: a elevação de 7,25% para 7,50% na taxa de juros básicos (Selic), que serve de piso para as operações do Banco Central do Brasil e de referência para os bancos em geral.
 
 
Uma alta de 0,25% nos juros básicos é quase nada num organismo econômico viciado por velhas contradições como a tributação exagerada e o excesso de subsídios – coisas que acontecem em diversos setores, da agricultura ao turismo, passando pela indústria e os serviços. Mas agora é capaz que a mídia dê uma trégua ao nosso atarantado ministro da Fazenda.
 
 
Guido Mantega e seus colegas da área econômica vão levando com a barriga problemas antigos que se acumularam à medida que, por falta de um diagnóstico preciso da situação e de capacidade político-econômica de atacá-los, ou até mesmo de competência ou vontade, vão se tornando crônicos. Assim, a eficiência numa ponta da economia pode ser anulada em outra. É o que acontece exemplarmente no binômio agricultura-serviços.
 
 
O Brasil está colhendo este ano uma supersafra de 184 milhões de toneladas de grãos, o que representa um acréscimo de pelo menos 10% sobre a safra anterior. Um sucesso espetacular. Em contrapartida, a infraestrutura viária continua falhando. Filas de caminhões perdendo tempo (e dinheiro) nas agroindústrias e nos portos são uma denúncia explícita da ineficiência logística.
 
 
Escorregamos no famoso “custo brasil”, mas tanto a mídia quanto o empresariado se equivocam ao atribuir esse problema exclusivamente ao governo. O governo é certamente o principal responsável, pois cria programas que vão ficando pelo caminho, mas por um vício antigo a iniciativa privada não faz a sua parte. Ou faz parcialmente na expectativa de tirar o máximo dos projetos governamentais.
 
 
Criado em fevereiro de 2007, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não tem a velocidade prometida. Está sendo lesado por uma combinação de fatores tipicamente brasileiros: falta de verbas, demora na liberação de licenças ambientais, denúncias de corrupção, demandas judiciais  etc. Na raiz dessa cadeia de ineficiência está o problema do endividamento público, que carreia para o sistema bancário nacional e internacional uma fábula por ano.  
 
 
Enquanto isso, em vez de manter o foco na resolução dos problemas mais graves, vemos a presidenta Dilma mergulhar numa maratona pré-eleitoral no afã de enfrentar os candidatos à presidência Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva, que estão pelo país procurando cativar a opinião pública.
 
 
Nenhum desses candidatos é páreo para uma Dilma engajada em suas tarefas. Mas se ela preferir andar por aí ocupando palanques improvisados para satisfazer os marqueteiros palacianos, pode cair do cavalo antes do final da prova.
 
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“Tem-se hoje uma proposta desenvolvimentista no governo, expressa em políticas de isenção fiscal, pacotes de estímulos à inovação, busca de juros civilizados, criação de mecanismos de financiamento, ênfase em obras de infraestrutura. Há muita descoordenação ainda, movimentos atabalhoados, nada que não possa ser aprimorado com o tempo. Mas não se tem uma ideologia desenvolvimentista independentemente dos governantes de plantão. O desenvolvimentismo atual chama-se Dilma Rousseff. No dia em que deixar a presidência, a bandeira se vai com ela.”
 
Luis Nassif, jornalista econômico em sua coluna Dinheiro Vivo de 18/04/2013 

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