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Fecha-se um ciclo e abre-se outro

Bem que o Instituto Futura procurou colorir a realidade com tons mais brandos para amenizar o revés do ex-governador Paulo Hartung na pesquisa de intenção de votos para o governo do Estado. Quem bateu os olhos menos atentamente nos gráficos e manchetes do jornal A Gazeta desse domingo (3) pode ter chegado à seguinte conclusão: Hartung ainda é o único que tem forças para tomar de Casagrande a cadeira mais alta do Palácio Anchieta nas eleições de 2014.
 
Mas quem observou os dados da pesquisa como mais critério — levando em consideração que o instituto em questão não é o mais primoroso quando o assunto é pesquisa, e que o pesquisado, no caso Hartung, é velho amigo da casa — percebeu que na espontânea, que é o indicador que pode ser interpretado como declaração real de voto, o governador Renato Casagrande (PSB) dá uma “lavada” em Harung. 
 
Nada, nada, o socialista aparece sete pontos à frente do antecessor. A diferença beira os 200 mil votos. Sem contar que o atual governador provavelmente ainda não atingiu a sua curva mais aguda de crescimento, enquanto Hartung estaria batendo no teto ou bem próximo dele.
 
O que se apreende da pesquisa é que Hartung sofreu um baque com o resultado. Embora o Futura, numa tentativa de mostrar que a lavoura ainda não está perdida, aponte que Hartung é o único que tem fôlego para encarar Casagrande num eventual segundo turno e vencê-lo. A pesquisa, que considera margem de erro de 3,5%, mostra que os dois estariam tecnicamente empatados. Informação que ressuscita o ex-governador e o mantém vivo no jogo. 
 
A página contigua à matéria da corrida ao governo traz um panorama da disputa ao Senado. O cenário confirma Hartung soberano, com quase 60% das intenções de votos. Moral da pesquisa: Hartung é o único capaz de endurecer a disputa ao governo com Casagrande, mas, se preferir disputar o Senado, a vaga seria praticamente dele. Pode entrar na disputa com os dois pés nas costas que venceria qualquer candidato. 
 
Na verdade, as coisas não são bem assim. O próprio Futura, na edição de sábado (2) de A Gazeta, mostrou que a popularidade de Casagrande está em ascensão: 66% de aprovação. A 11 meses das eleições, com a máquina na mão e correndo o Estado de ponta a ponta para abastecer o caixa dos municípios, o candidato do PSB tende a melhorar esse índice durante os próximos meses. 
 
De outro lado, Hartung enfrenta dificuldades para alinhar o PMDB da planície, sem a caneta na mão. Basta olhar o movimento “rebelde” da bancada estadual do partido, que toda a semana faz questão de se reunir com Casagrande para ratificar o apoio ao governador. Variáveis que apontam que o cenário não é nada favorável para o grupo de Hartung. 
 
A pesquisa ainda “esquece” de mostrar qual seria a rejeição espontânea de Hartung, dado que de fato indicaria a quantas anda a popularidade do avaliado. Na estimulada, Hartung aparece com a menor rejeição entre todos os possíveis candidatos. Sabe-se lá a ordem que foi apresentada a relação de candidatos ao entrevistado, que podia citar mais de uma opção na resposta. 
 
É por essas e outras que pesquisas são repletas de subjetivismo e carentes de coerência. Tem de ser avaliadas com os dois pés atrás. 
 
Polêmicas à parte, o fato é que para quem gozava de uma aprovação maciça quando deixou o governo, em 2010, Hartung deve ter ficado decepcionado com os números. É verdade que esse cenário já vinha se desenhando e que, aos poucos, aquela popularidade retumbante e o prestígio com a classe política foram se esvaindo ano a ano depois que o peemedebista desceu pela última vez as escadas do Anchieta. 
 
Descontando a miopia de alguns dados da pesquisa, o fato é que o Espírito Santo tem uma nova liderança: Casagrande. Hartung, aos poucos, terá que aceitar que o posto de líder soberano, que parecia intocável, perenal, quase vitalício, também é cíclico. Para abrir um novo ciclo é preciso que outro se feche. 

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