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​Filosofia e alimentação

Tão vaidoso com sua razão, o humano come sem pensar

Quando se fala em alimentação, o que logo vem à mente é o paladar, mas por ser o homo sapiens racional; sua alimentação não deveria ser pensada?

Essa diferença entre humanos e outros animais, esta capacidade de raciocinar, pode ser vista como vantagem e/ou desvantagem. É que os irracionais já nascem sabendo o que fazer, o que comer, de quem e como se defender, enquanto os humanos tudo precisam aprender. Raciocinando, concordando ou discordando até mesmo da natureza, analisando e reanalisando, inclusive com uma incrível capacidade de se contradizer e mudar suas descobertas, às vezes radicalmente.

Acontece que enquanto os irracionais se adaptam à natureza, os humanos adaptam-na a ele. O urso polar vive nos lugares gelados, mas nasce com a capacidade natural de desenvolver defesa para a hostilidade climática de onde vive, seja por sua pelagem, sua grossa camada de gordura, etc. Já para os humanos, viver em local muito frio ou muito quente é uma escolha, contamos com a possibilidade de adaptar essas condições ao prazer, com equipamentos de climatização de ambientes, sem contudo utilizar sua razão, por exemplo, para avaliar os estragos que essas alterações provocam no planeta em que vive.

Quando o assunto é alimentação, as coisas pioram muito, ao invés da razão analisar a oferta de alimentos do planeta para definir qual é o alimento melhor indicado para sua alimentação, nós humanos estamos sempre procurando novidades, inventando formas de alterar a natureza (dos alimentos e como um todo) em busca de outros prazeres como aparência, apresentação, conforto, sabores, texturas, etc., e até sofisticação.

Para justificar e prestigiar a razão, não deveria o ser humano buscar realmente o que seria o alimento mais indicado para si, num simples exercício do pensar sua dieta? Neste sentido existe uma chamada dieta macrobiótica, parte de uma filosofia de vida ligada ao Taoísmo, que toma por base a razão humana, inserida harmônica e equilibradamente à natureza. Trata-se de comer com a boca o que a mente racional entende por mais próprio.

Para chegar à resposta adequada, é preciso muitas investigações filosóficas. Esta pergunta radical: qual é o alimento mais indicado para humanos? Se ramifica em outras perguntas como: qual é a estrutura física e quais são as necessidades orgânicas da espécie humana? Como é sua estrutura dentária e quais os alimentos melhor adaptáveis à sua digestão? Como pode ele se alimentar sem prejudicar o planeta? E ainda, talvez fundamentalmente: qual é o alimento produzido pela natureza que venha a nutrir seu tão endeusado tecido cerebral?

Naturalmente, a principal escola para esse aprendizado é a natureza. Sem me alongar muito, deixo questionamentos da macrobiótica: o animal carnívoro tem sua dentição própria para rasgar a carne, nós que não a temos, aprendemos a adapta-la à nossa alimentação, cozinhando-a para amolecer, sem nos preocupar com a propriedade do alimento e com as consequências de sua produção em massa para todos. Com isso, precisamos massificar a criação e engorda de animais, provocando desmatamento e produção de gás metano que fere o meio ambiente e contribui para o rompimento na camada de ozônio da atmosfera.

Uma outra questão a se aprender com a natureza é a “utilidade” dos derivados de animais que a humanidade encarou como alimento dele, a exemplo do leite que é ótimo para o bezerro, trazendo benefícios para o desenvolvimento do corpo grande e peludo deste.

Da mesma forma, ao invés de nos contentarmos com os alimentos produzidos ao nosso redor, que respiram o mesmo ar (contaminado ou não) que respiramos, produzidos na terra em que vivemos, buscamos importar de lugares distantes como sal do Himalaia, por exemplo.

Enfim, mesmo sem radicalismo penso ser importante, na hora de se alimentar, o exercício do pensamento, principalmente para a espécie que se acha especial demais porque pensa.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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