Sexta, 26 Abril 2024

O velho jeitinho brasileiro

 

Os moradores de Ibitirama, região do Caparaó, vivem uma situação um tanto inusitada. A eleição no município será de apenas um candidato. O atual prefeito Javan de Oliveira (PSD), que tenta a reeleição, será a única opção para os 7.627 eleitores que forem às urnas no próximo dia 7 de outubro. 
 
O inusitado nessa história, porém, não está no fato de o município ter candidato único, mas no esdrúxulo pedido que o candidato barrado está fazendo aos eleitores de Ibitirama. 
 
Entenda o imbróglio. O adversário de Javan era Hisham Hatem El Jurdi (PDT), que acabou renunciando no início dessa semana. Hisham teve o registro de candidatura impugnado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) por um motivo que pode ser considerado banal, mas decisivo para a Justiça. O pedetista não votou no segundo turno para presidente nas eleições de 2010. Conclusão, ficou com a quitação eleitoral pendente, condição que, segundo a lei, impugna o registro. 
 
Inconformado, Hisham recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ratificou a decisão de primeiro grau. A defesa do então candidato tentou convencer o TSE que a decisão era despropositada, dado o valor irrisório da multa (R$ 3,50) pela ausência na votação. A ministra do TSE rebateu que relevante não era o valor da multa, mas o descumprimento de uma obrigação imposta a todo cidadão.
 
Impedido de concorrer, Hisham renunciou, mas, estranhamente, não apresentou como seu substituto o vice Valmir Ogione (PRP) ou qualquer outra pessoa. Os eleitores de Ibitirama só entenderiam depois a manobra do ex-candidato.
 
Esta semana, Hisham usou as redes socais para pedir aos eleitores que votem nulo. No perfil do candidato, no Facebook, ele recomenda: “Eu amo minha cidade, por isso voto nulo”. E em seguida, ele ensina didaticamente como o eleitor deverá proceder para anular o voto: “Os eleitores deverão primeiro votar p/ vereador normalmente e em seguida p/ anular a eleição de prefeito vote 12 ou qualquer outros 2 dígitos em seguida CONFIRMA”.
 
A estratégia do ex-candidato é simples. Se os votos anulados ultrapassarem 50% mais um, a eleição é anulada e a Justiça Eleitoral será obrigada a convocar nova eleição. Nesta segunda eleição, Hisham já espera estar apto para concorrer. 
 
Para corrigir um erro que é de sua inteira responsabilidade, o ex-candidato recorre aos eleitores para driblar a legislação e se dar bem. A estratégia do pedetista, que é assumida publicamente nas redes sociais, atropela a ética. 
 
Embora de sangue libanês, Hisham está mostrando que incorporou muito bem o chamado “jeitinho brasileiro”, algo repugnante que ainda é interpretado por muitos como sinônimo de criatividade e esperteza. 

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 26 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/