Segunda, 29 Abril 2024

O xadrez de Ferraço

Quem joga xadrez sabe que antes de definir uma jogada, o enxadrista estuda na cabeça todas as consequências daquele movimento, pensando alguns lances à frente. A capacidade de prever um maior ou menor número de jogadas é, obviamente, o que vai diferenciar o jogador mais qualificado do iniciante.

 
Todo jogo de xadrez, seja amador ou profissional, tem também um clímax. É quando um dos jogadores passa a acuar o adversário premeditando o ataque definitivo, que no xadrez é o xeque-mate. 
 
Trazendo o tabuleiro do jogo milenar para o atual momento da política capixaba, podemos dizer que o presidente da Assembleia está numa posição bastante adversa, em que o adversário está com o ataque todo armado à espera de algumas poucas jogadas para decretar o impiedoso xeque-mate. 
 
Nos últimos dias foram sucessivas as denúncias, com riqueza de materialidade, envolvendo Ferraço como o principal agente do esquema que foi engendrado em Itapemirim e replicado em pelo menos mais oito ou nove prefeituras. 
 
Tanto os depoimentos do irmão da ex-prefeita Norma Ayub quanto os da vice-prefeita de Itapemirim confirmaram a participação de Ferraço no esquema montado com a CMS Consultoria no município sulista para a recuperação de créditos tributários, se valendo de meios ilegais e fraudulentos. 
 
O mais contundente é que os dois depoimentos se complementam. Não há contradições. Um ratifica o outro na hora de apontar Ferraço como o principal mentor do esquema, o que torna a participação do presidente da Assembleia na Derrama irrefutável. 
 
Voltando ao tabuleiro, a expectativa de todos aqueles que acompanham a partida é ficar de olho no próximo lance. A classe política, que tem um interesse especial em saber o desfecho desse jogo, tamanho é montante apostado, praticamente não se mexe, quase não respira. Quem arrisca soltar qualquer comentário, por mais sumário que seja, o faz entredentes, sem tirar os olhos do tabuleiro para não perder nenhum um lance, uma vez que toda lance pode ser fatal. 
 
O silêncio no Palácio Anchieta também é ensurdecedor. Ninguém declara nada, ninguém manda recados ou cifra mensagens. Tudo para não provocar nenhum ruído na comunicação e complicar ainda mais o que já é por demasiado complicado. 
 
Ferraço, nesta terça-feira (22), deu mais um lance importante na sua estratégia de defesa, a única que lhe restou. Ele foi tão cauteloso no “depoimento” que deu a polícia, que preferiu “falar por escrito”. O documento de oito folhas foi entregue ao delegado e a uma parte da imprensa. O teor da defesa de Ferraço deve ser revelado nas próximas horas pelos jornais que tiveram acesso ao documento. 
 
Mesmo sem conhecer o conteúdo, é evidente que Ferraço escreveu um " tratado de defesa" para tentar desqualificar as acusações que o envolvem no esquema. Ele também irá tentar convencer, sobretudo a classe política, que as operações com a CMS eram estritamente legais. Em resumo, ele vai se colocar como um grande injustiçado. Vítima contumaz de um “bombardeio político e jurídico”, como já andaram dizendo, ou melhor, escrevendo por ai. 
 
De volta ao tabuleiro, a expectativa de uma parte da plateia é que Ferraço arme um fenomenal contra-ataque, uma jogada desconcertante, que seja capaz de colocá-lo de volta no jogo.
 
Mesmo que prossiga e confirme sua reeleição à Presidência da Assembleia, o jogo até aqui foi devastador para Ferraço. Ele vive situação semelhante à do jogador que joga sem rainha, cavalos, torres e bispos. Só lhe resta usar meia-dúzia de peões para defender o Rei, que segue no jogo combalido, já sem forças para atacar o adversário. Nesses casos, o mais prudente é se defender para tentar levar a partida para o embate. O que já seria um júbilo diante de uma derrota que parece a cada dia mais iminente.

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