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Quem senta na cabeceira paga a conta

Aquela conversa de quem senta na cabeceira da mesa paga a conta, parece que é verdadeira. Em meio ao turbilhão de indignação quem brota das ruas, o DataFolha apontou que a popularidade da presidente Dilma Rousseff não caiu, mas despencou 27 pontos em três semanas. 
 
No rebote dos protestos que começaram em junho, o instituto foi para as ruas e constatou que Dilma, que experimentava  confortáveis 57% de aprovação, viu sua popularidade cair para 30%. Uma senhora queda. 
 
É claro que os números negativos em véspera de ano eleitoral alvoraçaram os petistas, que têm virado noites atrás de uma estratégia milagrosa capaz de blindar a imagem da presidente e salvá-la de se tornar o “judas” da insatisfação popular. 
 
Mas se Dilma está preocupado, outros políticos – de vereadores a senadores; de prefeitos a governadores – deveriam estar também com a barba de molho. Ninguém tem dúvida de que o principal alvo dos protestos é a classe política. 
 
Imagine se um instituto fosse às ruas hoje para medir as popularidades dos governadores Renato Casagrande (ES), Sérgio Cabral (RJ) ou de Geraldo Alckmin (SP). Será que os três nomes do exemplo também não estariam pagando a conta da indignação que vem das ruas?
 
É verdade que Dilma não governa o país sozinha, assim como os governadores e prefeitos dependem dos seus respectivos legislativos – também alvos dos protestos -, mas a conta, como não podia ser diferente, vai mesmo para o sujeito sentado na cabeceira da mesa. Quem está em evidência, logicamente, acaba sendo o alvo mais vulnerável.
 
Se reportando ao nosso exemplo, em pesquisa da Flexconsult, de março deste ano, o governador capixaba aparecia com cerca de 56% de aprovação. Na época, os observadores políticos analisavam que a boa popularidade de Casagrande o credenciava para disputar a releição de 2014. E hoje, após duas semanas de protestos, será que a popularidade do socialista também despencou como a de Dilma?
 
Como não temos pesquisas em mãos para medir a popularidade do governador, apostamos numa “metodologia” que mistura a percepção das ruas (que pode ser ouvida nos gritos de guerra ou lida nos cartazes durante os protestos) e os comentários que são postados diariamente nas diversas redes sociais que não param de se alastrar desde o dia 17 de junho – data da primeira manifestação em Vitória.  
 
Olhando para esses dois indicadores, a popularidade do governador parece andar em baixa. Todas as vezes que o chefe do Executivo estadual se posicionou ou usou os titulares da Secretaria de Segurança ou da Polícia Militar para mandar seus recados, foi muito mal recebido pelos manifestantes nas redes sociais. Isso se repetiu nos comentários feitos a partir de matérias publicadas na mídia eletrônica. 
 
Os últimos exemplos não deixam dúvida. Os manifestantes já elegeram a Terceira Ponte como um dos alvos do movimento. Eles querem o fim da cobrança do pedágio da ponte que tem o asfalto mais caro do Brasil: 0,58/km. O governo, no entanto, imediatamente reagiu dizendo que o contrato com a Rodosol é sagrado. Mais, mandou a PM defender as cabines do pedágio como se fossem o último bastião do Estado, em detrimento de outros patrimônios privados e públicos, como denunciou esta semana a OAB-ES, que registrou que o governo feriu o princípio da impessoalidade. 
 
Pegou mal também a tentativa desesperada do governo do Estado de criminalizar as manifestações. O secretário André Garcia (Segurança) e o comendante da PM, Edmilson dos Santos, fizeram de tudo para dissuadir a população a não pôr o pé na rua nessa sexta (28). A estratégia era criar um clima de terror para afugentar as pessoas “de bem” das ruas, que estava sendo tomada “por vândalos, bandidos, verdadeiros criminosos”. Garcia até arrumou um número “redondinho”, não se sabe de onde, para quantificar os criminosos. Disse que havia mil “infiltrados” no protesto da última quarta (26).
 
Na quinta (27), véspera do protesto, Casagrande pediu ajuda do Tribunal de Justiça e Ministério Público para alastrar ainda mais o clima de terror. Notas foram espalhadas no site do governo e das duas instituições advertindo a população sobre os riscos de sair às ruas na sexta. 
 
A estratégia acabou funcionando. Muitos pais, assustados, proibiram os filhos de aderirem à marcha dessa sexta. Para piorar, o governador pediu publicamente para as pessoas não irem mais às ruas para protestar. “Essa é uma hora de trégua, hora da gente dialogar, mediar, para que possamos ir discutindo a pauta nacional, municipal, estadual com todas as instituições, para que não deixemos a marca da violência, como foi deixada em Vitória e Vila Velha”, disse ao portal G1.
 
Em todos os discursos, apesar dos excessos da polícia registrados nas cinco edições dos protestos, Casagrande defendeu a ação da PM e a manutenção da ordem pública. 
 
Há duas semanas consecutivas lidando com os protestos, o governador ainda não estabeleceu um canal de diálogo com os manifestantes. O presidente do TJES, Pedro valls Feu Rosa, mais atento aos clamores das ruas, já tem em mãos uma pauta dos manifestantes, que ele mesmo foi buscar no meio da “muvuca” .  
 
Dilma, a gerentona que ocupa a cabeceira da mesa maior, também já inaugurou a primeira rodada de diálogo com representantes do movimento Passe Livre. Nem por isso, como mostrou o DataFolha, sua popularidade foi poupada. 
 
Imagine a de Casagrande, que só agora começa a ensaiar um discurso de que está disposto a conversar com os representantes do movimento, mas “só quando eles tiverem um pauta”. Em outras palavras, o governador quis dizer que não tem tempo para jogar conversa fora. 

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