Domingo, 05 Mai 2024

Rica Sra. Krise

 

Estagnação do crescimento econômico, baixa dos juros, ligeira disparada do custo de vida, redução dos investimentos, queda da empregabilidade...São tão conflitantes os indicadores da economia brasileira que as mídias (tradicional e alternativa) estão metidas num grande tiroteio, ambas dispostas – como de costume – a encontrar os culpados disso ou daquilo.
 
Sem demonizar ninguém, façamos uma leitura dos principais índices. Para começar, o mais importante, já que sintetiza tudo, é o índice de 1,64% apontado pelo IBGE como o crescimento da economia  em 2012. É um crescimento baixo, principalmente se comparado à meta de crescer cerca de 5% por ano, mas não é um Deus-nos-acuda. Na real, é ligeiramente superior ao crescimento populacional, que está em torno de 1,45% por ano.
 
Vejam que há uma diferença de 0,19% entre os dois índices. Com quem ficou essa fração? Foram os ricos? A classe média? Os pobres? Talvez o IPEA nos dê a resposta dentro de alguns meses. Numa conta por alto, essa diferença representa mais de R$ 20 bilhões.
 
Em segundo lugar, não há como negar que a baixa dos juros foi uma iniciativa positiva do Banco Central do Brasil. Graças a ela, o país reduziu o serviço da dívida pública. De quebra, obrigou os rentistas (entre os quais se incluem os próprios bancos e todos os agentes financeiros) a procurar trabalho de fato para seus capitais. Ou, seja, a baixa dos juros é um potencial dinamizador da economia. Se o dinheiro pendurado nas tetas da mãe Dívida Pública não está se transformando em capital produtivo, é preciso investigar para onde está indo. Tarefa para o IPEA, o IBGE, a Receita Federal e a PF.  
 
Quanto à disparada do custo-de-vida na virada do ano, é preciso convir que se trata de um componente antigo do comportamento dos brasileiros. Nesta época do ano,  muita gente relaxa a vigilância sobre as contas. Com as sobras geradas pelo 13º e as férias, a maioria baixa a guarda, abrindo espaço para a ação dos oportunistas. É justamente com a economia funcionando a meia-boca, ou de cara cheia, que se estabelecem os novos preços.
 
Boa parte da elevação do custo de vida e da taxa de inflação no período de verão decorre dessa combinação de esperteza de uns e preguiça de outros. Somando-se os reajustes automáticos de tarifas públicas e outros aumentos  de ocasião, perpetra-se o crime da inflação gregoriana, termo inventado pelo ministro da Fazenda Mario Henrique Simonsen nos tempos do governo Geisel, quase 40 anos atrás. Agora, em 2013, nem se pode dizer que o governo pisou na bola ao reajustar os preços dos derivados de petróleo. Afinal, fazia anos que eles não eram corrigidos.  
 
A maior contradição está na manutenção dos índices de crescimento dos empregos. Pela lógica, se a economia está praticamente estagnada, o desemprego deveria estar comendo as pernas do pessoal situado nas bases da indústria, do comércio, do transporte e outros serviços. Mesmo com a luz amarela nos sinais, a empregabilidade continua alta. .
 
O fenômeno não tem nada de místico ou esotérico. O desemprego segue baixo porque o governo vem agindo nos bastidores para reduzir a carga tributária de setores estratégicos (como a construção civil e a indústria automobilística) que se comprometem a não demitir mão-de-obra enquanto a dádiva estiver funcionando.
 
No mínimo, pode-se dizer que o governo Dilma está sendo criativo e revelando um jogo de cintura nunca visto antes no pais diante de uma crise econômica. Convenhamos, trata-se de uma senhora crise internacional, riquíssima em conexões e desdobramentos.    
 
Se há uma vantagem nessa sinuca toda, além da manutenção dos empregos, é a redução da carga tributária.  Na marra, o governo Dilma vêm cravando as estacas por onde passará a reforma tributária.
 
Reforma que consistirá majoritariamente numa redução de impostos para as classes menos favorecidas. Há promessas de desonerar os produtos constantes das cestas básicas. Está mais do que na hora. Se Dilma não chutar agora, com o pé esquerdo, essa bola vai ficar quicando na boca da área, pronta para ser chutada por outro, com o pé direito.          
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
O número de ações trabalhistas vem crescendo mais do que a expansão da economia na maior parte dos estados do Brasil. Nos 24 tribunais regionais do trabalho do país, têm sido ajuizados cerca de dois milhões de processos trabalhistas por ano .

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