Nas primeiras semanas de janeiro, quando geralmente as notícias são escassas, Rodney Miranda (DEM) caiu como um prato cheio no colo da imprensa faminta. com munição na cintura e disprando para todos os lados, o prefeito de Vila Velha passou a ocupar quase todos os dias o noticiário local.
A cada novo anúncio de medidas “austeras”, Rodney lavava a alma na mídia. O discurso moralizador e enérgico mostrava que Rodney estava disposto a levar a versão “xerife durão” dos tempos de Secretaria de Segurança para dentro do gabinete da prefeitura canela-verde.
Justificando que havia herdado do antecessor só dívidas e problemas, Rodney fez questão de transmitir à população que estava tentando governar uma administração em ruínas, caótica, arrasada. Diante de cenário tão adverso, o prefeito pôs logo em prática uma de suas promessas de campanha, o temido “choque de gestão”.
E de fato a primeira medida de “alta voltagem” do xerifão deixou muitos servidores de cabelo em pé. Logo na primeira semana o prefeito anunciou, numa só canetada, a exoneração de 1,2 mil servidores. No caminho da guilhotina de Rodney nem o popular cafezinho foi poupado. O novo prefeito mostrava que estava disposto a moralizar a administração canela-verde, começando pela “farra dos comissionados”.
Muita gente desconfiou da medida, alertando que lá na frente o prefeito iria contratar novos comissionados e manter a gordura na máquina pública.
A reportagem publicada por Século Diário nesta sexta-feira (8) revela que a austeridade propagada por Rodney, como muitos suspeitavam, não passou de um engodo populista. Em vez de reduzir, o prefeito triplicou os gastos da administração em relação à gestão anterior.
O esperado “choque de gestão” de Rodney aumenta de R$ 3 milhões para quase R$ 9 milhões os gastos anuais com pessoal. As mudanças que o prefeito do DEM fez, principalmente no primeiro escalão, aumentam significativamente as despesas da administração municipal com a folha de pagamento, mas só para os servidores que estão no topo da pirâmide.
Contrariando o discurso da austeridade, a minirreforma da nova gestão começou pelo próprio salário de Rodney, que saltou de R$ 14 mil para R$ 17,8 mil. O tal “choque de gestão” não deixou de fora o estafe do prefeito. Os salários dos secretários subiram de R$ 7,3 mil para R$ 11,7 mil, um senhor reajuste de mais de 60%.
O poderoso “choque” de Rodney ainda teve energia suficiente para atingir o segundo escalão da administração. O prefeito dobrou o número de subsecretários e quintuplicou o de assessores especiais, que passaram a receber, respectivamente, R$ 8,9 mil e R$ 7,1 mil.
O “choque de gestão”, porém, parou por ai. Os servidores do andar de baixo da administração ficaram a ver navios. Para eles, o prefeito vai reforçar o discurso do caixa vazio, das dificuldades herdadas do espólio do antecessor. A população, sobretudo os eleitores de Rodney, também não deve esperar muito. O prefeito já vem prevenindo que a saúde financeira do município é caótica, e que o cidadão canela-verde terá que ter muita paciência para as aguardadas mudanças entrarem em prática.
A verdade é que em pouco mais de um mês de gestão a máscara da austeridade já caiu. Sem fantasia, só resta a Rodney pular o carnaval com a cara que Deus lhe deu.