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Uma marcha para a história

Há muitas incertezas em torno do futuro das manifestações que estão acontecendo por todo o país. Intelectuais das mais diferentes matizes se revezam na mídia tentando encontrar explicações para o fenômeno que vem das ruas, cujo antro de articulação e mobilização parte de algo extremamente frenético e imponderável: as redes sociais. 
 
Quem vem acompanhando atentamente a cobertura da imprensa sobre os protestos, com certeza já ouviu ou leu as mais diferentes teses sobre as manifestações. 
 
Já se falou de tudo um pouco. Houve quem criticou o movimento pela falta de foco; os que condenaram seu caráter exclusivo, não permitindo a participação de agremiações políticas nas marchas; outros ainda que reclamaram comando ao protesto, alegando que sem lideranças o movimento tende a sucumbir e esvaziar. E por ai vai…
 
Enquanto os intelectuais de plantão quebram a cabeça para entender o fenômeno, os manifestantes seguem exibindo seus cartazes, soltando seus gritos de guerra e planejando novos protestos prometendo quebrar recordes de participação. 
 
Polêmicas à parte, um ponto é consensual: impressiona a capacidade de mobilização do movimento. O caso de Vitória, em especial, é ainda mais emblemático. 
 
Comparando a manifestação de Vitória com a de outras capitais, podemos dizer, seguramente, que a Capital capixaba levou, proporcionalmente, o maior número de manifestantes para as ruas.
 
Considerando que a população da Capital capixaba é de 327 mil habitantes e, segundo a PM, 100 mil estavam nas ruas nessa quinta-feira (20), podemos dizer que quase um terço dos moradores de Vitória trocou o sofá pelo asfalto. 
 
Os mais ponderados irão dizer que no protesto havia gente de Vila Velha, Serra, Cariacica e até de Viana. Tudo bem. Mais o grosso mesmo veio de Vitória. 
 
Para atestar a pujança do protesto capixaba é só comparar os números. O Rio de Janeiro levou mais de 300 mil; São Paulo 110 mil e Vitória 100 mil. Respectivamente, esses números representam 4,7%, 0,97% e 30% das populações dessas capitais.
 
Por trás do retumbante número capixaba pode estar a vontade de democracia represada durante os dois mandatos (2003 – 2010) do governo Paulo Hartung, que fez uma gestão marcada pelo autoritarismo e não deu espaço algum para os movimentos populares. Ao contrário, a Era Hartung asfixiou as lideranças comunitárias que ousaram criticar seu governo e cooptou os mais vulneráveis, que acabaram trocando suas causas por favores políticos. 
 
A participação maciça dos capixabas revela essa vontade reprimida de participação popular, que ainda não teve ressonância nos dois anos e meio do governo socialista de Renato Casagrande, como muitos esperavam.
 
Por enquanto, a única autoridade no Estado que desceu literalmente as escadas do poder para dialogar com a massa foi o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Pedro Valls Feu Rosa. Como ele mesmo disse, “a voz das ruas merece o máximo respeito por parte das autoridades constituídas”.
 
Que fique o exemplo para os que ainda não acordaram.

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