Análise: ???O ??ltimo Elvis???
O passado glorioso da Argentina muitas vezes impede a aproximação com a atualidade todavia abatida pelo pós-crise (alguns insistem que a quebra ainda é visível nas entrelinhas). De Europa sul-americana, agora tem que aceitar seu destino latino-americano.
Todos conhecem Elvis, inúmeras canções que entraram para a história, sua vida agitada e a notícia da morte que muitos insistem em negar. Mas ele segue vivo e mora na Argentina. No fim de carreira, segue tocando as mesmas músicas e agradando o mesmo público há 50 anos. Infelizmente os tempos são outros e necessita adaptar-se ou seguirá o mesmo destino mítico do rei.
Carlos trabalha numa fábrica de geladeiras de dia e a noite reserva para seus shows de cover do Elvis Presley. O trabalho não vai bem, o show pior. Seu casamento já naufragou e sua filha se distancia cada vez mais.
Nessa crise da meia-idade (será a mesma crise de identidade argentina, que necessita escolher entre uma glória imaginada e um presente ordinário) somente fatores externos podem despertar a apatia do cotidiano.
A mulher sofre um acidente e Elvis passa a cuidar da filha, que se afeiçoa cada vez mais ao pai músico. Porém ele vê que seu sonho fica cada vez mais distante. Às vezes é preciso tomar decisões.
Contrapondo o show-business com uma vida comum, O Último Elvis retira a máscara do mito, que em realidade pode ser qualquer um, e mostra um lado humano, dessa vez habitando um país mais ao sul.
A insistência desse conflito de identidades mostra a possibilidade latente do mito continuar vivo, não há nada inverossímil na história, mas sempre deixando bem clara que a intenção do filme não passa por aí.
O protagonista (John McInerny) insiste na personificação do mito, mas o filme parece não insistir nesse aspecto, preferindo mostrar a ambiguidade da afirmação.
A fotografia esmaecida (tão de moda na geração Instagram) revive o passado da mesma forma que as locações esquecidas no tempo tão presentes na Argentina.
Como atualizar os ícones do passado sem carregar consigo uma nostalgia? A pergunta que segue Carlos promove um isolamento constante, em que nunca se realiza, nem como pai, nem como cantor.
A sobreposição de realidades alcança o estreante John McInerny que é cantor numa banda cover de Elvis, e encarna a perfeição o papel de si mesmo.
O diretor também estreante Armando Bo, persegue a aura nostálgica marcando certa distância através dos contrastes: o fascínio dos shows vs a pobreza da realidade; o cinza das construções vs o brilhantismo dos eventos; a voz do rei vs o silêncio da cidade.
Através destes choques, penetra no ambiente do criador do rock n´roll, ficando cada vez mais difícil prever uma solução para um rei despojado de seu trono.
Serviço
O Último Elvis (El último Elvis, Argentina, 2012, 91 minutos, 14 anos)
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 2. 19h30.
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