Quarta, 15 Mai 2024

Empreiteira investigada por obras em posto fiscal irrigou sistema de doações eleitorais

Empreiteira investigada por obras em posto fiscal irrigou sistema de doações eleitorais

 

Investigada pelo Ministério Público Estadual (MPE) por conta das obras no posto fiscal “fantasma” em Mimoso do Sul, a empreiteira Araribóia irrigou um sistema de doações eleitorais para políticos capixabas. Nos últimos quatro pleitos (2006 a 2012), a empresa “investiu” R$ 940 mil em campanhas de candidatos e comitês eleitorais. Chama a atenção que o volume de recursos doados mais do que dobrou a partir do período de obras do posto fiscal São José do Carmo, iniciadas em 2005 e encerradas no início de 2010.



De acordo com levantamento nas prestações de contas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Araribóia saiu do status de uma “doadora modesta” para figurar como uma das principais financiadoras de campanhas ligadas à área da construção civil no Espírito Santo. Nas eleições de 2006, a empresa fez doações para apenas dois candidatos: o então governador Paulo Hartung (PMDB), candidato à reeleição, recebeu R$ 50 mil; mesmo valor doado para o seu principal adversário, o ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT).



No pleito seguinte, a empreiteira elevou a sua participação entre os financiadores de campanha. Em 2008, o total de doações saltou para R$ 285 mil, sendo que R$ 130 mil apenas em doações para comitês financeiros de partidos (conhecidas como doações ocultas). Nas eleições para a Prefeitura de Vitória, o então prefeito João Coser (PT) recebeu R$ 60 mil – divididos em três parcelas iguais –, enquanto o seu adversário na ocasião, o atual prefeito Luciano Resende ganhou R$ 35 mil em uma só doação.



Receberam doações naquele pleito, os candidatos Sérgio Vidigal (R$ 40 mil) e Rodrigo Chamoun (hoje conselheiro do Tribunal de Contas e então candidato a prefeito de Guarapari, na “chapa hartunguete” que era formada pelo vice, o ex-secretário da Fazenda e atual sócio de Hartung, José Teófilo de Oliveira, que também responde à ação de improbidade relacionada às obras do posto fiscal), que recebeu R$ 20 mil na ocasião.



Em 2010, a empreiteira Araribóia reduziu o volume de doações, mas não muito. A Justiça Eleitoral registrou doações na ordem de R$ 255 mil. Novamente, a atenção da empresa se voltou para os principais candidatos ao governo do Estado. Enquanto o então senador e candidato de “continuísmo”, Renato Casagrande (PSB), recebeu R$ 100 mil, o seu adversário, o ex-deputado federal Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), derrotado naquele pleito, ficou com R$ 40 mil.



A empresa também distribuiu o restante dos recursos entre os comitês financeiros e direções estaduais dos partidos. O PT recebeu o maior quinhão (R$ 30 mil), seguidos pelas siglas DEM e PMDB (com R$ 25 mil cada) e pelo PSB (R$ 15 mil). Constam ainda doações para os comitês do PDT e PSDB, estes com apenas R$ 10 mil.



Nas últimas eleições municipais de 2012, a Araribóia investiu pesado nas doações ocultas. O único candidato que recebeu verbas diretamente do caixa da empresa foi o então deputado estadual Marcelo Coelho (PDT), eleito prefeito de Aracruz, com R$ 50 mil. Mesmo valor doado para a direção nacional do PSDB, a partir do município da Serra. No entanto, a maior fatia das verbas foi destinada às “doações ocultas” para os comitês e diretórios partidários: o PT recebeu R$ 125 mil, o PSB ficou com R$ 30 mil, o PPS com R$ 25 mil e o DEM com R$ 20 mil.



Essa preferência pelo “investimento” nas instâncias partidárias remete ao questionamento feito a este tipo de doação. Apesar de o dinheiro aparecer no registro do TSE, não é possível acompanhar o destino exato dos recursos de cada doadora, uma vez que todas as doações se juntam em uma grande conta – e esta reparte o bolo de verbas entre os candidatos.



Investigação



Em manifestação trazida aos autos do processo de improbidade, o autor da denúncia contra o ex-governador Paulo Hartung, o promotor de Justiça, Dilton Depes Tallon Neto, afirma que a empreiteira Araribóia responsável continua a ser investigada. As investigações vão acontecer paralelamente à tramitação da ação de improbidade (que já foi ajuizada).



Segundo o promotor, a Promotoria de Justiça Cível de Vitória está investigando supostas irregularidades no procedimento licitatório e na execução do contrato que possam ter beneficiado a empresa. A análise dos documentos relacionados às obras – medições dos serviços prestados e os comprovantes de pagamentos – podem ajudar a elucidar qual foi a destinação dos quase R$ 25 milhões gastos na empreitada.

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