Quinta, 02 Mai 2024

Hartung joga areia na unanimidade de Casagrande

Hartung joga areia na unanimidade de Casagrande

Nerter Samora e Renata Oliveira



Enquanto o governador Renato Casagrande se ocupa das movimentações do PSB nacional e tenta manter a trinca que o elegeu em 2010, o ex-governador Paulo Hartung articula seu retorno à liderança do cenário político do Estado. Confira a leitura desses movimentos políticos, que devem ser decisivos para conjuntura das eleições do próximo ano, no Papo de Repórter desta semana:





Nerter – Quem achava que o ex-governador Paulo Hartung iria se encolher diante das broncas que se formaram contra ele no Judiciário, está enganado, não é? Ele vem se movimentando nos bastidores e aproveitando o momento político em desgaste do governador Renato Casagrande para reconstruir seu grupo político. Se ele vai ser candidato a alguma coisa, só saberemos às véspera do início do processo eleitoral do próximo ano, mas que ele está fortalecendo sua imagem com a classe política, isso ele está. Ele vem repetindo, e sabiamente, diga-se de passagem, que não vai discutir o processo eleitoral só no próximo ano agora. A ideia é inteligente, quem se antecipa pode se queimar e os processos eleitorais passados mostram isso. Mas a movimentação agora é outra.



Renata – Com certeza. Há alguns movimentos que devem ser observados nessa movimentação do ex-governador. Primeiro, percebemos um processo de aceleração do desgaste do governador Renato Casagrande. Para que Hartung recupere seu capital político, em baixa desde 2010, ele precisa deixar transparecer que seu sucessor fez um governo pior do que o dele. Por isso, precisa proteger sua vitrine e atirar pedra na vitrine do outro. Mas é claro que ele vai terceirizar as estocadas.



Nerter – Isso, parte da imprensa tem feito. A crise na Assembleia Legislativa, deflagrada às vésperas da abertura de uma vaga no Tribunal de Contas, expõe a desarmonia entre os poderes e enfraquece a aliança que sustenta a governabilidade de Casagrande. Esse discurso arredio dos deputados, que sempre foram mansos em relação ao Executivo, vai ao encontro desta movimentação do ex-governador.



Renata – Outra movimentação vem com a pressão sobre a unanimidade de Hartung. Ao dar procuração a Ricardo Ferraço para ser um articulador do grupo em seu nome, o ex-governador coloca no páreo um quadro ligado a ele, que traz a marca da vitimização de 2010, quando deu lugar a Casagrande na chapa palaciana à sucessão de Hartung e, além disso, não teria nada a perder ao disputar o governo, pois tem mandato de senador até 2018. A possibilidade de Ferraço disputar a eleição ao governo é um golpe forte na unanimidade de Renato Casagrande.



Nerter – Se ele vai disputar mesmo não sabemos, mas ganhou a procuração para se sentar à mesa de negociação dos grupos. Ganhou um capital forte com a classe política para discutir a eleição do próximo ano, garantindo os interesses do grupo de Hartung. O momento não poderia ser mais propício para que o grupo do ex-governador se movimentasse no sentido de ocupar os espaços e disputar com Casagrande o controle das articulações eleitorais.



Renata – E os problemas que Casagrande tem enfrentado para acomodar e acalmar sua base contribuem muito para que Hartung ocupe esse espaço. Primeiro o governador precisa resolver o problema em casa. O projeto do presidente do PSB nacional, o governador de Pernambuco Eduardo Campos de erguer seu palanque alternativo à presidência em 2014, compromete as articulações de Casagrande no Estado.



Nerter – Foi a partir da postura de Casagrande mais dura em relação à candidatura de Campos que as movimentações do PMDB, ou melhor, do grupo de Hartung, se intensificaram. Ou seja, há uma evidente disputa entre os dois pelo comando da classe política do Estado. O que tem deixado os meios políticos muito movimentados e com uma antecipação enorme da eleição. Esse é um dos ingredientes que está contribuindo para a clara crise de nervos que vem tomando conta das lideranças e dos partidos no Estado.



Renata – Não dá para saber como vai ficar a divisão dos palanques na disputa do ano que vem. Não dá para saber qual vai ser a posição dos dois líderes políticos no próximo ano. Casagrande diz que ficará neutro na disputa, mas quer colocar todo mundo, inclusive o PSDB, no seu palanque. Hartung pode erguer um palanque para Dilma, mas não tem a confiança do PT nacional nem do governo federal. Magno Malta (PR) tem a confiança do governo federal, mas é uma liderança que os aliados de Hartung não querem apoiar.



Nerter – Mas o ex-governador tem uma possibilidade muito boa se abrindo à sua frente em relação ao cenário nacional que é o racha que estaria acontecendo no PMDB sobre o apoio ao PT no ano que vem. Se isso acontecer mesmo, o ex-governador vai ficar livre aqui no Estado para levar seu grupo para onde quiser, inclusive, para o palanque de Aécio Neves, se for o caso. Com o PMDB solto, o governador Renato Casagrande desgastado com as lideranças políticas e as instituições, Hartung poderá se transformar em uma liderança de peso muito grande para a disputa de 2014.



Renata – Mas tem uma questão a ser observada. Pelo volume de defesas que se propagam nos veículos “amigos” do ex-governador, a expectativa é de que ele possa ter problemas sérios pela frente. Por isso seria conveniente dar uma inflada na imagem do ex-governador agora, para, se preciso no futuro, ele poder acionar o discurso da perseguição política e da vitimização.



Nerter – Nem sempre quem tem o telhado de vidro não atira a primeira pedra. No caso de Hartung, ele conta com a blindagem às questões decorrentes de seu governo, sobretudo, as denúncias que dificilmente repercutem localmente. É só ver a quantas andam as providências do escândalo do “posto fantasma”, que se tivesse ocorrido em outro momento ou com atores diferentes, a repercussão seria outra. O mesmo não se pode dizer do que vem de fora. Mas o que importa neste momento é de que nunca o plano de unanimidade do governador esteve tão ameaçado.



Renata – E olha que não estamos nem falando da possível candidatura do senador Magno Malta...



Nerter – Sim, a crise está saindo de dentro da própria “casa arrumada”.

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