Terça, 21 Mai 2024

'Hoje quem está fora do mandato tem preferência do eleitorado'

'Hoje quem está fora do mandato tem preferência do eleitorado'


Rogério Medeiros e Renata Oliveira

Fotos: Gustavo Louzada/Porã






Com a proximidade das convenções partidárias, que acontecem de 10 a 30 de junho no Estado, é hora de convocar o ex-vereador de Vitória Ademar Rocha (PTdoB) para mais uma rodada de cálculos das prováveis coligações e pernas proporcionais que se desenham para as disputas de deputado federal e estadual, distribuídas nos dois palanques previstos para a disputa estadual.



O ex-vereador aponta a quantidade x qualidade nos palanques majoritários. Enquanto o governador Renato Casagrande apresenta um palanque que pode chegar a 15 partidos, o ex-governador tem ao seu lado as maiores siglas do Estado, o que equilibra o jogo.



Rocha também destaca o fato de lideranças políticas de peso poderem trocar a proporcional por vagas de vice e pela disputa de senador, o que enfraquece algumas chapas.



Mesmo com as acomodações que começam a se definir, o ex-vereador acredita que ainda falta encontrar espaço para algumas lideranças e que isso pode levar a novos acordos em cima da hora. Os cálculos de hoje nos meios políticos podem mudar durante as convenções e até mesmo na porta do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no dia 5 de julho, quando acontecem os registros de candidaturas e homologação das chapas.







Século Diário – Ademar, você, que é o homem das pernas, como vão as pernas desta eleição? Quem está com quem?



Ademar Rocha – Em quantidades de pernas, o governador Renato Casagrande está bem. Está melhor colocado, afinal, tem cerca de 15 partidos com ele e já algumas pernas definidas. Foi assinado um protocolo de nove partidos com o governador. Uma perna total para federal e duas para a estadual. Uma delas é formada pelo PP, PV, PTN e PTdoB, que faz de quatro a cinco estaduais. A outra é o PHS, PSDC, PTC, PRTB e PSL, e faz de um a dois. Para federal essas pernas se juntam e fazem dois deputados federais, com certeza. E dentro desta conjuntura, disputam bem Neucimar Fraga [PV], Marcos Vicente [PP] e Evair do Incaper [PV]. Tem três candidatos fortes, disputando duas vagas.



Há dois vereadores de Vitória na disputa, Rogerinho (PHS) e Devanir Ferreira - se colocamos o PRB nesse grupo.




– O Rogerinho está se colocando, mas para chegar a 50, 60 mil votos, tem muita estrada pela frente. Acho que ele está marcando uma posição, como imposição do partido, porque os partidos estão obrigando suas lideranças a sair como candidato a federal, porque o Fundo Partidário, daqui para frente, vai ser de acordo com a quantidade de votos que tem cada partido para deputado federal em nível nacional. Mas ele vai ter de dar muita braçada para alcançar os três mais cotados nesse grupo.




Tirando esses nove partidos, o que mais tem no palanque de Renato Casagrande?



– O PSB, Solidariedade, PPS, PSD e PTB. E tem o Pros e seus pouco mais de 100 filiados, que está flutuando, ainda não se definiu. Não se sabe como vai se colocar, mas tem um deputado federal que é Jorge Silva. Essa perna faz dois deputados federais e faz de quatro a seis deputados estaduais. Nessa perna tem três deputados federais e podem morrer alguns na braçada.



Se faz dois, serão os dois do PSB?



– Pode ser, mas vão brigar aí [Carlos] Manato [SDD] e Jorge. Manato é bom de voto e já provou isso em eleições anteriores. As pessoas achavam que ele era muito dependente de Sérgio Vidigal, no PDT, e ele não era.



– Nessa chapa também está o presidente da Câmara de Vitória, Fabrício Gandini, do PPS, que pelo que o senhor está falando, vai ter dificuldades de se eleger?



– Sim. Se o PPS caminhar nesse campo, e acho que vai ter de caminhar, vai ter dificuldade. Estamos falando de deputado federal para ter mais de 70 mil votos para ganhar do Vandinho [Leite] e do [Paulo] Foletto, do PSB. E ainda no grupo do Casagrande, temos o PMN, que está procurando um lugar. Tentou entrar no primeiro grupo, mas foi colocado em votação e não foi aprovada a entrada do partido. Tem o PCdoB, que decidiu que pode caminhar sozinho. A gente acha que pode furar a legenda e fazer um deputado. Tem o PRP, que não tem dito para onde vai, mas decidiu caminhar sozinho e tem muita chance de fazer dois deputados estaduais.



O presidente do PRP acredita que faz mais. Deve ficar com duas cadeiras mesmo, não é?



– O quociente eleitoral gira em torno de 60 mil votos para a Assembleia Legislativa. Isso para fazer um, para fazer o segundo, tem de alcançar mais de 90 mil votos. Se lança 90 candidatos em uma coligação, sozinho, lança uma vez e meia, ou seja, 45, para fazer 90 mil, você precisa de uma média de dois mil votos por candidato. É quase impossível, nem partido grande consegue isso. Isso tem de ser avaliado.







Pode haver uma disputa dura entre o presidente Fabrício Gandini e o vereador Devanir Ferreira, é isso? Há chances de eles serem eleitos?



– Sim, mas depende da coligação. Nessa coligação do PSB, Solidariedade, PSD, PTB e PTB, a chance é zero. A chance de eles se elegerem é fazer uma perna PPS, PP, PRB, PTdoB, PSD e PHS. Se eles conseguirem isso, vão destruir aquelas pernas que falei lá em cima. Vão isolar o PV. Se Devanir conseguir fazer isso, garante a eleição de Marcos Vicente e disputa a segunda vaga, partindo do zero Devanir e Gandini, que disputam em igualdade de condições. A única forma que vejo de eles terem chances de ganhar a eleição é nessa perna com o PP e outros partidos, que faz dois, com certeza.



Então até as convenções isso pode ser alterado?



– Pode, até porque há um subterfúgio nas convenções partidárias que dá autonomia aos presidentes de partido de fazer a coligação com quem quiser.



Até a homologação, em 5 de julho, muita coisa pode acontecer...



– Muita coisa pode acontecer e acho até que o governo vai colocar o dedo para proteger o Devanir, porque é um partido que coloca 100 mil votos na coligação. O Devanir hoje é uma noiva bonitinha. O PRB tem Devanir, Capitão Assumção, o vice-prefeito de Cariacica, Capitão Polez, e Jurandy Loureiro, que ainda não definiu se vai. Mas só esses três colocam 80 mil votos. Então Devanir tem chance, se fizer uma boa coligação. Se fizer errado, vai morrer na praia.



Mas em Vitória Gandini vai ter mais votos que ele...



–  Gandini teve a votação da última eleição fazendo oposição ao antigo prefeito João Coser [PT]. Estou rodando muito o Estado e moro em Vitória. Não vi um prefeito bem avaliado ainda e ele é o candidato do prefeito. E outra coisa, o Devanir tem a Igreja Universal e está rodando muito.



E o PSDB?



– Tá certo, o PSDB no início da semana lançou Luiz Paulo Vellozo Lucas ao Senado...



Para segurar a mão de César Colnago, porque o que estava no mercado é que ele queria ser vice na chapa de Paulo Hartung [PMDB]...



– Mas Luiz Paulo foi mais sabido que ele. Ele se lançou, inclusive, baseado em pesquisa, parece que está muito bem avaliado para o Senado. Ele está muito bem avaliado e os outros estão também. Ele, Coser, Rose de Freitas ]PMDB] e Neucimar Fraga [PV]. O PSDB já está junto com Casagrande. Luiz Paulo, no meu entender, já é o senador de Renato Casagrande. Agora, onde é que entra a perna para garantir a eleição de César Colnago ou Max Filho? Quem está botando o pé na porta ainda é o César, que não achou uma perna para ele, porque sabe que vai ter um pouco de dificuldade. Ele perdeu a Secretaria de Agricultura e hoje vai ter de se acostumar a um palanque diferente do que está acostumado a andar. É diferente de Lelo Coimbra [PMDB]. No interior, onde eu vi voto de Paulo Hartung, vi de Lelo também.



E essa chapa com o DEM é muito fraca para o PSDB. O que o DEM pode oferecer?



– E hoje é DEM e PSDB. O PSDB sem Luiz Paulo na proporcional e no DEM, não se sabe se o Theodorico Ferraço.



Mas o lançamento da candidatura do Luiz Paulo é porque Casagrande acenou para acolher o César Colnago.



– Acolher, vai ter de acolher, mas vai colocar onde? A perna com PV e PP não aceita.



– Com o PSB...



– Com o PSB, quem não aceita é Colnago. Tem de arranjar um lugar para ele. Tem de acomodar a tentativa de eleger César Colnago porque, no meu entender, hoje, Max Filho, em função de estar fora do mandato, e quem tem preferência do eleitorado.







O desempenho do prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda [DEM], beneficia a ele mais até do que Neucimar Fraga?



– Em Vila Velha vai polarizar a disputa entre Neucimar e Max Filho.



– O prefeito não tem candidato nesta disputa.



– Não tem. Apesar de que as informações são de que serão lançados três candidatos a deputado federal em Vila Velha. 



– Quem são esses três?



– Dizem que a estratégia do Rodney é lançar três federais. Vai tirar do bolso.



– E no outro palanque, o do ex-governador Paulo Hartung, como está a situação?



– No palanque de PH vai vir PMDB, PT e PDT. Só de deputado estadual, tem 16, vai eleger de oito a dez. Já tem seis fora. Guerino Zanon [PMDB] é figurinha carimbada. Segundo informações, já mandou lavar o terno e está passando.



– No PT tem um tal de Frei Onório que, parece, vai dar trabalho...



– Também. O PDT tem Da Vitória, que trabalha. Nessa coligação, com menos de 25 mil votos, chance zero para a Assembleia.



– Mas o PDT pode sair sozinho, como fez em outros anos...



– Mas isso vai depender da quantidade de candidatos que ele tem. Aí tem a questão do PR. Há um trabalho muito forte para que o PR possa caminhar com Paulo Hartung. Pode juntar PDT com PR e fazer uma chapa para garantir. Mas tem de ver a questão da federal, porque o que interessa a Magno Malta é a reeleição da esposa, a deputada federal Lauriete [PSC]. Juntando os quatro partidos, fica uma chapa boa, dá para fazer de três a quatro.



O PMDB vai ter o Lelo, Rose foi para o Senado, e Camilo Cola não se sabe se vai disputar. E não se vê lideranças novas na disputa, talvez Solange Lube. Isso vai ajudar o PT, não é?



– Sim, o PT sai beneficiado.



– O nome praticamente eleito nesse grupo é do PDT...



– Sérgio Vidigal. Hoje, quem perdeu a eleição em 2012, tem como principal cabo eleitoral quem ganhou dele. Não tem um prefeito que esteja bem. A gente vê na imprensa que o Luciano Rezende [PPS] vai reduzir contrato em Vitória. Isso é sinal que a receita não está boa. Sinal de que há desequilíbrio financeiro e todos os prefeitos estão assim. Na minha entrevista passada aqui, disse que se Magno Malta viesse para o governo do Estado seria uma lavanderia do tamanho deste prédio, mas já estão acomodando o Magno.







– Isso não traz prejuízo tanto para Magno quanto para Hartung?



– Vão ter de explicar por que estão juntos. Por que Magno está contra Renato Casagrande, se sempre estiveram juntos?



E também por que Luiz Paulo, que foi adversário de Renato Casagrande em 2010, agora será seu candidato ao Senado. Tá esquisita esta eleição, não está?



– O que está em jogo de fato aqui? Quando você olha o quadro dos interesses pessoais, o que está em jogo são as eleições de 2016. Vai haver uma proteção de João Coser e o dedo de muita gente para que João volte para a Prefeitura de Vitória. Se Luiz Paulo for senador, com a votação pocando em Vitória, e Luciano estiver mal avaliado? Com certeza, se João vier candidato pelo PT, Luiz Paulo virá pelo PSDB.



– Ele largaria o Senado?



– Eu não tenho dúvida. Luciano vai ter peso pesado contra ele e eu não vi Luciano fazer ainda política partidária, ele está se colocando como gestor, mas só gestão não ganha. Ele é presidente do PPS, tem de fazer política partidária. Gandini tem de ser bem votado em Vitória. Se Gandini for mal votado em Vitória, é um mal prenúncio.



Isso vale para todos os municípios. Teremos isso em Vitória, e na Serra, a velha novela entre Audifax Barcelos e Vidigal. Em Vila Velha, os dois ex-prefeitos e o prefeito fraco, e em Cariacica, com a questão do Helder Salomão (PT), também bem cotado para a eleição de deputado federal.



– A eleição deste ano vai definir o quadro de 2016.



– Sem nenhuma novidade, não é? Atuais versus antecessores.



– Não tem nova liderança, mas o curioso é isso, que os principais cabos eleitorais dos candidatos deste ano são quem está com mandato e quem está desgastado à frente das gestões, fortalecendo seus antecessores.



– Isso também se reflete na disputa majoritária. Criou-se uma imagem muito forte no palanque do Renato do apoio dos prefeitos, mas essa disputa de grupos vai se repetir nos 78 municípios do Estado, por isso, se fala que Paulo está dividindo o eleitorado. Por isso e por outros motivos.



– Eu sou meio cético a essa história de prefeito transferir voto para governador. Acredito muito mais na transferência de prefeito para senador do que para governador. O peso, a mão, a máquina, tem mais força na candidatura ao Senado, por isso, a Rose está bem. O que ela precisa é criar um grupo dentro da Região Metropolitana, que é onde ela tem pouco voto, já que faz um trabalho municipalista. O que a Rose precisa para se viabilizar mais ainda para a disputa ao Senado, é fazer um grupo político na Grande Vitória.



– Os adversários dela são o contrário, não é? Luiz Paulo, Coser e Neucimar são conhecidos na Grande Vitória, mas nem tanto no interior.



– Exatamente. Por isso tem essa balança. Se a Rose conseguir formar um grupo político bom na Grande Vitória, vai arrebentar. Você vai em município que tem 12 mil votos, ela tem oito mil. Se sair para o Senado, vai ter 90%. Aí tem influência do prefeito. No governo não tem.







– Fale um pouco sobre a saída dessas figuras da disputa proporcional para a disputa majoritária. Luiz Paulo vai para o Senado, Rose de Freitas, Coser e Neucimar também tenta se viabilizar. Não se sabe quem Renato Casagrande vai puxar para a vice. No caso de Hartung, fala-se em alguém do PT. Como ficam as chapas?



– Na verdade estão tirando quem tem peso, quem tem voto na proporcional, e estão levando para a majoritária. Isso acaba enfraquecendo as chapas.



– Nesse cenário de coligações que o senhor desenhou, como ficou a soma para federal?

 


– Veja bem, sempre ficam um ou dois flutuando de acordo com as sobras. Mas aqui temos oito bem colocados dentro das perninhas. A perda de estadual está mais bem definida. A de federal depende muito de quem vai ser vice e vai disputar o Senado. Se Helder vier candidato a vice de Paulo Hartung, enfraquece a chapa do PT, se não vier, se for outro, ele pula para federal e fortalece muito a chapa. A federal teremos que aguardar um pouquinho. O principal instrumento aqui é alojar o PSDB de César Colnago e Max Filho, que pode ter muito voto e não ganhar a eleição.



– Pelo humor que os deputados estaduais têm demonstrado ultimamente, a disputa vai ser bem dura na Assembleia também, não vai?



– Vai acontecer o que aconteceu na Câmara de Vitória, os presidentes de partido aprenderam a fazer conta. Tem candidato a vereador na Câmara, em 2012, que obteve quatro mil votos e que ficou de fora e tem vereador com 1,5 mil votos. Os presidentes aprenderam a fazer conta. Mas nessa chapa PT, PMDB e PDT, com menos de 25 mil votos não entra. Naquelas perninhas de partidos emergentes pode ter candidato com oito, dez mil votos, que pode conquistar a cadeira.



E vai ter novidade nesta eleição?



– Acho que vai, nos emergentes vai ter novidade. O PCdoB vai ter novidade. PTdoB vai ter novidade.



E o Psol, vai ser mais uma vez só para marcar espaço?



– Só para marcar espaço. Fazer partido não é fácil. Não sei se fura legenda, teria de ter uma média de 1,5 mil votos na legenda para garantir uma vaga. É muito difícil furar a legenda. O imbróglio é esse, tem que esperar as convenções partidárias.



– Pois é, está chegando o período das convenções e as costuras parecem muito frágeis, está tudo muito confuso. Tem contrato assinado que pode ser rasgado.



– No final vai dar casamento na delegacia. Não tem jeito. Como o cara vai ficar sozinho? É melhor ele disputar e ser suplente de alguém do que não ser suplente de nada.



– O Renato está com a quantidade, mas Hartung está com a qualidade, em termos de partidos, porque são os maiores partidos do Estado que o apoiam. O que vale mais?



– As duas coisas são boas. Paulo vai ter menos índio na rua. O tempo de televisão fica pau a pau, praticamente. Renato vai ter mais índio na rua, porque cada coligação dessa pode lançar 90 candidatos. Se Paulo vier com uma coligação só, vai ter 90, o Renato, só para se ter uma ideia, das três pernas que já estão caminhando com ele, indo para quatro, são mais de 300 candidatos. Mas eu confesso a você que não sei até que ponto isso é uma grande vantagem. Se o deputado tem 10 mil votos, quanto ele transfere para o governo? Não é tão importante. É uma coisa que marca, mas não define.

 

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