
Na coletiva que fez na manhã desta sexta-feira (19), logo após apresentar o balanço dos seus quatro anos de governo, Renato Casagrande (PSB) destacou o impasse que enfrenta na Assembleia Legislativa para a aprovação das contas de 2013 do seu governo. O governador fez uma espécie de desabafo. Ele se disse inconformado e ao mesmo tempo surpreso com os deputados que estão manobrando politicamente a reprovação de suas contas.
“Nunca na história deste Estado uma conta aprovada pelo Tribunal de Contas foi rejeitada pela Assembleia e nunca isso aconteceu em nenhum Estado do País. Eu quero dizer que essa é a velha política. Essa é a política pequena, baixa, vil, que se busca e tenta atingir adversários usando parte de instituições. Isso tem que ser repudiado não porque é contra o governador. Porque hoje é contra mim, mas amanhã pode ser contra qualquer um de vocês, pode ser qualquer instituição, que pode sofrer injustiça, violência e perseguição”, afirmou.
E continuou: “Não impus a nenhuma instituição pública ou privada o meu desejo, chamei todos quando tinha algo para discutir. Nunca tentei submeter ninguém aos meus caprichos. Essa também é uma chance de nos erguermos, levantar a cabeça e dizer que nos, capixabas, queremos sim diálogo. Não vamos aceitar ninguém ser chicoteado usando o poder que tem na mão, ninguém pode me chicotear usando uma instituição, chegou a hora de reagirmos”, clamou.
Casagrande classificou as investidas contra a sua administração como um retrocesso e se disse envergonhado com os deputados estaduais que votaram pela rejeição das contas do exercício de 2013, que vai à votação pelo plenário da Assembleia Legislativa.
No balanço de seu governo, Casagrande fez questão de mostrar que cumpriu o que prometeu e que deixa o Palácio Anchieta com a cabeça erguida.
Em seu discurso de posse, há quatro anos, o socialista prometeu que iria governar para aqueles que não eram vistos. Agora às vésperas de deixar o cargo, Casagrande tem a certeza de dever cumprido, mesmo sem obter a reeleição. “Deixo como legado uma mudança de patamar nos investimentos na área social e em infraestrutura”.
O socialista também sublinhou os resultados obtidos pelo seu governo para reduzir os índices de violência, a melhoria nos indicadores da educação e a criação de um programa de mobilidade urbana.
Durante a última prestação de contas, em reunião do Conselho Econômico do Estado, o governador defendeu o legado de sua gestão, que está sob ataque de aliados do sucessor, Paulo Hartung (PMDB), considerado por ele como adversário. “Vamos entregar o governo organizado. Qualquer outro comentário é uma tentativa de reduzir a expectativa para o ano de 2015”, afirmou.
Mesmo evitando antecipar os seus próximos passos, Casagrande foi contundente sobre o possível debate do futuro do Espírito Santo, no sentido de se tornar o mais opositor do ex-aliado e futuro governador. “Isso me decepciona, mas serve para estabelecer o Estado que nós queremos. A gente quer o Estado com as instituições altivas? Vamos trabalhar para isso. Ao mesmo tempo em que me decepciona me dá a oportunidade de discutir como queremos o Executivo conduzindo o Estado”.
Legado na área social
Voltando ao balanço dos quatro anos de governo, a apresentação de Casagrande evidencia a comparação feita durante a campanha eleitoral. Mesmo sem o sucesso eleitoral, o socialista acredita que fez mais em quatro anos do que o antecessor em oito de gestão, sobretudo nas áreas mais sensíveis e de maior demanda da população. Nas áreas de segurança pública, saúde e educação, o Estado investiu R$ 6,06 bilhões até o início de dezembro de 2014 contra R$ 4,73 bilhões no ano de 2010, último da gestão de Hartung.

Casagrande destacou que na área da segurança comandou pessoalmente as ações do governo na implantação do programa Estado Presente – único programa estadual de prevenção à violência criado em mais de uma década. Entre as principais medidas apontadas por ele, estão a instituição da Patrulha da Comunidade; a contratação de 6,6 mil novos policiais (militares, civis e bombeiros); a construção de novas unidades policiais; e a aquisição de equipamentos (viaturas, câmeras de videomonitoramento e smartphones para as polícias).
Durante os quatros anos de Casagrande, o Estado investiu R$ 6 bilhões contra R$ 4 bilhões no último mandato de Hartung (2007/2010). No período, a taxa de homicídios no Estado despencou de 58,3 mortes por grupo de cem mil habitantes, em 2009, para 39,8 mortes no mesmo grupo – valor previsto para este ano.
“Se a gente quisesse inverter de vez a chaga da criminalidade era necessário investimento. Hoje estamos numa curva que desce, esse é o menor índice de homicídios nos últimos 22 anos. Não somos mais o 2º estado mais violento, vamos fechar esse ano como o 5º ou 6º. Saímos dessa posição que sempre nos envergonhou muito e continua nos envergonhando porque quando uma pessoa morre temos que ficar assim. Não somos mais o 1º em homicídios de mulheres, não somos mais o 1º em violência letal contra jovens. A nossa violência ainda é muita alta, mas nos animamos com um dado desse”, explicou.
Na área de educação, Casagrande destacou a primeira colocação do Estado no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), além da melhoria no percentual de pessoas de 19 anos que concluíram o Ensino Médio, que saiu de 46,7% em 2009 (14ª colocação no ranking) para 64,9% no ano passando, resultando que levou o Espírito Santo para o terceiro lugar do pódio. O gasto médio por aluno também cresceu: de R$ 4.958 em 2010 para R$ 6.380 este ano. Casagrande também celebrou a implantação de 16 escolas em tempo integral, que foi a grande promessa eleitoral de candidatos de todo País, inclusive, os presidenciáveis, no pleito de outubro.
Já em relação à saúde pública, apontado por ele como a principal demanda da população, Casagrande comemorou a criação de 1.250 leitos, além da inauguração de novos hospitais (Jayme santos Neves, São Lucas, Hospital dos Ferroviários, este último reaberto) e a interiorização de leitos de UTI e especialidades médicas. Para este ano, o total de investimentos na área gira em torno de R$ 2,27 bilhões contra R$ 1,7 bilhão no último ano de gestão de Hartung.
Outras iniciativas destacadas pelo governador foram a gestão fiscal do Estado, liquidação de todos os precatórios do Estado (com exceção do precatório da trimestralidade, que está sendo discutido pelo Supremo Tribunal Federal) e ampliação das transferências voluntárias aos municípios (repasses feitos por iniciativa exclusiva do Estado sem contar os repasses obrigatórios, a exemplo da transferência da cota parte de tributos, como o ICMS e IPVA). Casagrande destacou a criação do Fundo Cidades e a ampliação dos fundos de custeio na área de saúde, assistência social e desenvolvimento regional. Ao todo, a gestão socialista repassou R$ 1,36 bilhão aos municípios, mesmo valor registrado nos oito anos de Hartung.
“Nós buscamos um jeito novo de transferir aos municípios sem perguntar ao prefeito se ele é de partido A ou B. Deixamos no orçamento do próximo ano mais R$ 200 milhões no Fundo Cidades. Para fugir dessa disputa política menor, deixamos como fonte do recurso o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Nacional] para não ter nenhum argumento (por parte de Hartung) para não passar o recurso aos municípios”, disparou Casagrande, em alusão ao eventual favoritismo do ex-governador na liberação de recursos somente para aliados políticos.
O governador também comemorou a elaboração do programa de mobilidade urbana, que contempla grandes intervenções s como a reativação do Sistema Aquaviário, BRT (linhas exclusivas de ônibus) e a construção da Quarta Ponte. Ele destacou ainda as obras do governo Federal, como o contorno rodoviário do Mestre Álvaro e o fim da novela das obras de expansão do Aeroporto de Vitória. “Nós vamos colher nos próximos quatro anos o fruto do trabalho que fizemos para destravar os investimentos do governo federal. Vamos sair daquela reclamação que falta investimento, as obras já estão começando. A fotografia da Grande Vitoria muda completamente com as obras nossas, do governo estadual, e do governo Federal. Deixamos isso como resultado da articulação que fizemos”, cravou.
Sobre as divergências em torno da licitação de algumas obras de mobilidade, cujas editais foram questionados pelo Ministério Público Especial de Contas (MPC), o socialista espera a continuidade dos projetos pelo sucessor: “Nós paramos os processo de licitação para que o próximo governo resolva. Acho elegante que obras grandes como essas sejam resolvidas pela próxima gestão. Mas deixamos projeto executivo prontos, financiamento, dinheiro em caixa, licenciamento ambiental. Por isso acredito que seja dada continuidade”.
Balanço

Casagrande não soube eleger um melhor momento específico de gestão. Para ele, os momentos de maior satisfação foram na entrega de resultados à população. Ele voltou a bater na tecla do combate ao mau uso do dinheiro público e a corrupção – em alusão ao principal embate nas eleições, quando denunciou episódios relacionados ao ex-governador Paulo Hartung, como o escândalo das viagens feitas pela ex-primeira-dama Cristina Gomes com dinheiro público. “Deixo um Estado transparente, ético, que buscou o diálogo com toda a sociedade e as instituições. Deixo o Estado preparado para o futuro, com realizações e todas as condições pra gente dizer que daqui há três ou quatro anos a fotografia será outra”, disse.
Questionado sobre se tinha algum arrependimento, Casagrande saiu-se assim: “Acho que sempre podemos melhorar, mas não me arrependo de nada. Tudo que eu vivi no governo, vivi intensamente, me dediquei de corpo e alma ao ato de governar. Trabalhei, posso dizer, todos os dias nesses últimos quatro anos sem nenhuma exceção. Às vezes, infelizmente para a minha família, mas felizmente para a sociedade que estamos representando. Trabalhei todos os finais de semana, 100% do meu tempo ao ato de governador, quem vive intensamente um governo sabe que poderia fazer mais ainda, mas está com a consciência tranquila de tudo que era possível ser feito”.