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Sem crime?!

Investigação sobre atos bolsonaristas no Estado tem conclusões como “atos pacíficos e espontâneos” e “falta de coordenação centralizada”

PRF-ES

Os relatórios das forças de segurança enviados para o Supremo Tribunal Federal (STF) após determinação do ministro Alexandre de Moraes, para identificar os líderes dos movimentos bolsonaristas que contestam o resultado da eleição à Presidência da República e defendem intervenção militar, se depender do que foi apurado até aqui pelas polícias do Espírito Santo, não devem resultar em nada. Isso porque, apesar de apontarem alguns nomes, perfis e imagens, repetem conclusões como “atos pacíficos e espontâneos”, falta de “coordenação centralizada” e “ausência de elementos para indicar lideranças”. O conteúdo, divulgado nesta quinta-feira (17) pelo Estadão, após envios pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Polícia Civil (PC), informa a participação, como possíveis organizadores dos bloqueios de rodovias que perduraram até o início deste mês, de comerciantes, caminhoneiros e ex-policial militar em municípios como São Mateus e Linhares, no norte do Estado, e Guarapari, na região metropolitana, e ainda de “pessoas que foram candidatas a cargos eletivos nas diversas esferas, mas não se pode ainda afirmar que são lideranças”. O ato que permanece em frente ao 38ª Batalhão de Infantaria do Exército, na Prainha, em Vila Velha, também é minimizado: “maioria de pessoas idosas” e estrutura “financiada, a princípio, pelos próprios manifestantes, e com vaquinhas para compra de alimentos”. Com diz a expressão popular: “então, tá, então…”

Lista
Dos nomes citados no decorrer das investigações e mantidos no relatório final pelas polícias, está o do candidato ao governo pelo PRTB, Cláudio Paiva, por suposta participação em ato na BR-101, em Guarapari, onde mora. Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), ele foi o menos votado este ano, com apenas 0,07%. No material, é mostrado santinhos ao lado do presidente e convocação feita em rede social para o ato em frente ao 38º Batalhão.

Lista II
Na mesma cidade, são apresentados os nomes da professora da rede municipal e candidata a deputada estadual, também derrotada, Ticiani Rossi (PL); do caminhoneiro Thiago Queiroz Rodriguez, com três anotações criminais de prisão em flagrante por tráfico e porte de arma; e do instrutor de tiro Flávio Silva Polonini, que aparece com seis referências de clubes e comércio da área.

Lista III
Em Linhares, é identificado Wanderson de Paula Medeiros, morador de Aracruz e que já tentou uma cadeira na Câmara de Vereadores, em 2020, e integra a Convenção de Ministros Evangélicos e Igrejas Independentes do Brasil (Comeiib). Ele teria atuado junto com Jeane dos Santos Castro, proprietária de empresa, e de Flávio da Silva, também proprietário de loja e membro do Tempo de Adoração Linhares. Os três aparecem como “agitando e dando suporte à manifestação”.

Lista IV
O oitavo e último nome é Ubirajara Nobre Carlos, conhecido como Bira Nobre, também do PL. Ele disputou as eleições de 2016, 2018, e este ano tentou uma cadeira na Assembleia Legislativa. Bira é identificado como da Comunidade Terapêutica Unidos pela Vida e foi citado no relatório do Ministério Público do Estado (MPES), que apontou atuação de uma “milícia privada” nos atos.

De fora
A outra pessoa citada no mesmo relatório do MPES, Marcos Willian dos Santos, inclusive com determinação de oitiva, foi excluída da conclusão final enviada ao STF, assim como a policial militar aposentada Suelen Feitosa, de São Mateus, que também disputou a Câmara em 2020, pelo então PSL. A PM foi presa, em 2017, como resultado das investigações sobre a greve da categoria, e no relatório chegou a ser identificada com “participação ativa” no bloqueio pela PRF. Não há explicações sobre os motivos de terem ficado de fora.

Indícios
Nos documentos enviados pelo órgão ministerial, é pedido abertura de inquérito para apurar a existência de “milícia privada”, considerando, ao contrário das conclusões, indícios de atuação de lideranças e de financiadores, como em Linhares, onde caminhões jogaram terra em pista e foram garantidas montagem de tendas e banheiros químicos.

Omissão
Assinado pela procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, tem também cobrança à inércia da PM para complementar provas. “(…) Determine à tropa que proceda, imediatamente, o completo das informações e documente por áudio e vídeo, participação de indivíduos e veículos no movimento em curso, sob pena de responsabilização por omissão”.

‘Crime’
A procuradora já havia considerado o caso capixaba como “criminoso”, em reunião com Alexandre de Moraes em Brasília, no último dia 8, quando também criticou a lista de boicote a empresários e serviços que votaram em Lula (PT), espalhada pelas redes sociais.

Apuração
Nesta quinta-feira, Moraes iniciou tomada de depoimentos de empresários e empresas suspeitos de financiarem os atos pelo País. O bloqueio das contas bancárias de 43 envolvidos, no entanto, já foi determinado. Do que foi divulgado até agora, o bloco não inclui o Espírito Santo.

Apuração II
Em outra medida, a Corregedoria Nacional de Justiça estipulou aos magistrados da Infância e Juventude, que verifiquem possível violação a direitos em acampamentos de manifestantes, devido à presença de crianças e adolescentes. A ordem é para que sejam examinadas questões como salubridade, higiene e alimentação, além de frequência escolar. Vídeos da Prainha já mostraram crianças dormindo até no chão.

Nas redes
“Deixem nossas crianças em paz (…)”. Senador bolsonarista eleito, Magno Malta, do PL.

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