Essa semana estava pronta a coluna sobre um escritor que ficou famoso baseado na fantasia. Mas de repente os movimentos no Brasil desviam minha atenção – exatamente no país da fantasia, há algo de novo no ar além da poluição. Em minhas recentes e curtas férias passadas em Vitória, fiquei chocada com os desmandos que se vê no país, devidamente endossados pela aceitação coletiva – ninguém reclama, ninguém reage.
Os preços pela hora da morte – nossa, claro – e não se fala em inflação. Ruas sujas e esburacadas, o caos na educação e na saúde, ou melhor, na doença, que a saúde é uma questão de sorte. Mas, principalmente e acima de tudo, a violência. Como acreditar que está tudo bem em um país em que a violência enche as páginas dos jornais? Como dizia o jornal O Dia, antigamente, se espremer sai sangue. Onde o povo vive em constante estado de medo, o próximo pode ser alguém da minha família…
Os altos índices de aceitação do governo Dilma e a popularidade do Lula conseguem resistir a tudo, flanando imbatíveis nesse mar de corrupção, desmandos e impunidade . Parece que, no frigir dos ovos, não salva ninguém, somos todos vilões, por participação ou conivência. Viramos um país sem voz, sem consciência democrática, onde o governo do povo para o povo se mantém pela constante vigilância do povo.
No entanto, aceitamos ser assaltados pelos bandidos nas ruas e pelos nossos dirigentes nos escritórios bem decorados dos luzídios edifícios públicos. Fantasiamos o mar de lama com expressões jocosas, do tipo, vai acabar em pizza; no país do carnaval tudo dá samba. Quem espera ver os bandidos do mensalão na cadeia, quem sonha andar tranquilo nas ruas, a qualquer hora do dia ou da noite? Pensaram que a bolsa-família ia acabar com a violência?
Se a polícia prende um bandido, dois aparecem para tomar-lhe o lugar. O mesmo acontece com as maracutaias do alto escalão – uma é denunciada, duas já estão sendo tramadas. O importante é não deixar secar as tetas da corrupção onde eles mamam. No entanto, somos felizes, apoiamos o governo, e votamos nos eternos mercenários de sempre. Haja novela, carnaval e futebol!
Na terça-feira meus filhos foram assistir ao jogo de basquete do Miami Heat, no centro da cidade, e ficaram surpresos ao deparar com uma passeata de brasileiros nas ruas. Como assim, uma passeata de apoio aos protestos no Brasil? Entre os cartazes exibidos, meu preferido: “Brasil, cinco Copas do Mundo, zero Prêmios Nobel”. Aderiram, mas naquela noite o Heat perdeu.
Os eventos no país depressa ganharam o mundo, e as pessoas aqui me perguntam o que está acontecendo no país. Não ia tudo de vento em popa no hemisfério sul, com a economia em alta e seu país respeitado nas comunidades internacionais? Se o governo tem tanta aceitação, é porque tudo por lá deve ser um mar de rosas… Pois é! Houve um tempo que presidente da republica não ia a estádio de futebol. Vamos ver quem vai abrir os jogos da Copa do Mundo.