Terça, 30 Abril 2024

Dilma, Casagrande, Rubicão

 

Temos aí uma similaridade histórica anunciada no ar de 2013. O ano começa com jeito de que vai ser o da travessia do Rubicão tanto para a presidente Dilma Rousseff quanto para o governador Renato Casagrande. É óbvio que as escalas, contextos e enredos são absolutamente diferentes. Mas o que é similar é que, politicamente, ambos terão que atravessar “fronteiras”, superar obstáculos, ter ousadia para chegar em 2014 com capacidade política para as disputas das suas respectivas re-eleições.
 
Dilma navega em alta popularidade, tem base política ampla e oposição ainda sem capacidade para se construir como alternativa de poder. Entretanto, como a inclusão social, a sensação de bem estar dos brasileiros e a sua imagem de gestora são o coração da sua popularidade e da sua força política, ela vai precisar reverter as expectativas econômicas de baixo crescimento da economia e de volta da inflação, bem como reverter as expectativas de paralisia decisória e baixa capacidade de execução do seu governo. Por último, terá que conter (politicamente) a evolução de uma proliferação de candidaturas à presidência em 2014, o que poderia levar as eleições de 2014 para um segundo turno – e poderia colocar em cheque a sua capacidade de re-eleição.
 
Expectativas. É disto que se trata no momento. Tudo indica que a presidente Dilma tem percepção e compreensão da conjuntura. E que já estaria pronta para desencadear ações e reações para atravessar o seu Rubicão. Começando pela retomada da confiança dos grandes investidores no seu projeto de governo e de país, passando pelo redesenho do processo decisório do governo, chegando no rearranjo da base aliada e congressual e, portanto, desembocando no ajuste geral da correlação de forças que sustenta o seu governo. Não é uma tarefa fácil. Ainda mais porque a mídia começa a gerar na chamada opinião publicada uma noção, ainda tênue, de que a presidente, no final das contas, poderia não ser esta boa gestora que todos acham que ela é. É ou não é um Rubicão a ser atravessado?
 
Já no que diz respeito ao governador Renato Casagrande, ele tem boa avaliação nas pesquisas de opinião, também tem ampla base de apoio político e, por enquanto, não tem perspectivas de curto prazo de ter oposição com capacidade de enfraquecer o seu governo. Mas tem que trabalhar com a possibilidade de enfrentar o senador Magno Malta em 2014. O que significa que uma expectativa de alternância de poder começa a pairar sobre o seu projeto de governo e poder.
 
O seu governo tem um colchão fiscal que agora se fortaleceu com os recursos federais do BNDES e da Caixa Econômica Federal que vão compor o chamado PROEDES. Mas, apesar do colchão fiscal, o governo Casagrande terá ainda pela frente desafios grandes na pauta federativa. As questões dos royalties, do FPE (Fundo de Participação dos Estados) e da unificação do ICMS. Estas questões são cruciais para a garantia do colchão fiscal do governo Casagrande e para o equilíbrio fiscal sustentável do governo estadual no longo prazo.
 
Por isto, o governador ainda vai ter que dedicar muita energia para enfrentar o processo político nacional de repactuação do pacto federativo brasileiro que está em curso. É disto que se trata. Alguns analistas e veículos de comunicação vêm esta questão como uma espécie de “tramóia diabólica contra o Espírito Santo”. Este é um olhar enviesado e provinciano. Está em jogo o pacto federativo, envolvendo todos os estados brasileiros. É por isto que esta questão se coloca como forte componente de um Rubicão que o governador Casagrande tem que atravessar.
 
Depois de um início tímido na diplomacia federativa, Casagrande tem se colocado com firmeza e habilidade no processo. Ele agora pode, inclusive, melhorar a sua inserção no debate também navegando com a força política e a importância nacional do seu partido, o PSB. Tudo isto, se bem conduzido principalmente pelos governadores e pelo Senado da República, pode levar o governo Dilma a arbitrar um processo de refundação da Federação. Mas pode também virar uma guerra de todos contra todos. Daí, outra vez, a idéia de Rubicão...
 
Além da crucial pauta federativa, o governo Casagrande tem diante de si a pauta social. Nesta pauta, não dá para “colocar a culpa na Dilma e no Lula”. Embora seja uma pauta que tenha a ver com as relações intergovernamentais – União, Estados, Municípios -, ela trata de questões que o próprio governo estadual tem que encarar e resolver, articulando-se com os municípios e com o governo federal. A saúde vai mal. A segurança vai mal. A qualidade da educação vai mal.
 
Se o governo Casagrande não melhorar os índices da violência, não reduzir as filas nos hospitais e não melhorar as avaliações na educação, o governador corre real risco político-eleitoral em 2014. Político porque no mínimo ele vai ficar mais frágil. Eleitoral porque aí ele abre espaço para o fortalecimento de uma candidatura alternativa como a do senador Magno Malta, com o seu discurso da família. Olha aí o Rubicão outra vez...

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