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Elon Musk e o Twitter – parte II

Demissões ocorriam sem o aviso prévio de 60 dias

Elon Musk completa seu acordo de U$ 44 bilhões para a compra do Twitter e dissipa os ares de incerteza que estavam no ar. Contudo, a seguir vem a demissão do então CEO da plataforma, Parag Agrawal, e de dois executivos, levantando novas questões sobre o futuro da plataforma. Um dos sinais dados por Musk, por sua vez, foi a de estabelecer uma nova política de moderação de conteúdo para o Twitter, segundo um conceito mais extremo de liberdade de expressão.

Elon Musk, após o anúncio de compra do Twitter, postou na plataforma um vídeo de si mesmo entrando na sede da empresa carregando uma pia de cozinha e a legenda: “Let that sink in!”. Pia em inglês é “sink”, e a expressão “sink in” quer dizer algo como “cair a ficha”, então, a legenda dizia algo como “Vamos fazer cair a ficha”. Elon Musk também mudou a descrição do seu perfil no Twitter para “Chief Twit” (“Chefe Twit”).

Após a dissolução do conselho de administração, Elon Musk se tornou o único diretor da plataforma. A decisão, segundo ele, foi a de reduzir a força de trabalho, uma vez que o Twitter estaria perdendo mais de U$ 4 milhões por dia. Nesses dias começaram diversos relatos de funcionários que tinham sido demitidos, com perguntas como sobre o futuro da moderação e a retirada de conteúdo nocivo na rede social.

Em meio às demissões em massa feitas, funcionários relataram terem sido desligados dos laptops de trabalho, do Slack, um sistema de mensagens, e com o quadro de cortes abrangendo, por fim, departamentos que iam do marketing à engenharia, incluindo funcionários de comunicação, desenvolvimento de produtos e curadoria de conteúdo. Funcionários demitidos da plataforma por Musk entraram com uma ação coletiva nos Estados Unidos em que apontavam demissões sem o aviso prévio de 60 dias, violando tanto a lei federal como a do Estado da Califórnia.

Em meio à confusão de Musk, com demissão da metade de sua força de trabalho no Twitter, impacto entre anunciantes poderosos, lançamento e descontinuação de recursos de modo inconstante, causou-se, por fim, uma fuga de executivos sêniores, com a plataforma entrando no limite de sua operação, e Musk admitindo que era possível até a falência do Twitter.

O caso do selo azul “Oficial”, o chamado Twitter Blue, foi uma ideia de estabelecer contas verificadas não mais por notoriedade, mas com o pagamento de U$ 8, o que causou a presença de contas falsas estando como verificadas, o que levou a plataforma a retirar o selo azul para depois reintroduzi-lo, para que contas verificadas pudessem confirmar a sua identidade, ou seja, uma confusão e um domínio da imprevisibilidade, segundo uma perspectiva acionária.

Dentre as demissões e dissoluções, houve a da equipe de combate à desinformação, responsável pelo monitoramento de conteúdo da rede social, no qual se cumpria funções como a de destaque de fontes de notícias com checagem, postagens confiáveis que apareciam em sequência, sendo acessada na maior parte dos idiomas mais falados do mundo. Portanto, foram dissolvidas equipes nos Estados Unidos, em Sydney, Londres, Accra em Gana, Tóquio, São Paulo, Cidade do México e Singapura, unidades que acompanhavam postagens em inglês, espanhol, árabe, hindi, japonês e português.

Embora o Twitter não seja a rede social mais usada nesses países, ela é de rápido compartilhamento e disseminação, com desinformação que sai de lá para outras redes. Por sua vez, diferentes locais de diferentes idiomas possuem problemas diferentes também. Isto é, em lugares em que se fala o árabe, o problema é a presença de spam nos trending topics. Na África, por sua vez, o escritório em Gana era o único no continente, com um desleixo enorme em relação à África Subsaariana, tendo a empresa como foco o hemisfério norte, portanto, com usuários manipulando as redes destes locais sem moderação há tempos, com muita violência e desinformação.

Em meio às demissões, também houve funcionários que pediram demissão, sobretudo depois do tal ultimato feito por Musk, via e-mail, para que a equipe se comprometesse a “longas jornadas de alta intensidade” ou deixar a empresa. Musk dizia que os funcionários teriam que trabalhar por longas horas e ser “extremamente hardcore” ou se demitirem. Os que recusassem a proposta receberiam uma indenização de três meses.

Então, dentre os funcionários que pediram demissão, alguns tuitaram usando a hashtag #LoveWhereYouWorked (tradução livre “ame onde você trabalhou”) e um emoji de saudação para mostrar que estavam saindo da empresa. Sem considerar os funcionários que ficaram, aqueles que pediram demissão demonstraram uma relutância em permanecer em uma empresa onde Elon Musk demitiu metade de sua força de trabalho com rapidez, incluindo a alta administração, em um processo de mudança radical da cultura da empresa para enfatizar longas horas de trabalho de alta intensidade.

Quanto à publicidade, com as polêmicas das demissões, da falta de moderação de conteúdo e, por fim, da restauração de contas de usuários que estavam banidos da plataforma, como Donald Trump, a plataforma está com menos anunciantes de grande marcas, com queda da receita de publicidade. Elon Musk, contudo, não se importa, e já manifestou o desejo de que a plataforma se sustente através das assinaturas de seus usuários, e não mais através da publicidade.

O Twitter, até antes da sua aquisição por Elon Musk, foi uma plataforma que se esforçava em transformar a sua influência cultural, política e na mídia, em receitas de publicidade. Agora, com a atuação disruptiva de Musk, parece que não depender de anunciantes abre caminho para que o novo CEO utilize a plataforma como um veículo da liberdade de expressão segundo critérios absolutistas, de queda de qualquer controle ou moderação de conteúdo, se tornando o Twitter uma rede social de desinformação e de extremismos.

Antes de Elon Musk comprar o Twitter, a plataforma já tinha um negócio de publicidade menor que o do Facebook, por exemplo, pois não oferecia o mesmo nível de segmentação de usuários. Se Elon Musk consegue efetivar o serviço de assinaturas, seria algo que outras mídias não conseguiram, ou seja, tal objetivo se trata de um modelo improvável de sustentação de uma plataforma, de uma rede social.

A amplitude dessas assinaturas no X, ex-Twitter, por seu turno, também é questionada, pois é uma rede social de nicho, utilizada sobretudo por membros da mídia, políticos e acadêmicos, e que agora está sendo povoada por haters, negacionistas, extremistas e agentes de desinformação.

Mesmo que todos os 217 milhões de usuários diários do X, ex-Twitter assinassem por U$ 8 por mês na plataforma de Elon Musk, isto geraria uma receita anual ainda bastante inferior a de uma Meta. Musk pode até contornar estas limitações, mas terá de reverter uma receita publicitária que ele mesmo destruiu, manter seus sistemas funcionando, e algo que está em questão, que seria evitar a violação de leis sobre direitos autorais e discursos de ódio.

E, para que o X, ex-Twitter, continue operando, a plataforma terá que manter uma boa relação com a Apple e Google, pois estas empresas controlam as lojas de aplicativos em que o X, ex-Twitter, está disponível para download e instalação em smartphones, portanto, com a plataforma dependendo bastante de tais lojas para se sustentar como negócio.
(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog
: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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