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Entre eles e aqueles

Brasileiros e brasileiras, nossa santa língua-mãe é machista?

Com o advento do #Me too, ou Comigo não, gavião, muitas coisas estão mudando, felizmente em boa hora. Os movimentos anti-machismo se voltam agora contra nossa língua-mãe, penúltima flor do Lácio, uma vez que a atual está tão deformada que já se considera língua nova. Boa gente, brasileiros e brasileiras, nossa santa língua-mãe é machista? O que se esperaria dos nossos ancestrais, ainda tentando se adaptar e sobreviver nos primeiros aglomerados sociais? A igualdade entre os sexos jamais ocorreria a qualquer dos “pais da pátria”.

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Tempos difíceis, sem leis escritas e regras estabelecidas, com animais selvagens rondando famintos. Manter as mulheres nas cavernas era por proteção, e o “Aqui quem manda sou eu” virou norma aceita e estabelecida. Hoje dizer que ele e ela são amigos ofende os brios feministas. A solução seria usar a letra e em vez de o e a, para estabelecer a igualdade de gêneros e garantir a paz social. Vê se dá para entender: Prezades amiges, e namorade de Paule é e Paule. Gramaticamente correto, mas ficou confuso e soa esquisito.
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Mor das vezes, a preponderância masculina é humilhante: Maria, Ana, Joaquina, Luísa e João são amigos. Levamos uma goleada de quatro a um. Seria mais justo estabelecer um valor numérico – o que tem maior número domina o gênero. Mas nossa língua tem muitos outros pecados, como a utilização do possessivo seu-sua – Alô, João, Maria encontrou sua carteira mas não a sua. Qual carteira foi encontrada, a de Maria ou de João? Teríamos que esticar a sentença: Maria encontrou a carteira dela, mas a sua continua perdida. Qual delas tinha mais dinheiro?
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Essa falta de clareza pode gerar conflitos irreversíveis: Ana dormiu com seu marido. Aquela traidora? Não tem problema, eu dormi com o marido dela também. Inimigas para sempre, por causa de um atrito que teria sido evitado se eu me expressasse melhor: Ana dormiu com o marido dela. Infelizmente, a segunda declaração não tive como consertar. Pode-se ainda usar o adendo: Ana dormiu com o marido dela, não o seu. Como assim? Ela queria dormir com meu marido?
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O latim se espalhou pelo mundo graças às guerras dos césares. A gente reclama das constantes guerrilhas dos nossos políticos, mas imagina como seriam aqueles idos, quando os reinos viviam em ataques constantes. Marido, olha aí fora se hoje vai ter guerra. Os governantes não tinham tempo para governar: estavam no exterior, saqueando outros povos e difundindo a língua pátria. Quanto ao machismo gramatical, comum em quase todas os idiomas, melhor se preocupar com situações mais prementes, como boicote às vacinas, violência contra as mulheres, discriminação feminina no trabalho, os olhos vendados da justiça nos abusos sexuais, essas coisinhas.

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