Sábado, 27 Abril 2024

IA e a desconstrução da verdade

Nos últimos anos, tem havido um aumento significativo na produção de conteúdo online. Embora a disponibilidade de informações seja bem-vinda, a questão da propriedade intelectual tornou-se um desafio para muitos criadores de conteúdo, sobretudo, quando se trata de produções que auxiliam em nossas vidas cotidianas.

Com a criação de softwares de inteligência artificial (IA), vemos essa questão se tornando ainda mais complicada. A IA é capaz de produzir qualquer coisa, desde notícias até roteiros para Hollywood, e seu uso tem sido crescente no campo do jornalismo.

Isso nos leva a entrever a questão fundamental do papel que a IA desempenha em relação à produção de conteúdo e à verdade. Essas máquinas são capazes de emitir opiniões e criar narrativas. Até que ponto podemos dizer que isso é feito de modo imparcial? Estamos assistindo à desconstrução da verdade e uma grande mudança na forma como a informação é produzida e compartilhada diante de nossos olhos.

Muitos argumentam que a IA está eliminando a propriedade intelectual, abrindo caminho para o roubo impune de ideias e trabalhos criativos. Em vez de reconhecer o trabalho árduo de um indivíduo, esses programas simplesmente imitam o seu estilo. Essa é uma das muitas razões pelas quais a IA está chamando atenção daqueles que estão preocupados com os direitos autorais.

Especialistas

Para entender e refletir mais sobre esse tema, convém citar algumas opiniões de especialistas. Segundo Claudia Perlich, cientista de dados e sócia da Dstillery, empresa de análise de marketing e publicidade com sede em Nova York, "o problema de se quebrar a verdade é que ela é difícil de medir e verificar". É, portanto, difícil garantir a precisão do uso da IA no campo do jornalismo, por exemplo. Destaca-se também a visão de Matt Carlson, professor de comunicação na Universidade de Saint Louis, que afirma que a IA está "revolucionando a maneira como pensamos sobre comunicação e conhecimento".

Outro aspecto preocupante é que a IA também está mudando a maneira como as informações são apresentadas ao público. As máquinas são capazes de coletar dados sobre o usuário, o que permite uma personalização excessiva do conteúdo. A privacidade é afetada e a seleção de informações se torna tendenciosa. Como resultado, a verdade é novamente colocada em questão.

A propriedade intelectual também está em risco no contexto geral do desenvolvimento da IA, pois a inteligência artificial tem o potencial de criar trabalhos melhores e mais eficientes em muitas áreas, por exemplo, na medicina, mas isso acontece às custas de empregos humanos. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial indicou que a IA poderia resultar em uma perda de 85 milhões de empregos em todo o mundo, até 2025.

Sim, a IA está revolucionando a forma como vivemos e trabalhamos, mas enquanto a tecnologia avança, é importante que permaneçamos vigilantes em relação aos seus efeitos indesejados, incluindo a influência sobre a verdade, o desemprego e a perda da propriedade intelectual. Torna-se necessário pensar em soluções que protejam a criatividade e a privacidade, bem como garantir que a IA seja usada de forma justa e responsável. Mas isso as big techs fingem não ver.


Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica "navegadora do conhecimento IA"

Instagram: @flaviaconteudo

Emal:

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Domingo, 28 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/