Andava bastante mal humorada La Presidenta. Certos dias as olheiras despontavam sobre a maquilagem. Estaria simplesmente cansada de tudo isso que aí está ou…
Adoentada, quem sabe? Meia-cinco pesa na cacunda de qualquer um. Na presidência a pessoa não pode sair do protocolo. Todo dia engolindo sapos, obrigada a calçar sapatos apertados e comandar reuniões com idiotas, puxassacos e malfeitores. Viajar para ler discursos insípidos diante de claques adrede aliciadas, porca miseria.
A moça que combateu a ditadura militar, estudou economia e chefiou dois ministérios pregando o desenvolvimento econômico como alavanca da promoção social do povo, estava se deixando levar pela ilusão das medidas de varejo e dos anúncios de ocasião. Tamanho reformismo não poderia saciar tantas carências acumuladas.
Esse tipo de desgaste gera aquela espécie de insônia que não sossega nem cavalgando o travesseiro. O acúmulo de remédios para dormir torna-se nefasto. Chegou-se a comentar que alguém do ministério, da assessoria ou da base de apoio deveria tomar uma providencia mais enérgica para sanar tamanha carência. Na Argentina, onde a situação está mais difícil do que no Brasil, La Presidenta arranjou um namorado. O amor, santo remédio: no verão refresca, no inverno aquece os corações mais empedernidos.
Estava a república nesse vai-não vai quando as manifestações estudantis a arrancaram de sua monotonia, só quebrada pela inauguração de mais um megaestádio padrão fifa. Agora sim quem sabe ela sai do conformismo e busca em seu coração os ideais que alimentaram as revoltas estudantis de 1968, a luta pela redemocratização e as eleições presidenciais das últimas décadas.
A esta altura da crise, abatimentos de 10 a 20 centavos nas tarifas de transporte urbano configuram esmolas que não satisfazem. Tudo indica que será preciso lavrar mais fundo, questionando as bases do velho modelo plutocrático, que oferece migalhas para a maioria enquanto garante milhões para os ocupantes dos camarotes.
Cadê coragem para mudar as regras do jogo? Quais as propostas? Qual será o foro dos debates se os parlamentos não inspiram confiança? Jogo duro, torcida brasileira.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“A verdadeira dificuldade não está em aceitar novas ideias, mas em escapar das antigas”.
John Maynard Keynes, economista inglês considerado o pai da macroeconomia