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Lado mais fraco

Já diz o ditado que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. A sabedoria popular tem ficado evidente na verdadeira caça às bruxas instaurada após o fim da paralisação de 22 dias da Polícia Militar do Espírito Santo, ocorrida em fevereiro de 2017. Tanto nas investigações internas instauradas pela Corregedoria da Corporação quanto na denúncia realizada pelo Ministério Público do Estado (MPES) à Justiça estão sendo responsabilizados, em sua grande maioria, apenas os praças. Já os oficiais, poupados.  
 
O MPES denunciou 24 pessoas, que estão sendo julgadas pela Justiça Comum na 4ª Vara Criminal de Vitória, respondendo, na maioria dos casos, por atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública, incitação ao crime e formação de organização criminosa. Desse total, 14 são mulheres com parentesco com praças da PM, incluindo esposas, mães e irmãs.  Outros 10 são PMs, sendo que apenas dois oficiais. Um deles o Capitão Lucínio Assumção, da reserva, e o tenente-coronel Carlos Alberto Foresti, que está prestes a ser expulso da Corporação.
 
As mulheres casadas com oficiais, que também aparecem nos relatos como participantes ativas do movimento, estando à frente dos batalhões, sequer foram citadas. Há pelo menos três delas, duas esposas de capitães e uma de um tenente-coronel, que, no início da paralisação, deram, inclusive, entrevistas para veículos de comunicação, ou seja, material divulgado publicamente e que está documentado. Sequer foram citadas ou arroladas como testemunhas.  
 
O mesmo acontece com os próprios oficiais. Coronéis que estavam no comando de batalhões e companhias independentes e impediram os militares de sair para o policiamento, entre os dias quatro e sete de fevereiro, não foram devidamente responsabilizados, como apontam os depoimentos. Tais oficiais chegaram a ser investigados pela Corregedoria da Corporação, mas o inquérito foi arquivado. 
 
Foram ordens desses comandos que levaram os praças, que estão sob rígida hierarquia e cumprem ordens na estrutura militar, a não sair para o policiamento nos dias em que foram registrados o maior número de assassinatos e crimes contra o patrimônio. A alegação: mulheres que estava obstruindo as entradas e saídas dos batalhões.

Na verdade, o que circula é que os oficiais, também insatisfeitos com o arrocho salarial de quatro anos, acharam que o movimento daria certo, mas depois recuaram com medo de represálias. Recentemente, foram até beneficiados pelo abate-teto com a aprovação de 18% de reajuste para o alto escalão do Executivo, isentos de qualquer responsabilidade. Sobrou pra quem? Para os que estão na base da hierarquia da PM e que, além de baixos salários, sofrem com falta de infraestrutura para o trabalho de policiamento. Para a base da Corporação, custou amargar 5% de reajuste, concedido a todo o funcionalismo estadual. 

 
Desde o fim do movimento, o governo instaurou procedimentos administrativos para punir os militares supostamente envolvidos na paralisação. Até então, quem são os expulso da Corporação? Eles mesmos. Soldados e cabos. Há exemplos de praças que estão sendo excluídos depois de mais de uma década de serviços prestados e sem qualquer ato que desabone a conduta deles como policiais, demonstrando um claro julgamento político. 
 
A face mais estarrecedora do pós-fevereiro de 2017 tem sido o abalo emocional sofrido pelos policiais militares. Casos de suicídio e de tentativas de suicídio aumentaram consideravelmente. No último fim de semana, um diretor da Associação de Cabos e Soldados atentou contra a própria vida e foi encaminhado para a ala psiquiátrica do Hospital da Polícia Militar (HPM), onde permanece internado e sedado. Não é o único.  Segundo estimativas da Associação, atualmente, 500 militares fazem acompanhamento psiquiátrico. 
 
Entre as mortes registradas, está a da cabo Fernanda Ferreira Nunes, que tirou a própria vida em julho do ano passado, em Nova Itaparica, Vila Velha. Quatro meses depois, foi o soldado Bonomo, que já havia sido internado por problemas psicológicos. 
 
Dessa forma, qual tipo de segurança pública pretende o governo do Estado prestar aos cidadãos capixabas?  

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