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Meio Ambiente: vítima de guerra, mutilada, continuamente bombardeada

O Espírito Santo ainda é destaque em cobertura de Mata Atlântica nativa, mas se distancia cada vez mais de poder comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). 
 
Apesar da idade jovem do Estado, as gerações viventes não fazem ideia do quão extraordinário já foi o meio ambiente regional, especialmente seu “Caá-etê” – vocábulo indígena correspondente à “imensidão verde” das regiões de planície. Um passado recente, cujo alto contraste com a realidade evidencia uma devastação vertiginosa, marcada por queimadas e derrubadas metódicas em prol da monocultura do eucalipto. 
 
Os relatos detalhados dessa barbárie não se distanciam dos mais brutais filmes de guerra hollywoodianos. Dessa guerra apenas sobraram corpos mutilados, vulgarmente conhecidos como Reservas, Parques Municipais, RPPN e etc., e que continuam sendo molestados junto ao restante do meio ambiente brasileiro.
 
O ser humano se acostuma com o meio ambiente desarranjado; se acostuma a acreditar que “capoeiras” traduzem o sentido literal de “natureza” e “selvagem”; se acostuma a lavar alimentos com cloro na esperança de remover venenos agrícolas; a pescar em águas contaminadas. O ser humano se acostuma com a degradação. 
 
Essa capacidade de se adaptar (plasticidade) garante a sobrevivência do homem quando seu ambiente se altera para a pior, tendo ajudado a espécie humana a sobreviver ao longo de milhares de anos. Atualmente, a adaptabilidade do homem tem se mostrado propicia à manutenção de aspectos rudimentares da concepção de progresso implementada em nosso país, típica dos países de segundo mundo. 
 
Abrimos mão, então, do uso da maior vantagem evolutiva de nossa espécie, a sapiência, não implementando tecnologias estratégicas e soluções verdes necessárias. E, por consequência, nos forçamos a depender de nossos instintos primitivos, seja para aturar altos níveis de poluição nos centros urbanos ou até para sobreviver em condições desumanas face a catástrofes ambientais.
 
O costume à degradação ambiental afeta também a parametrização das medidas estratégicas de defesa ambiental. Isso permite, por exemplo, que mesmo o aumento quantitativo de práticas conservacionistas leve ao declínio qualitativo do ambiente natural. Há anos que essa questão transcendeu os livros de ecologia e, hoje, o uso equivocado de métodos conservacionistas visando expectativas preservacionistas tem somado à aplicação de medidas baseadas em “níveis toleráveis de degradação”. 
 
Não surpreendentemente, a precisão dos limites desses níveis de tolerância frequentemente traz impasses consensuais, turvando debates sobre depauperamentos pontuais na legislação ambiental, como recentemente vem acontecendo com o Código Florestal. Mas os fatores relacionados ao descumprimento/depauperamento da legislação ambiental parecem estar, na verdade, aquém de discussões ligadas a um conceito ambiental inadequado. Cada vez mais os escândalos políticos revelam a ligação entre favorecidos e favorecedores das legislações que autorizam crimes ambientais, evidenciando o desamparo do meio ambiente nacional. 
 
De fato, o Prof. Warren Dean alertou, na década de 1990, que a preservação do meio ambiente na região da Mata Atlântica, onde se inclui o Espírito Santo, dependeria da velocidade com que os meios e a vontade de preservar se acumulariam nos poderes de nossa república e, consequentemente, em nossa sociedade. Isso é o que podemos chamar de sonho republicano – o dia em que o Estado garantirá os direitos da natureza e da sociedade. 
 
Contudo, nós, inevitavelmente, esperaremos por esse dia até o final; mas a natureza não tem esse tempo todo. Ela não está esperando, não mesmo! Não é à toa que para para Augusto Ruschi, cientista familiarizado com a influência republicana nos processos de destruição ambiental no Espírito Santo, o tempo não será suficiente para salvar o meio ambiente capixaba. Não será suficiente para que os meios, tão pouco a vontade de se preservar, se acumulem nos poderes. 
 
Eis uma previsão que devemos falsear, pela qualidade da nossa vida e de nossos descendentes. E considerando que há pouco tempo os capixabas estiveram prestes a perder sua principal instituição de controle ambiental (Iema – Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) em detrimento de um projeto de lei estadual, devemos nos esforçar pessoalmente. 
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
Atenção: o Dia do Meio Ambiente vem aí! Palavras como conservação, biodiversidade e eco sustentabilidade voltarão à moda e podem passar a falsa impressão de que os problemas ambientais do Espírito Santo estão sendo controlados. Mas não se iluda. Vamos falar e refletir sobreo meio ambiente no dia 5 de junho, mas precisamos ir além durante os outros 364 dias do ano para conservá-lo verdadeiramente. 

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