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Movido a sal

Após conquistar o terceiro mandato, o governador Paulo Hartung (PMDB) avisou: “Vamos ter que comer um saco de sal em 2015”. O discurso pessimista, com contornos apocalípticos, era vital para “recolocar o Estado nos trilhos”. Era preciso “arrumar (novamente) a casa”, que fora “bagunçada” pelo antecessor, Renato Casagrande (PSB). 
Hartung edificava ali as bases de um novo projeto político, desta vez, pautado na austeridade. Uma espécie de projeto “Bombril”, aquele que tem mil e uma utilidades. 
Inicialmente, Hartung se preocupou em mostrar à população que herdara de Casagrande um Estado moribundo, à beira da morte. O cenário de terra arrasada foi atribuído aos “tropeços” fiscais do antecessor e à crise do País, que serviu para dar contornos reais a uma situação que não se refletia localmente da maneira como pintava Hartung.
Antes de sentar-se na cadeira e começar a governar, era importante para o peemedebista enaltecer a gravidade do enfermo. A imagem que precisava ser fixada na cabeça da população era do “paciente terminal”. A imagem chocante seria em seguida contrastada, dentro do argumento “barato”: antes e depois, semelhante ao usado nessas dietas miraculosas de emagrecimento. 
No final de 2015, Hartung fez um balanço vitorioso do seu primeiro ano de governo. Queria mostrar à opinião pública, dentro da lógica do “antes e depois”,  que sua terapia radical, à base de superdosagens de remédios amargos, havia salvado o paciente da morte iminente. Mas ainda havia risco de uma recaída. 
O discurso é versátil porque serve tanto para dentro como para fora. Para dentro, Hartung quer mostrar aos capixabas que Casagrande foi um governante irresponsável, que não merece uma segunda chance, que tem de ser riscado definitivamente da política. 
Serve também para coroá-lo como o “Salvador da Pátria”. Essa imagem tem sido importante para dizer não a todos aqueles que batem à porta do governo atrás de dinheiro. E a fila tem sido grande: sindicatos, prefeituras, Ministério Público, Tribunal de Justiça, cooperativas médicas…
Para fora do Estado, Hartung tenta consolidar a imagem de liderança moderna, responsável, amante da chamada boa política. O gestor que não quer ficar se engalfinhando por mesquinharias, mas que é propositivo, ético, conciliador. Aquele que põe sempre os interesses do País na frente de picuinhas políticas ou de questões partidária. 
A estratégia, aos poucos, parece que estão dando resultados. O esforço que Hartung fez durante o ano de 2015 para conquistar um lugar ao sol na grande mídia nacional começa a aparecer. A abertura da reportagem publicada no Valor na última terça-feira (26) confirma: “Governador do Espírito Santo, uma das poucas unidades da federação com as contas arrumadas, Paulo Hartung…”
Mas o governador comemora a conquista sem tirar os pés do chão. Ele quer o reconhecimento, é lógico, mas ao mesmo tempo não quer criar expectativa naqueles que estão de pires na mão na porta do Palácio Anchieta à espera do “faz me rir”. 
Nesta quarta-feira (27), a secretária da Fazenda, Ana Paula Vescovi, anunciou que a política de austeridade deu resultado. Nas contas do governo, o Estado economizou R$ 342 milhões em 2015. Logo após comemorar o resultado, porém, ela emendou que a situação “segue difícil” em 2016. 
Isso significa que o governo vai continuar com o freio de mão puxado e o Estado paralisado. Embora Hartung e Vescovi insistam que a guilhotina do governo tem poupado áreas essenciais (saúde, segurança e educação), os cidadãos, especialmente o mais humildes, têm sentido a lâmina da guilhotina entrar fundo na carne, seja nas filas infindáveis por atendimento nos hospitais públicos; seja na vulnerabilidade à violência (dado desta semana, a Grande Vitória foi a quadragésima primeira mais violenta do mundo em 2015), à qual são expostos diariamente; seja no processo de exclusão criado na educação com o incremento do programa Escola Viva, que vem provocando o fechamento de turmas e escolas em todo Estado. 
Nas entrelinhas do discurso do governador ficou claro que o arroxo segue firme em 2016 e a população deve se preparar para continuar comendo sal em quantidades industriais. Afinal, esse é o principal combustível do projeto político de Paulo Hartung neste terceiro mandato. 

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