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Na boca do povo

O clichê, a frase-feita, o lugar-comum, também conhecido como bordão, chavão, estereótipo, estribilho, nos persegue como uma praga, embora, francamente, há quanto tempo não se vê uma praga? Para bem escrever e melhor dizer, fuja deles como o diabo da cruz. Mas acredite se quiser, se as paredes falassem, também os usariam. Seja criativo e invente suas próprias alegações e comparações, sem confundir alhos com bugalhos.
 
Há clichês nobres, que repetimos por vontade própria, alguns até são considerados prova de alta erudição. Mas a maioria deles se intromete nos nossos dizeres sem pedir licença, e nem percebemos que estamos sempre batendo na mesma tecla. A mente também tem ouvidos moucos. Não usá-los sem ter algo novo para substituir é o mesmo que fugir da frigideira para cair no fogo. Mesmo se estiver chovendo cães e gatos. Ou a cântaros.
 
Embora dispensados a conta-gotas, eles escondem uma boa dose de sabedoria, e persistem pelo método vulgarmente conhecido como boca-a-boca, que não é a respiração de igual nome e teor. Devemos fugir deles como o vampiro foge da luz do sol, mas na verdade o sonho de todo escriba  é criar uma expressão que caia no gosto popular e se perpetue por si mesma pelos séculos a fora. Mesmo que a autoria não seja reconhecida e a fama se perca feito agulha no palheiro.
 
 
Além dessas e outras mais, alguns são reconhecidos no mundo todo, que nem Coca-Cola.  Outros se mantêm a nível nacional ou regional, que nem salada de fruta em festa de casamento. De qualquer forma,   são todos pássaros da mesma plumagem. Quem foi criado em berço de ouro pode sofrer uma amarga desilusão e acabar cego como um morcego, quer dizer, sem enxergar o óbvio ululante nem com lentes de aumento.
 
Num piscar de olhos tudo ficou como nos velhos tempos, pois a justiça tarda mas não falha. Essa é difícil de engolir, mesmo dourando a pílula, portanto, vai ver se estou ali na esquina.  Não beba toda sua taça de amarguras, deixe o último gole para o santo. Tem gente que vive no ócio, outros há que andam ocupados que nem abelha na colmeia. Me puseram contra a parede,  mas superei a cruel traição e dei a volta por cima. Antes tarde do que nunca, pois vingança é prato que se come frio. 
 
Foi como a calmaria depois da tempestade. Sob um céu negro como as asas da graúna, não encontrou um ombro amigo nem pra fazer simpatia. Onde anda, afinal, o decantado calor humano?  De agora em diante, será olho por olho, pelo menos até superar essa angústia existencial ou partir desta para a melhor. Que se ninguém voltou pra contar, como saber se é mesmo melhor? Cruze os dedos e torça por um final feliz, pois essa viagem não tem bilhete de volta.
 
Mas se a voz do povo é a voz de Deus, por que não repetir o que todo mundo repete? Imagina um campo de milho, animais, aves e insetos se deliciando, mas os humanoides preferem morrer de fome. Uma mulher mais teimosa pega uma espiga e põe no fogo… Pronto, descobriu o segredo do ovo de Colombo.  Todos olham para ela, invejando sua sorte,  mas ninguém come porque copiar as ideias alheias é plágio ou lugar-comum.
 
O fato é, por que queimar neurônios com tantas  frases-feitas por aí que resumem, em poucas palavras, o que se quer dizer?  Usando a sabedoria popular  não se vai despir um santo para vestir o outro. Pegue uma que caia como uma luva no seu discurso, e não tenha dúvidas, até um poste vai entender. Na verdade, muita água vai passar em baixo da ponte antes que se elimine os velhos e sempre repetidos clichês.

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