A partir desta terça-feira (16) os candidatos que disputam as eleições 2016 vão para as ruas e com eles uma dúvida inquietante: de onde virá o “faz me rir” que movimentará a roda milionárias das campanhas eleitorais deste ano? Há uma desconfiança pertinaz de que parte desse dinheiro virá do chamado “caixa 2”, tão demonizado nesses tempos de Lava Jato.
Da boca pra fora, os candidatos tem feito projeções modestas de gastos. Afirmam que pretendem gastar bem abaixo do teto estipulado pela Justiça Eleitoral, que se transformou numa referência quase utópica nesses tempos de vacas magras.
Apesar do discurso franciscano, nos bastidores do mercado político se comenta sobre as “saídas criativas” para burlar a legislação. Há quem defenda que as mudanças impostas pela minirreforma eleitoral, que veta, por exemplo, as doações de empresas a candidatos, não serão capaz de moralizar o processo eleitoral. Pior, causarão ainda mais distorções. Os mais céticos acreditam que a experiência deste ano servirá como argumento para provar que o modelo não funciona, retomando ao formato antigo nas eleições de 2018.
Há, porém, uma interpretação equivocada sobre a falta de dinheiro e os meios “pouco ortodoxos” para fazer o recurso chegar ao candidato. Com a crise econômica, independentemente das mudanças nas regras, seria difícil para o candidato levantar recursos. Aliás, nunca foi fácil. Basta olhar para o tanto de políticos que ainda não quitaram suas dívidas de pleitos anteriores, e que estão, inclusive, sem crédito na praça.
As lições da Lava Jato, as mudanças na legislação e o maior controle e transparência dos gastos de campanha não impedem que os meios empresariais continuem tratando o financiamento de campanha como um “investimento”. É desse “investimento” que vão sair os contratos com o poder público e se construirão os lobbys que assegurarão os interesses dos grupos empresariais. Ou alguém ainda alimenta a ilusão de que há empresários pondo dinheiro em campanhas apenas por identificação ideológica com o candidato?
Quando se olha mais profundamente para dentro do Congresso fica cristalino o loteamento de interesses. Para cada importante setor empresarial, há uma bancada correspondente. Destaque para os “feudos’ dos empresários do comércio, serviços e indústria, do agronegócio, dos planos de saúde e laboratórios farmacêuticos, das teles, dos grandes grupos de comunicação, das escolas e universidades privadas ou das instituições financeiras.
Boa parte do PIB está nas mãos destes segmentos empresariais. São eles que movimentam os grandes lobbys no Congresso em troca de vantagens. No ambiente menos macro das assembleias e das câmaras municipais a lógica não é diferente. Os territórios também são demarcados, e isso se estende também aos chefes dos executivos municipais e estaduais.
Resta ao eleitor a dura missão de identificar em meio a esse emaranhado de interesses quais são de fato os políticos independentes, que querem conquistar um mandato com o único intuito de representar prioritariamente os interesses do povo.
Porque, embora seja o povo, em tese, que tem o poder do voto, ele é, geralmente, o último a ser representado nessa cadeia de interesses. O voto direto, sempre enaltecido como símbolo máximo de uma democracia, ainda está longe de cumprir sua função republicana.
Quem vota, em última análise, é o povo. Mas o voto já tem dono antes mesmo de cair na urna. O político eleito, via de regra, é apenas instrumento desses grupos, que continuarão comandando as regras do jogo com ou sem financiamento (“oficial”) privado de campanha.
As novas regras acabam estimulando o “caixa 2”, tornando esse jogo de interesse ainda mais velado.