Tarso Genro, um dos mais argutos pensadores da esquerda brasileira, acaba de publicar no site do Sul21 um decálogo em que resume a pregação dos adeptos do Estado mínimo, aqueles que abominam a intervenção governamental na economia e em outros setores como a educação e a saúde.
É uma síntese que serve como advertência quanto ao processo de manipulação política vivido pelo Brasil desde a eleição de Dilma Rousseff em fins de 2014.
Segundo Genro, que foi prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul e ministro da Educação e da Justiça no governo Lula, mas não tem influência na atual direção do PT, a orquestração neoliberal se faz nos seguintes termos:
Primeiro, diz que o Estado está “quebrado”.
Segundo, diz que o “custo” dos serviços públicos é o culpado da situação.
Terceiro, afirma que “o Estado é corrupto”, os grandes empresários é que são honestos e que a sonegação é “legítima defesa”.
Quarto, alardeia que o Estado “é pesado” e que as empresas públicas e outras instituições do Estado – eficientes ou não – devem ser privatizadas, para que eles, os grandes empresários — além dos subsídios estatais com os quais fizeram as suas fortunas — também abocanhem mais esta fatia da renda pública.
Quinto, informa, pela mídia tradicional “companheira”, que os principais entraves econômicos do país estão na “legislação trabalhista arcaica” e nos “excessivos” direitos de que dispõem os trabalhadores.
Sexto, culpa o comunismo, a social-democracia ou as políticas sociais “paternalistas” pelo “excesso” dos gastos públicos.
Sétimo, outorga à esquerda e ao campo reformista progressista o “monopólio da corrupção”.
Oitavo, torna a recessão uma necessidade “técnica”, pois, quando a economia chegar ao fundo do poço – depois de mais fome, miséria, crimes, crianças nas esquinas, doentes ao relento –, haverá uma pequena reação no crescimento, que será apresentada como início da “recuperação”.
Nono, integra a mídia tradicional no seu projeto, para explicar que “todos podem ser patrões de si mesmos” e que as coisas já “estão melhorando”.
E décimo, esconde o fato que de que eles, os neoliberais, têm uma aliança carnal com a corrupção, porque sem essa aliança não derrubariam um Governo legítimo, nem formariam a base, no Congresso, para fazer as suas reformas predatórias.
Pode haver um ou outro exagero retórico aqui ou ali, mas tudo é verdade nesse roteiro didático.
Mais do que uma descrição, o decálogo de Genro é uma denúncia do método de trabalho que, infelizmente, vem conquistando espaço no Brasil e conta com o apoio da classe média e até com a resignação das massas trabalhadoras do funcionalismo público e da iniciativa privada, forças que parecem dispostas a aceitar passivamente que as classes não possuidoras devem sujeitar-se às humilhações impostas pelos capitalistas, inclusive a de não reclamar direitos sociais ou trabalhistas vistos em todo o mundo civilizado como conquistas inalienáveis dos que, sem patrimônio rentável, precisam viver da prestação de serviços. No caso brasileiro, sem garantias.
Em algum momento futuro, virá a inevitável reação dialética da História que pode vir logo, já que eleições se prestam a isso.
LEMBRETE DE OCASIÃO
'Quem quiser governar o Brasil precisa botar o pobre no Orçamento. Se o pobre tiver crédito, a economia vai funcionar de uma maneira saudável”.
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil

