Domingo, 05 Mai 2024

O preço da blindagem

Durante a Operação Derrama, que atingiu o seu clímax com a prisão dos ex-prefeitos, o deputado Thedorico Ferraço, um dos investigados, viu o chão se abrir ao seu redor. A decretação da prisão da sua mulher, a ex-prefeita de Itapemirim, Norma Ayub, era o golpe que faltava para abater de vez o presidente da Assembleia, que parecia estar prestes a jogar a toalha.

 
Mas é justamente nessas horas mais difíceis que os verdadeiros aliados aparecem para acudir os desvalidos. O chefe do Ministério Público Estadual, Eder Pontes, foi um dos que demonstraram lealdade a Ferraço no momento mais adverso do cachoeirense. 
 
No seu parecer sobre o inquérito da Derrama, Pontes poderia ter enterrado de vez as pretensões de Ferraço, que à época tentava salvar a sua reeleição à presidência da Assembleia - nessa altura do campeonato já ameaçada pelos estilhaços da Derrama -, mas o procurador-geral de Justiça ainda faria mais. 
 
Além de não denunciar o deputado, Eder Pontes pediu a revogação da prisão de Norma, o que, naquele momento, tinha um efeito simbólico. Se a mulher de Ferraço estava sendo solta, era porque as evidências contra ela eram vazias. Por dedução lógica, Ferraço, que estava sendo apontado como o grande mentor do esquema de cobrança ilegal de tributos por meio da consultoria CMS, consequentemente, também era inocente. 
 
No final das contas, a manobra de Pontes acabou salvando Ferraço. Reeleito presidente da Assembleia, as investigações contra o deputado tendem a ficar cozinhando em banho-maria, pelo menos até o final de seu mandato, em 2014. Mesmo porque, nem o governador Casagrande nem os deputados, eleitores de Ferraço, querem ver o presidente da Assembleia envolvido em novos escândalos, pelo menos até as eleições 2014. 
 
Toda essa engenharia da blindagem desenhada por Pontes, no entanto, tem um preço. E não é barato. Com a senha número 1 na mão, o chefe do MP foi o primeiro a bater à porta do presidente da Assembleia. Nas mãos, ele traz um “pacotão de benefícios” do MP para ser aprovado pela Casa comandada por Ferraço. 
 
A hora não poderia ser mais apropriada para Pontes sacar a lista de pedidos, mesmo os mais impróprios. No meio do “pacotão”, por exemplo, o chefe do MPES – na contramão do compromisso da administração pública de reduzir o número de comissionados - propõe a criação de 90 vagas de assessor de promotoria, cargo de provimento em comissão que terá um salário maior do que o pago aos atuais efetivos, que desempenham idêntica função. 
 
A manobra, que alimenta o fisiologismo no órgão ministerial, deve causar um impacto de R$ 8 milhões aos cofres públicos apenas este ano. Pela proposta de Pontes, os futuros assessores comissionados deverão receber mais de R$ 10 mil mensais - mais que o dobro do que os vencimentos pagos hoje aos servidores efetivos, que recebem em média R$ 4 mil. 
 
A proposta, de tão descabida, gerou descontentamento interno na instituição. A reportagem de Século Diário teve acesso a mensagens trocadas por membros do MPES criticando o pacote de Pontes. 
 
O desabafo de uma das mensagens ilustra o clima de tensão que existe hoje dentro da instituição. “É um tapa na cara, uma ofensa, uma provocação, um desprezo escancarado por nosso cargo e por nossa ousadia de tentar questioná-los”.
 
Esse descontentamento com a gestão de Pontes, também foi manifestado durante a Operação Derrama, quando alguns membros do órgão desaprovaram o parecer do procurador-geral, que desqualificou as investigações da polícia e articulou as manobras para blindar o presidente da Assembleia e os ex-prefeitos envolvidos no esquema. 
 
Ferraço, que já conduz os trabalhos na Assembleia como se nada tivesse acontecido, deve usar sua força dentro da Casa, já restabelecida, para aprovar o “pacotão” de Pontes. Águia por natureza e fisiológico por vocação, Ferraço sabe que as coisas no mundo (sujo) da política funcionam assim. Chegou a hora de honrar a dívida com seus credores. Dívida que, no final das contas, será paga pela população. 

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